Avatar do usuário logado
OLÁ,

Artistas do agora

Bravo! convidou 13 jovens artistas para dividirem obras inéditas e refletirem sobre o que a arte brasileira precisa na contemporaneidade.

Por Laís Franklin, Humberto Maruchel e Laís Brevilheri
Atualizado em 4 jun 2025, 13h56 - Publicado em 3 jun 2025, 11h49
bravo-especial-artes-lançamento-pinacoteca-evento
 (Studio See You/fotografia)
Continua após publicidade
revista-bravo-digital-artistas-ana-claudia-aleida
Aperto / 116.8 x 184.2 cm, 2024 (Oil pastel and acrylic medium on cotton fabric) (Ana Claúdia Almeida / Foto: Pat Garcia/Redação Bravo!)

Ana Cláudia Almeida

@anaclaudiaalmeida | anaclaudiaalmeida.com | 1993

revista-bravo-digital-artistas-ana-claudia-aleida
(Ana Claudia Almeida / Marina Lima/divulgação)

Artista carioca interessada em explorar materialidades através do movimento e da gestualidade. Seu trabalho incorpora papel, plástico, pastéis e óleo, abrangendo meios, como pintura, vídeo e escultura. Co-fundadora do coletivo Trovoa, suas investigações envolvem a tensão dinâmica entre interior e exterior, bem como a relação entre natureza e paisagens urbanas, além de analisar sistemas sociais de religião, gênero e sexualidade. Formada em Desenho Industrial pela UERJ e Virginia Commonwealth University, atualmente está cursando Mestrado em Pintura, em Yale.

 

 

revista-bravo-digital-artistas-ana-claudia-aleida
Da esquerda para direita: Empasse, dimensões variadas, 2025 / Untitled 61 x 94 cm, 2025 (Acrylic, oil pastel, paraffin) / Vista da Instalação (Pat Garcia/reprodução)

“O que a arte contemporânea brasileira precisa hoje é de investimento público em centros culturais, incentivos para artistas independentes e programas de fomento para as periferias, distribuídos de maneira justa por todo o país. Artistas precisam de oportunidades de desenvolver suas pesquisas sem depender exclusivamente de galerias e da iniciativa privada. Quando há liberdade, a linguagem desabrocha. O meu trabalho é apenas o exercício individual da busca pela liberdade, mas, para transcender o individual”

Ana Cláudia Almeida
revista-bravo-digital-artistas-carlos-duncan
Interstício / 2025 / Óleo e acrílica sobre tela / 20 x 30 cm (Carla Duncan/Redação Bravo!)

Carla Duncan

@carlacris.duncan | 1992

revista-bravo-digital-artistas-carlos-duncan
(Carla Duncan / Felipe Perazzolo/divulgação)
Continua após a publicidade

Investiga a dialética entre restrição e possibilidade da experiência urbana da Amazônia contemporânea. Seu trabalho inclui pintura e murais. Expôs seu trabalho em instituições como Salão de Artes Edgar Contente, Estação Cultural de Icoaraci e Salão das Artes de Guararema e realizou pinturas murais de grande formato para a Fundação Cultural do Pará, em Belém/PA, e para o Festival NALATA, em São Paulo/SP. Recentemente teve seus primeiros trabalhos adquiridos por instituições museais, como o FAMA Museu, em Itú, e a Prefeitura de Araraquara por meio do Salão de Arte da mesma cidade, além de receber um primeiro prêmio do Banco da Amazônia. Atualmente é representada pela OMA Galeria.

“Precisamos, antes de tudo, fortalecer o diálogo entre o público e os espaços de arte como: museus, instituições e galerias. É importante desvelar esse sistema, que muitas vezes é complexo e inacessível, e aproximar as pessoas do direito à fruição artística. Arte não é só para especialistas, é parte da vida, é um espaço de encontro, de questionamento, de pertencimento. Acredito que principalmente no meu trabalho com mural isso aparece muito claramente: busco levar a pintura para os espaços públicos, ocupando muros, paredes, ruas. Ao mesmo tempo, faço um movimento duplo, criando um diálogo entre rua e galeria. Não busco apagar as contradições nem suavizá-las em algo homogêneo, procuro habitar essas tensões, essas zonas de encontro onde as diferenças permanecem visíveis e vibrantes, acredito ser uma forma de abrir espaço para poéticas que convidem as pessoas a olhar com mais calma, resistindo à pressa e ao apagamento do nosso tempo.”

