88 anos de Hélio Oiticica: Como o artista continua atual?
Nascido no Rio de Janeiro, em 1937, foi um dos artistas mais inovadores e radicais de sua geração

Um dos grandes nomes da arte brasileira do século XX, Hélio Oiticica completaria 88 anos neste 26 de julho. Nascido no Rio de Janeiro, em 1937, foi um dos artistas mais inovadores e radicais de sua geração, responsável por transformar profundamente o entendimento sobre o papel da arte na sociedade. Idealista e inquieto, Oiticica desafiou as convenções estéticas ao propor a dissolução das fronteiras entre arte e vida, gesto que lhe rendeu tanto críticas quanto elogios.
Ao lado de nomes como Lygia Clark e Lygia Pape, Oiticica defendia uma arte participativa, em que o público deixasse de ser mero espectador para se tornar agente ativo na obra. Essa ideia se materializou em sua produção a partir dos anos 1960, especialmente com os “Parangolés”, capas de tecido coloridas que só se completam com o movimento do corpo, e com instalações sensoriais que convidam à imersão física e afetiva.
Sua trajetória começou no Grupo Frente (1955–1956), coletivo carioca que buscava romper com a arte figurativa em direção à abstração geométrica e ao construtivismo. No entanto, Oiticica rapidamente superou os limites do concretismo, aderindo ao movimento neoconcreto, que propunha uma arte mais subjetiva, orgânica e relacional.

O estilo de Hélio Oiticica é marcado pela experimentação com materiais não convencionais, pela fusão entre arte visual, performance e arquitetura, e pela valorização das expressões populares brasileiras — como o samba, o carnaval e a vida nas favelas — como formas legítimas de invenção estética. Suas obras têm forte caráter político, sobretudo ao destacar corpos e sujeitos marginalizados, como revela sua célebre frase-manifesto: “Seja marginal, seja herói”. Criada em 1968 como parte de uma obra homônima, a expressão se tornou um dos lemas mais provocativos da arte brasileira durante a ditadura militar, em homenagem a Cara de Cavalo, jovem negro morto pela polícia, cuja imagem Oiticica transformou em ícone de resistência.
Sua sexualidade — fluida, desviante das normas e integrada ao seu gesto artístico — atravessa sua obra como força de invenção, desejo e transgressão. A celebração do corpo, a sensualidade e o prazer sensorial presentes em suas instalações e performances expressam, também, uma maneira radical de afirmar o direito à diferença.
Entre suas obras mais conhecidas, destacam-se:
Parangolé (1964–1968): Capas e estandartes feitos de tecido, plástico e outros materiais, pensados para serem vestidos e dançados. Unem arte, corpo e movimento, questionando a ideia de obra como objeto estático.

Tropicália (1967): Instalação sensorial que propõe uma experiência imersiva com plantas, areia, galinheiro, TV e poesia, antecipando o movimento tropicalista na música. Convida o público a percorrer o espaço e refletir sobre a cultura brasileira.

Seja marginal, seja herói (1968): Obra-manifesto que apresenta a imagem de Cara de Cavalo com a inscrição do título. A obra é uma denúncia poética e política da violência do Estado e uma ode aos excluídos.

Oiticica morreu precocemente, aos 42 anos, em 1980, mas sua obra segue sendo referência incontornável na arte contemporânea — tanto no Brasil quanto no exterior — pela ousadia formal e pelo compromisso com a liberdade, o corpo e a invenção coletiva.