Brasil recebe de volta 750 obras de arte afro-brasileiras
A coleção será doada ao Muncab após 30 anos de exibições na América do Norte
Finalmente, de volta ao lar. Cerca de 750 obras de arte de artistas brasileiros, predominantemente negros, serão repatriadas ao Brasil após 30 anos de exibições nos Estados Unidos e no Canadá.
A informação foi divulgada pelo jornal britânico The Guardian. Entre as peças, encontram-se esculturas, pinturas, vestimentas e objetos religiosos, em sua maioria classificados como arte popular, criada por artistas autodidatas. As obras serão doadas ao Muncab (Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira). Um dos destaques é a imponente estátua “Oxalá”, de Celestino Gama da Silva, com mais de dois metros de altura. As peças são, em grande parte, de artistas oriundos da Bahia, Pernambuco e Ceará.
A coleção, formada ao longo de décadas, é um testemunho da rica diversidade cultural do Brasil. A maioria das obras, repleta de simbolismo religioso e cultural. A viagem começou após a visita da historiadora Marion Jackson e da artista Barbara Cervenka a Salvador. Em entrevista ao jornal, elas explicaram que a maioria das peças foi adquirida diretamente dos artistas, muitas vezes com recursos próprios. Entre 1992 e 2012, Jackson e Cervenka viajaram ao Brasil pelo menos uma vez por ano. Para o transporte, utilizavam métodos criativos e desafiadores – algumas precisaram ser enroladas em colchões e embarcadas em navios.
“No início, parecia uma cacofonia de objetos. Mas, à medida que olhávamos mais de perto, começamos a identificar os criadores e o contexto das obras. Conhecemos os artistas, retornamos aos Estados Unidos com algumas peças e continuamos essa troca”, contaram ao The Guardian.
As duas fundaram a Con/Vida, uma organização sem fins lucrativos dedicada a promover exposições de artistas marginalizados, com poucos recursos ou que vivem em contextos de instabilidade política. Agora, a organização e o museu em Salvador estão trabalhando na logística para trazer as obras de volta, o que deve ocorrer até o próximo ano.
“Com o passar do tempo [Cervenka tem 85 anos e Jackson, 83], percebemos que não conseguiríamos manter o mesmo ritmo necessário para um projeto dessa magnitude. Queríamos garantir que essas obras tivessem um futuro”, disse Marion Jackson ao The Guardian.