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Após perder 80% de seu acervo, Bob Wolfenson fala sobre restauro

Arquivo de Bob Wolfenson carrega décadas de história da arte e cultura

Por Laís Franklin
Atualizado em 15 dez 2023, 12h19 - Publicado em 1 dez 2023, 11h28
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 (Helena Wolfenson/divulgação)
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Em 2020 o fotógrafo Bob Wolfenson se viu diante de uma tragédia quando mais da metade do seu arquivo pessoal foi devastado durante uma tempestade que inundou seu estúdio. A situação foi compartilhada por ele e logo viralizou nas redes sociais. Ele era composto, em sua maioria, por ampliações fotográficas, por fotos analogicas. Depois de 2007, comecei a trabalhar só com digital e essa parte não foi atingida já que estava em HD, em uma altura diferente. Estamos falando então de 35 anos de trabalho. Quando eu vi a inundação eu pensei: Perdi minha história aí, uma boa parte dela”, conta Bob em entrevista à Bravo!.

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(Helena Wolfenson/divulgação)

No mesmo dia da inundação, o consultor de conservação de fotografias Leandro Lopes Pereira de Melo iniciou o processo de recuperação das imagens. Mas para que a restauração fosse completada, um apoio financeiro tornou-se necessário. O escritório especializado em leis de incentivo, IC Cultura, entrou no projeto, obtendo aprovação via projeto de lei, que permitiu a Bob Wolfenson viabilizar todos os custos relacionados a profissionais e equipamentos necessários.

Passados três anos, neste sábado (2/12), às 15h30, Bob Wolfenson e sua equipe vão apresentar os detalhes do longo processo de restauração dos negativos na palestra Sobrememória um acervo em resgate. O evento acontece no Teatro Porto com entrada gratuita. São fotos analógicas tiradas pelo retratista nas décadas de 70, 80, 90, 2000, que carregam uma parte da história da arte e da cultura nacional.

Bob ressalta ainda a importância do trabalho de profissionais especializados no que chama de “ciência do restauro” para a proteção da nossa hostória e pontua que apenas 10% foi perdido totalmente. “(A ideia) de arquivo tem uma cara meio de morte mesmo, pelo menos para mim. De que é algo que não vai ser mexido mais, que vai ficar parado. Agora, meu arquivo está ganhando vida e eu estou acompanhando e relembrando dos momentos. Aliás, é impressionante como eu me lembro de tudo, com exceção de poucas coisas. Tem sido realmente gratificante”, anima-se o fotógrafo.

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(Helena Wolfenson/divulgação)

Confira abaixo mais detalhes sobre esse importante trabalho de resgate e preservação fotográfica:

Em 2020 uma forte chuva e inundação comprometeram 80% do seu acervo fotográfico: como ele era composto?
Ele era composto, em sua maioria, por ampliações fotográficas – fotos analogicas – porque depois de 2007 eu comecei a trabalhar só com digital e essa parte não foi atingida porque estava em HD, em uma altura diferente. Estamos falando então de 35 anos de trabalho.

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Poderia nos contar quais foram os ensaios ou retratos de personalidades da cultura que foram fundamentais na sua carreira e foram recuperados durante esse processo de restauro?

Quando eu vi a inundação, logo pensei: Perdi minha história aí, uma boa parte dela, mas quando houve esta luz dada pelo Instituto Moreira Salles, na figura do Sergio Burgi que me procurou voluntariamente por entender que o arquivo não era só meu e sim da cultura nacional, como você mesmo menciona. São registros da cultura brasileira das décadas de 70, 80, 90, 2000.

O IMS destinou uma equipe de dez pessoas para o processo inicial de colocar tudo em um freezer porque há uma bibliografia que diz que se você congela o processo antes da deterioração você consegue o resgate. Agora estamos vendo que isso é mesmo verdade.

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(Helena Wolfenson/divulgação)
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O escritório especializado em leis de incentivo, IC Cultura, conseguiu aprovação para um projeto de lei que permitiu viabilizar todos os custos relacionados a profissionais e equipamentos necessários?
O IC Cultura fez todos os trâmites mas o patrocínio quem conseguiu fui eu porque já tinha uma relação sólida com a Porto Seguro. Em 2018 realizei uma grande exposição de retratos com eles.

O que você pode nos adiantar sobre o processo de restauro?
O que eu posso adiantar sobre o processo é que ele está em curso, eu estou muito feliz, tem sido auspicioso porque eu mesmo estou vendo coisas que talvez não veria mais porque o arquivo tem uma cara meio de morte mesmo, pelo menos para mim. De que não vai ser mexido mais, que vai ficar aquilo parado. Me vem à cabeça as partições com grandes arquivos. Neste exato momento meu arquivo é o oposto. Está ganhando vida e eu to acompanhando e relembrando dos momentos. Aliás, é impressionante como eu me lembro de tudo, com exceção de poucas coisas. Tem sido realmente gratificante.

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(Thea Severino/divulgação)
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Conseguiram recuperar o acervo em sua totalidade? Teve algo que, infelizmente, se perdeu definitivamente?
Sim, 10% se perdeu definitivamente. Mas foi pouco. É um resultado maravilhoso para quem já estava considerando perder tudo.

O que ficou de aprendizado de toda essa experiência?
O aprendizado foi nunca mais deixar nada em lugares em que a água possa atingir. Além de ter descoberto um mundo aparte com este resgate do meu acervo. O processo de restauro é uma ciência maravilhosa, com uma equipe dedicada à preservação de todos os tipos de acervos. São profissionais empenhados e concentrados em detalhes minuciososos que eu não tinha noção. Conviver com a equipe foi muito educativo. Afora isso, consegui realizar um trabalho em cima desta tragédia. Fiz uma exposição SUB/EMERSO, que está em cartaz até dia 5 de dezembro no Senac e mostra as imagens com este novo olhar atingido pelas águas.

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