revista-bravo-digital-artistas-carlos-duncan
(Carla Duncan/reprodução)

“A pintura compartilhada com esta Bravo! foi inspirada na região da Campina, em Belém do Pará, onde fica o comércio, um lugar de ruas estreitas e super movimentadas. Trabalho com uma estética fluida, onde figuras e objetos se misturam, se perdem e se encontram novamente. As pinceladas variam entre grossas, bem marcadas, com textura visível, e áreas mais ralas e aguadas, criando contrastes que dão respiro à superfície, quase como se a matéria da tinta também participasse dessa dinâmica: ora densa, ora leve, acompanhando os fluxos do espaço e participando dessa movimentação. Apesar dos limites claros entre os elementos, é preciso chegar perto para perceber os detalhes que emergem aos poucos, num jogo entre o que se revela de imediato e o que fica quase escondido, acredito que funciona como um convite para entrar nesse universo simbólico. É um fragmento de um projeto maior que busca lançar luz sobre a potência cultural desses territórios.”

revista-bravo-digital-artistas-elisa-carareto
Falange / 2022 / Políptico / Desenho / Nanquim, aquarela líquida sobre papel hanshi 28 g/m² / 146 x 146 cm (Elisa Carareto/Redação Bravo!)
Continua após a publicidade

Elisa Carareto

@ecarareto | 1986

revista-bravo-digital-artistas-elisa-carareto
(Elisa Carareto/divulgação)

Artista e ilustradora de Ribeirão Preto, é bacharel em Imagem e Som pela UFSCar. Em seu trabalho, investiga a interação entre diferentes materiais e ferramentas. Sua prática mescla desenho, pintura e gravura com foco na abstração formal e na valorização do caráter biomórfico e impreciso de linhas e formas gestuais. Atualmente desenvolve uma pesquisa intitulada Falange, na qual o desenho é chave para a construção de representações do plural e do singular.

revista-bravo-digital-artistas-elisa-carareto
(Elisa Carareto/reprodução)

“A ideia de conflito é vivida no processo de construção das imagens que pesquiso. Falange é uma reflexão sobre a existência e/ou permanência do sentido da guerra nas relações indivíduo-corpo-sociedade. A origem etimológica de falange remete a uma formação de infantaria. Foi a imagem de lanceiros enfileirados em blocos de batalha que serviu de metáfora para nomear os ossos que compõem as mãos humanas. Falange é, portanto, imagem militar introjetada nos corpos e se encontra presa a um paradoxo na medida em que também designa multidão, carregando assim os significados complementares da opressão e sua contra-ação direta, a insurgência. Em um percurso que inicia na vontade de repetição e padronização através do desenho, tintas de corpo leve encharcam o papel delicado, testando seus limites físicos e produzindo manchas inesperadas. Mas ao contrário da guerra, que maneja a serialidade visando aniquilar tudo aquilo que é diferente – inimigo –, meu objetivo é repetir para produzir renovação.”

revista-bravo-digital-artistas-felipa-damasco
Retrato série / “A minha , a sua e a nossa” (Felipa Damasco/Redação Bravo!)
Continua após a publicidade

Felipa Damasco

@damascozzz

revista-bravo-digital-artistas-felipa-damasco
(Felipa Damasco / Jup do Bairro/divulgação)

Artista multimídia que dialoga através da imagem, da pintura simples, da palavra, dos objetos escultóricos e da performance. Com formação no ballet clássico e contemporâneo, integrou companhias de dança até se desenvolver em outras frentes criativas como moda, produção cultural, arte-educação e direção de arte, carreira que atua atendendo a diversos clientes comerciais em paralelo ao desenvolvimento de sua pesquisa e corpo de trabalho autoral. Nas Artes Visuais, Felipa desenvolve uma pesquisa de investigação pessoal, política e de delicado cunho crítico e denunciativo, pensando raça, territorialidade, ancestralidade histórica e seus desdobramentos nas coreografias sociais contemporâneas.

