Frans Krajcberg: A Natureza como Cultura – Biografia resgata história do escultor polonês
João Meirelles apresenta a trajetória do artista e ativista que transformou a destruição da floresta em inspiração para suas obras

Na próxima semana, em São Paulo, o Sesc Pinheiros será palco do lançamento da obra Frans Krajcberg – A Natureza como Cultura, uma biografia de 350 páginas que reconstitui a trajetória singular do artista e ativista ambiental. O encontro está marcado para 13/03, quinta-feira, às 19h30.
Escrito por João Meirelles, amigo de longa data e também ambientalista, o livro mergulha na vida de um judeu polonês que, após sobreviver aos horrores de um campo de concentração, encontrou no Brasil um novo lar e um universo de inspiração.
A obra destaca a profunda ligação de Krajcberg com os biomas brasileiros, especialmente a floresta amazônica, onde o artista colhia troncos carbonizados, galhos chamuscados e cipós retorcidos. Esses materiais, resgatados na imensidão do Juruena, em Mato Grosso, transformavam-se em esculturas que revelavam sua genialidade artística e, por outro lado, também denunciavam a devastação ambiental. “Gosto mais de árvores que de pessoas”, costumava dizer, refletindo o espírito de alguém que se refugiava na natureza para se proteger dos traumas e da brutalidade humana.

Construído a partir de entrevistas, registros fotográficos e pesquisas em acervos públicos, o livro também desvenda as contradições do próprio artista. Krajcberg, conhecido por inventar histórias para si mesmo, criava narrativas que serviam como escudos diante dos pesados traumas da Segunda Guerra e da perda de sua família. Essa mistura de mito e realidade conferiu à sua vida uma aura quase lendária – um homem que, mesmo após trabalhar como engenheiro em uma fábrica de celulose e participar de bienais na década de 1950, encontrava forças para se reinventar artisticamente nas décadas seguintes.

O livro também traça o percurso que o levou a integrar o cenário cultural tanto no Brasil quanto na França, país onde passava alguns meses do ano. Sua obra, marcada pela experimentação com a madeira residual de queimadas e pelo uso de cores intensas, como o vermelho e o preto, revela um artista que fazia da matéria bruta o seu meio de expressão – um trabalho feito com o corpo, literalmente, ao derrubar palmeiras e dobrar cipós mesmo na maturidade.
João Meirelles não se furta a evidenciar a virada de Krajcberg para o ativismo ambiental nos anos 1980, quando o olhar crítico sobre a destruição da mata atlântica e do cerrado se intensificou. Para o autor, o legado do artista transcende o universo das artes plásticas, servindo como um alerta e uma inspiração para a preservação do patrimônio natural.

Ao reunir depoimentos, imagens marcantes e uma pesquisa minuciosa, Frans Krajcberg – A Natureza como Cultura resgata não apenas a história de um dos maiores nomes da arte ecológica, mas também um tempo em que a luta contra o desmatamento e a exploração desenfreada da natureza ganhava voz por meio de esculturas que falavam mais alto que palavras. Em meio a traços de dor, superação e genialidade, a biografia se apresenta como uma oportunidade para repensarmos o nosso relacionamento com o meio ambiente e com a memória de quem transformou o fogo e a devastação em beleza e resistência.
Dia 13/03, quinta-feira, a partir de 19h30.
Bate-papo entre João Meirelles e Dal Marcondes, seguido de sessão de autógrafos.
Auditório. 3º andar. Todas as idades. Grátis.
Retirada de ingressos 60 min antes.
Sesc Pinheiros
R. Paes Leme, 195 – Pinheiros
São Paulo – SP, 05424-150
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