Continua após publicidade

60ª Bienal de Veneza terá mostra brasileira com curadoria indígena

Mostra de Glicéria Tupinambá tem curadoria de Arissana Pataxó, Baniwa e Gustavo Caboco; Exposição também renomeia o Pavilhão Brasil para Hãhãwpuá

Por Laís Franklin
Atualizado em 7 nov 2023, 15h02 - Publicado em 1 nov 2023, 18h25

A participação brasileira na 60ª Bienal de Veneza tem uma grande mudança de resgate ancestral dos povos originários. O Brasil vai marcar presença com a exposição Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam, da artista Glicéria Tupinambá (Vencedora do Prêmio PIPA 2023) e convidados.

A curadoria é assinada também pelos indígenas Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana. A mostra também renomeia o Pavilhão Brasil para Pavilhão Hãhãwpuá: “Hãhãw” significa “terra” na língua patxohã. O nome “Hãhãwpuá” é usado pelos Pataxó para se referirem ao território que, antes da colonização portuguesa, era conhecido como Brasil, mas que já teve muitos outros nomes.

Estrangeiros em seu Hãhãw (território ancestral), os Tupinambá eram considerados extintos até o ano de 2001, quando finalmente o Estado Brasileiro reconhece que os Tupinambá não só nunca haviam sido exterminados, como estão ativos na luta para reaver seu território e parte de sua cultura que fora retirada pela colonização.

Continua após a publicidade

“Em Tupi antigo, idioma dos Tupinambá, Ka’a Puera são antigas florestas derrubadas para se plantar roças. Após a colheita, esse espaço fica em repouso, surgindo assim um lugar com uma vegetação mais baixa. Ao primeiro olhar, esse espaço pode parecer infértil e inóspito, porém é na capoeira que está uma grande variedade de plantas medicinais. E, com o solo em recuperação, logo poderá ser uma nova roça para sustento da comunidade ou uma nova floresta. Onde aparentemente não há vida, é a possibilidade do ressurgimento. Porém, capoeira é também conhecida pelo povo Tupinambá como uma pequena ave que vive em densas florestas, possui suas penas de tons marrom, laranja e cinza que camuflam o pássaro no solo da mata”, explicam os curadores em comunicado de imprensa oficial da Fundação Bienal de São Paulo.

A exposição também propõe “que nos lembremos daqueles que estão à margem, desterritorializados, invisibilizados, encarcerados, violados de seus direitos territoriais, porém que nos chamam para a resistência, acreditando que, somos humanos-pássaros-memória-natureza, porque, sempre existirá a possibilidade de ressurgimento e resistência”, finalizam.

Publicidade