revista-bravo-digital-artistas-felipa-damasco
(Felipa Damasco/reprodução)

Texto-manifesto da obra
Eu preciso começar dizendo que o tempo passa e acumula volume sobre aquilo que já foi, um volume quase translúcido, plácido e comum.
Você acha que não estou pronta pra falar, e eu aqui em frente a mim mesma, também acho que não. Sejamos francas, pra não sermos no fim, páginas tão brancas, sem histórias, sem passado.
Tem uma série de coisas que deveriam importar pra gente começar essa história de forma justa. O fluido mais profundo já está quase rígido, escondendo em seus cristais verdades e segredos antigos.
Como por exemplo , o fato de que um milhão de facas estão sendo afiadas agora mesmo, cada uma com um propósito.
A que diz respeito a mim tem o propósito simples de cortar pela raiz o que impede de emergir , as grandes dúvidas.
Como essa por exemplo: quem alimenta um país?
E o interessante de quando esse tipo de questionamento vem a tona, é que ele vem trazendo novas perguntas e algumas novas respostas, aumentando gradativamente o volume sobre a imagem de vida aqui apresentada.
Sou eu apenas a face do encontro, entre dois micro complexo-cosmos?
Mesmo sem nenhuma gota do leite tocando minha língua? Essa aliás que perde a cada dia o gosto por aquilo que não cai bem.
Assim como aquelas histórias mal contadas que vão direto pro buraco do esquecimento, na garganta, no estômago.
E os meus estão cheios dessas, porque vocês sabem como é…
Era 1992, e um alto poder dizia e não dizia, brincava de ser a garganta que abre e fecha os caminhos, e sem medo mexia nas peças de um grande jogo, de facas já afiadas.
“Mais um tanto de volume! Por gentileza? Não vou conseguir contar essa história com a garganta seca.”
Pedi eu, a quem serve as coisas por aqui.

———————————leite de mãe———————————

Continua após a publicidade

A mente de quem bebeu, ou não, o leite que era meu, ficou sob a dúvida:
O que é “Mãe de leite”?
Esse conceito diz muito sobre como um país se alimenta.
Fala em palavras únicas: liberte a dúvida.
O propósito dessa faca?
Exigir: Pague a dívida.
Antes do final do segundo volume, eu quase pronta pra contar aquela história, decidi te olhar no fundo dos olhos e perguntar:
“Você meu país, está com fome?”
———————————mãe de leite———————————

Passaram 30 anos até aqui, e parece que quase não cabe mais volume. Aquele translúcido, plácido e comum.
Sabe que quando eu choro,
ela não vê, né?
Seja pelo fato de que muito volume me cobre o rosto , ou porque um sorriso esconde a verdade da faca afiada a tempos atrás.
Mas sendo franca novamente,
acho que é porque ela já não está mais aqui.
———————————mãe?———————————

revista-bravo-digital-artistas-flavia-junqueira
ENGENHO DE PIRACICABA / 1881, 2023 (Flavia Junqueira/Redação Bravo!)

Flavia Junqueira

@flavia_junqueira_ | 1985

revista-bravo-digital-artistas-flavia-junqueira
(Flávia Junqueira/divulgação)

Doutora em Artes Visuais pela UNICAMP e mestre em Poéticas Visuais pela USP, sua produção artística parte da fotografia encenada como linguagem para investigar a relação entre memória, arquitetura e tempo. Em sua obra, o real e o imaginado, o presente e o passado, o concreto e o simbólico se entrelaçam em cenas que transformam espaços históricos em palcos para o efêmero. Inserindo balões, bolhas de sabão e brinquedos de parque de diversão — todos produzidos ou acionados manualmente no local — Flávia desafia a rigidez de patrimônios arquitetônicos com gestos de suspensão, fragilidade e brilho momentâneo.

Continua após a publicidade

“Acredito que precisamos assegurar que a arte guarde seu caráter de ‘exercício experimental da liberdade’, como formulou Mário Pedrosa. É muito difícil sustentar, no mundo em que vivemos, um campo que se mantenha alheio aos modismos, demandas e tendências que marcam o ritmo da nossa sociedade, mas penso que, em suas brechas, a arte possui uma enorme reserva de liberdade.

revista-bravo-digital-artistas-flavia-junqueira
(Flavia Junqueira/reprodução)

A fotografia encenada, linguagem com que venho trabalhando desde minhas primeiras séries, mostrou-se um terreno muito fértil para minha imaginação. Por meio dessas imagens, tenho elaborado, há quase 20 anos, as questões artísticas e existenciais que definem minha produção. A possibilidade de compor essas imagens in loco me permite embaralhar os planos da realidade e da fantasia, categorias que são separadas de modo muito radical quando nos tornamos adultos.

revista-bravo-digital-artistas-flavia-junqueira
(Flavia Junqueira/arquivo pessoal)

Há muitas questões e temas que comparecem nas minhas obras e que eu acredito que possam contribuir com os debates do nosso tempo: o lugar do infantil na cultura, a crítica do projeto moderno com suas noções controversas de progresso e desenvolvimento, o recalque da tradição ornamental etc. Entretanto, não penso que o mais importante no campo da arte esteja relacionado a um tema, pauta ou discurso específico. Acredito que precisamos, enquanto sociedade, garantir condições para que a criação artística, em todas as suas vertentes e modalidades, seja esse ‘exercício experimental da liberdade’”.

revista-bravo-digital-artistas-helena-obersteiner
Estudo Jardinal / Lã, barbante, cerâmica e latex / 2023 (Helena Obersteiner / Foto: Pablo Saborido / Assistente: Ruth Oliveira/Redação Bravo!)

Helena Obersteiner

@helenaobersteiner | 1993

revista-bravo-digital-artistas-helena-obersteiner
(Helena Obersteiner/divulgação)

Artista visual transdisciplinar e pesquisadora do desenho no campo expandido que compreende a educação como um ato de urgência e responsabilidade. É conhecida pelo curso Desenhos Feios, criado em 2019, e também pelo podcast Erra Quem Faz, que trata de conversas sobre o erro no processo de criação. No ateliê, pesquisa a relação dialética entre organização e espontaneidade por meio da interação com materiais como tecido, gesso, látex e papel, além de usar técnicas alternativas de impressão, máquinas de tatuagem, costura e tapeçaria. Paralelamente, ela desenvolve trabalhos de ilustração, estamparia, design de produto e direção criativa.

revista-bravo-digital-artistas-helena-obersteiner
(Helena Obersteiner/arquivo pessoal)

Encontro no desenho uma possibilidade de partilha, onde podemos refletir sobre um tempo dedicado a estar presente, com atenção e em companhia. Falo de pessoas, mas também de todos os viventes do nosso planeta. É, em essência, um trabalho sobre aguçar nosso reconhecimento e consciência. Nesse sentido, é essencial nos exercitarmos em relação ao desapego da imagem idealizada. Daí a provocação dos Desenhos Feios. É preciso confiança para falar sobre isso e, não vejo como fugir de um certo deboche também.

revista-bravo-digital-artistas-helena-obersteiner
(Helena Obersteiner/arquivo pessoal)

Como não paralisar diante das expectativas, ter coragem de experimentar e não desistir diante do susto de se deparar com o que produziu?
Reflexões sobre o medo de errar e a vergonha de compartilhar processos nos aproxima de uma prática mais honesta e imperfeita, onde a vulnerabilidade se torna força.

É um trabalho de arte que muitas vezes não se pode materializar, pois acontece na presença, dentro de nós e na força do encontro. Sinceramente, sigo essa pesquisa pois acredito que nos faz viver melhor, relembrando um pouco mais que a arte não está separada da vida. É um caminho para repensarmos nossas relações com o mundo e confiarmos em quem somos. Para mim, é um trabalho para nutrir a esperança, sem medo dos sentimentos difíceis.”

revista-bravo-digital-artistas-heloisa-hariadne
“Casa de vó” / 2025 / Óleo sobre tela / 150 x 180 (Heloisa Hariadne/Redação Bravo!)

Heloisa Hariadne

@heloisahariadne | 1998

Artista visual cuja prática transita entre pintura, fotografia e vídeo, abordando temas que conectam corpo, memória e natureza. Bacharel em Artes Visuais, Heloisa constroi narrativas visuais que exploram desde questões ambientais até a nutrição e o resgate de saberes ancestrais.

revista-bravo-digital-artistas-heloisa-hariadne
(Heloisa Hariadne/reprodução)

“Acredito que arte contemporânea atualmente precisa de investimentos concretos, espaços e mais ainda disposição para pensar o novo dentro dela mesma, para não se limitar a crenças pré-estabelecidas do mercado e circuito. Meu trabalho vem de encontro com a possibilidade de acreditar no sonho como futuro.”

Heloisa Hariadne
revista-bravo-digital-artistas-irmas-gelli
Quando deixou de ser II / tríptico / 54 x 54 x 7 cm cada / Cera maciça e pigmento azul / obra única (Irmãs Gelli/Redação Bravo!)

Irmãs Gelli

@irmasgelli | Alice Gelli 1991 | Gabi Gelli 1996

revista-bravo-digital-artistas-irmas-gelli
(Irmãs Gelli/divulgação)

A pesquisa das irmãs cariocas se debruça sobre a perspectiva do encontro, da troca e do tempo. A busca pela materialidade corpórea é um dos principais objetos de interesse da dupla. Há um desejo em direção a um resgate das trocas físicas, o olho no olho e o impacto da obra sobre o corpo. Ambas possuem um fascínio pela repetição e pela descoberta de materiais. O descarte e o lixo têm ganhado cada vez mais espaço dentro da pesquisa das duas. Antes de se tornarem Irmãs Gelli, Alice e Gabi desenvolveram suas identidades artísticas em trajetórias individuais. Esse repertório único mais tarde se complementaria, dando forma à essência da dupla.

revista-bravo-digital-artistas-irmas-gelli
(Irmãs Gelli/arquivo pessoal)

“Mais do que uma necessidade da arte contemporânea, acreditamos que hoje, com a hiper digitalização do mundo, os seres humanos precisam de mais pertencimento, afeto e troca para além das telas. Buscamos com o nosso trabalho criar obras que rompam com as barreiras entre a arte e as pessoas, através de propostas interativas, materiais sensoriais que provocam os sentidos e experiências que convoquem a presença.

revista-bravo-digital-artistas-irmas-gelli
(Irmãs Gelli/arquivo pessoal)

Os nossos trabalhos têm a intenção de impactar no corpo de alguma forma, seja através da materialidade, da escala ou da sutileza.
Na contramão do ritmo do mundo, nos interessa muito as obras de escala monumental, pois elas têm a capacidade de ralentar o tempo, de abrir uma brecha na correria do dia-a-dia (de colocar a vida na velocidade 0.5 ao invés do 2.0). Além da escala ter capacidade de impactar no corpo, elas conseguem ocupar mais espaço do que os nossos corpos como mulheres na sociedade atual.”

View this post on Instagram

A post shared by irmãs gelli (@irmasgelli)

revista-bravo-digital-artistas-moara-tupinamba
Jurupari / Moara Tupinambá / 2024 / fotomontagem (Moara Tupinambá/Redação Bravo!)

Moara Tupinambá

@moaratupinamba | 1983

revista-bravo-digital-artistas-moara-tupinamba
(Moara Tupinambá / Ingrid Ybytu eté Tupinambá/divulgação)

ARTivista visual e curadora autônoma. Natural de Maery do Pará, é tupinambá de origem da região do Baixo Tapajós. É artista multiplataforma e utiliza diversas linguagens como desenho, pintura, colagens, instalações, videoentrevistas, fotografias, literatura e performances. Sua poética percorre cartografias da identidade, ancestralidade, resistência indígena e pensamento anticolonial. Participou, com Janaú, da Bienal “Nirin”, em Sydney, com o vídeo da Marcha das Mulheres Indígenas (2019); do Seminário de Histórias Indígenas do MASP (2019); da exposição “Agosto Indígena” (2019), em São Paulo. Atualmente, integra o coletivo amazônida MAR, o Colabirinto e a associação multiétnica Wyka Kwara.

“A arte contemporânea brasileira precisa, mais do que nunca, contracolonizar seus olhares, abrir espaço para histórias e cosmopercepções plurais e para vozes historicamente silenciadas — especialmente de povos originários, quilombolas e periféricos. É necessário repensar não só o conteúdo, mas as estruturas que sustentam a produção, circulação e legitimação da arte no Brasil: quem conta as histórias, quem escolhe o que será exibido, quem acessa os espaços de criação e fruição artística. A arte precisa ser uma ferramenta de retomada, (re) existência e imaginação de futuros mais justos.”

“Como artista indígena Tupinambá, trago para o centro da criação artística histórias e símbolos que foram invisibilizados pelo colonialismo. Utilizo linguagens como a colagem, o muralismo, a ilustração e a curadoria para recontar narrativas e tensionar os limites entre arte, política e identidade. Em vez de esperar por espaços, crio os meus e faço exposições independentes e oficinas em aldeias, escolas e centros culturais. Acredito que minha prática contribui para esse movimento de reconstrução coletiva da arte brasileira, onde o protagonismo indígena não é exceção, mas parte fundamental da cena contemporânea. Na obra Jurupari (veja maior na página 80), proponho uma reinterpretação visual de uma figura ancestral muitas vezes mal compreendida. Jurupari é um não-humano que, após a chegada dos jesuítas, foi traduzido como “diabo” — um enquadramento colonial que distorce os sentidos originais dessa presença na espiritualidade de muitos povos indígenas.
Na minha aldeia, Tucumã Tupinambá, Tuxaua José Bonifácio conta histórias em que o Jurupari habita a floresta e, por vezes, aparece para assustar os moradores do povoado. O próprio Tuxaua também atualiza e ressignifica essa memória com uma pitada de humor. Mas, de forma geral, ele não representa o mal à maneira cristã — é um ser de respeito, um guardião, um alerta, um sinal. Vive na floresta para protegê-la, e assusta, sim, aqueles que a desrespeitam. Nesta obra, quem dá forma ao Jurupari é o próprio Tuxaua, em um gesto de retomada e reconstrução da nossa espiritualidade, a partir da nossa própria voz e imaginação.”

revista-bravo-digital-artistas-julia-jabur
Copos de leite / 21 x 29,7 cm / aquarela sobre papel / Março de 2025 (Julia Jabur/Redação Bravo!)

Julia Jabur

@julia.jabur | https://www.juliajabur.com | 1990

revista-bravo-digital-artistas-julia-jabur
(Julia Jabur/divulgação)

Julia acredita que o desenho é uma ferramenta criativa capaz de projetar novas ideias em fazeres diversos que vão além de si mesmo, sendo o ponto de partida para qualquer trabalho criativo. A pesquisa de sua obra envolve questões como a sobreposição de camadas, as relações entre transparência e opacidade, e os elementos que permanecem ou são apagados ao longo do processo. Atuando na área de ilustração editorial e de superfície do objeto, ela investiga também os desdobramentos narrativos que surgem durante a produção da imagem, refletindo sobre cópia e apropriação como um exercício criativo que questiona a autoria e a reprodução. Promove, ao lado de outros artistas, encontros mensais de desenho livre em pontos diversos na cidade de São Paulo.

“A arte, para mim, é algo que escapa à nomeação, uma experiência que, por mais que tentemos, não conseguimos traduzir de forma completamente racional ou através de uma relação de causalidade. Embora seja possível, por meio dela, transformar problemas em respostas, esse processo não é imediato nem linear. Ao criar meus desenhos e pinturas, sempre tenho uma intenção, mas reconheço que é fundamental que exista um abismo, um vazio presente nesse processo. Acredito que esse não-lugar seja um indicativo de um envolvimento profundo com a produção criativa e imaginativa, especialmente no contexto da arte contemporânea. Contudo, sei também que ter a oportunidade de estar nesse espaço é um grande privilégio no Brasil.

revista-bravo-digital-artistas-julia-jabur
(Julia Jabur/arquivo pessoal)

revista-bravo-digital-artistas-julia-jabur

“Por isso, acredito que a arte contemporânea brasileira precisa de mais oportunidades e incentivos para prosperar em uma sociedade desigual e capitalista. É essencial que existam espaços onde os artistas possam desenvolver seu trabalho além dos circuitos convencionais ou tradicionais. No processo de tentar nomear esse não-lugar, tenho me aprofundado nos conceitos de sonho, estudando autores como Ailton Krenak, Davi Kopenawa e Hanna Limulja. Para mim, a ideia de que o sonho é ‘uma disciplina relacionada à formação, um caminho de aprendizado e autoconhecimento’, como diz Krenak, se assemelha à minha própria intenção ao criar uma imagem.

Busco, por meio da minha produção, explorar formas de combinar o que vejo e construir narrativas visuais. A experimentação com diferentes técnicas e materiais faz parte dessa busca, que visa romper principalmente as hierarquias pré-estabelecidas no meio artístico. Utilizo materiais populares do desenho e da pintura como lápis de cor e grafite, canetas hidrocor, borrachas, canetas de tinta, corretivo, papeis coloridos ou quadriculados… e materiais profissionais como guache, óleo, acrílica, aquarela, além do desenho digital.”

 

revista-bravo-digital-artistas-pati-sayuri
Senhora Sol! Não Desapareça! / Tecido de seda tingido, linha de algodão, linha de poliéster, enchimento de fibra siliconada. Dimensões Aproximadas: 70 cm X 25 cm X 60 cm (Pati Sayuri/Redação Bravo!)

Pati Sayuri

@_patisayuri | https://www.patisayuri.com | 1988

revista-bravo-digital-artistas-pati-sayuri
(Pati Sayuri / Larissa Barth/divulgação)

Pati Sayuri é artista brasileira-okinawana e mestre em Arte pela Bauhaus. Participou de residências artísticas internacionais em Singapura, Alemanha e Holanda e de exposições coletivas no Brasil e no exterior. Sayuri explora sua ancestralidade com as mãos com sua pesquisa em Shibori e Índigo Japonês, ambas técnicas tradicionais de tingimento milenar do Japão. Com abordagem multidisciplinar que passa por artesanato, performance e intervenções públicas, ela investiga as potencialidades da vida mundana pelo viés do afeto, fracasso e intimidade. À medida que se expande da superfície do tecido para o espaço, a artista propõe estratégias afetivas para se conectar com a comunidade que a cerca, convidando-os a vivenciar pequenos estados de arte que compõem seu universo.

“Acho um pouco presunçoso da minha parte apontar o que falta na arte contemporânea brasileira hoje porque acho que a produção brasileira é muito rica, só não temos acesso a sua diversidade. Mas vou compartilhar o que eu gostaria de ver mais no circuito artístico. Gostaria de ver mais técnicas manuais e ancestrais presentes, mais processo artístico evidente, poder olhar um trabalho e me debruçar nele, ter a curiosidade despertada com detalhe da feitura, da materialidade, da origem, qual releitura o artista faz sobre estes fazeres tradicionais. E junto com este debruçar, eu gostaria que a arte contemporânea me instigasse a apreciar o tempo: o tempo do artista, o tempo que se leva pra pesquisar, pra executar, para observar. E esquecer a pressa que nos é exigida hoje, tanto no produzir quanto no ‘consumir’ arte.”

revista-bravo-digital-artistas-pati-sayuri
Senhora Sol! Não Desapareça!
Escultura macia de tecido em colagem têxtil que explora o conceito de acolhimento do fracasso. A peça, inspirada na mitologia de Sísifo, se apresenta como uma reflexão da artista de como ela imagina que seria a sua própria pedra de Sísifo: macia e quentinha, como um mochi* recém feito pela sua obatchan. Nesta obra, a artista representa a ideia fracassada de impedir que o sol se ponha.
*Mochi é um doce japonês feito de arroz glutinoso e moldado, ainda quente, em formato circular. O doce faz parte da história de Sayuri, que cresceu observando sua obatchan – avó japonesa – a fazer estes doces para momentos de conexão espiritual com seus antepassados. (Pati Sayuri/reprodução)
revista-bravo-digital-artistas-pati-sayuri
(Pati Sayuri/divulgação)

“O meu trabalho se conecta a este meu desejo quando eu escolho o Shibori como ferramenta de trabalho. O Shibori é uma técnica milenar japonesa de tingimento têxtil que pesquiso há 12 anos. Através desta técnica eu tive a oportunidade de resgatar minhas raízes japonesas, e faço uma releitura — tanto da técnica quanto da minha ancestralidade — pros dias de hoje, pra minha realidade no Brasil, enquanto artista nipo-brasileira que tem o interesse em incluir o passado no meu presente, mas também combinar, desafiar e me re-encantar com o fazer manual, atualizá-lo com as minhas experiências, e traçar novos caminhos para além da obviedade que se espera de uma técnica de estamparia. Por consequência desta imersão em processos longos e minuciosos, eu tenho aprendido a me relacionar sem urgência com a passagem do tempo. Me interessa agora como eu dedico o meu tempo ao trabalho, a importância do tempo que levo para executar um ponto de costura à mão ou uma amarração no tecido, a elaboração das cores que faço intuitivamente nas panelas, e como elas lentamente abraçam a fibra, como essas cores se transformam no seu tempo de secagem. Tudo isso tem enriquecido a minha relação com a vida, tem apurado a minha capacidade de observar os arredores e apurado meu olhar para situações que me inspiram, e que normalmente passariam completamente despercebidas na correria que é imposta pra gente.”

revista-bravo-digital-artistas-pati-sayuri
Gatilho da obra – pegar o sol com as mãos (Pati Sayuri/divulgação)
revista-bravo-digital-artistas-verena-smit
“Grito” / 2025 / Porcelana / 13 x 31 cm / “O grito preso na garganta ainda não saiu do coração” (Verena Smit/Redação Bravo!)

Verena Smit

@verenasmit | 1984

revista-bravo-digital-artistas-verena-smit
(Verena Smit / Rafael Messias/divulgação)

A força do trabalho da artista floresce da natureza humana apreciada como um profundo prisma de afetos. Na estética neutra,  caracteristicamente P&B, Verena encontra o terreno fértil para acessar o imaginário, criando narrativas visuais e provocações poéticas que se abrem em diálogo com o público. Formada em fotografia e comunicação social com ênfase em cinema, é uma multiartista de olhar sensível e ao mesmo tempo afiado. Tem dois livros publicados, sendo o último deles “Eu Você” (Paralela), em 2016. Em 2022 realizou o projeto “Poesia Concreto” onde espalhou pelo centro de São Paulo oito trabalhos em diferentes suportes. Já expôs em Nova York, Madrid e Viena.

“A arte contemporânea brasileira precisa ser mais disruptiva e acessível, precisa quebrar os padrões antigos e firmados do mercado. A cultura deve ser mais aberta, inclusiva e abraçada por todos. Acredito que a internet e as redes sociais já ajudaram a traçar um caminho um pouco mais democrático. Mas precisamos de muito incentivo público para que se acredite que a arte é sim uma poderosa ferramenta de transformação e educação. E de que a arte pode sim estar em todos os lugares: no museu, na rua, na casa das pessoas (e também na internet).”

Verena Smit
revista-bravo-digital-artistas-verena-smit
(Verena Smit / Instagram/reprodução)

“Meu trabalho ficou conhecido através do Instagram e não nego como a plataforma me ajudou a encontrar caminhos. A partir disso fui explorando outros suportes e mídias, mas eu sempre fotografava o trabalho final para mostrar aquilo a um público que não poderia ver pessoalmente. O post é quase como uma extensão do trabalho. Deixar visível pra quem mora longe, falar com outra cidade, outro país. Quando uma professora do Piauí me escreve dizendo que usou meu trabalho como referência para alunos de português ou artes eu sinto uma grande alegria. Durante esses mais de dez anos criando e postando, fui pra rua, fui pra museus, exposições, galerias e para a casa das pessoas. Criei trabalhos acessíveis para as pessoas adquirirem e fui criando um lugar onde me sinto privilegiada como artista de poder estar. Acredito que boa parte disso é a facilidade que a linguagem me traz. Poder usar a escrita como ferramenta certamente me ajuda a acessar mais pessoas.”

 

Publicidade