Dia Nacional da Visibilidade Trans: 5 artistas plásticos para conhecer
A data ressalta a importância de artistas que, por meio de suas obras, desafiam normas de gênero e reimaginam formas de representação

Desde 2004, o Dia da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, marca a luta por reconhecimento e direitos da população trans e travesti no Brasil. No campo das artes, essa data também ressalta a importância de artistas que, por meio de suas obras, desafiam normas de gênero, questionam estruturas institucionais e reimaginam formas de representação.
Nas artes visuais, nomes como Élle de Bernardini, Tadáskía, Fefa Lins, Uýra Sodoma e Rafa Bqueer ampliam esse debate ao transformar suas trajetórias pessoais em criações que transitam entre pintura, performance, fotografia e arte têxtil. Suas produções abordam identidade, ancestralidade e pertencimento, tensionando os limites impostos por um sistema historicamente excludente. Com trabalhos que já passaram por instituições como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a Bienal de São Paulo, essas artistas vêm consolidando espaços de expressão e reconhecimento para a comunidade trans no circuito artístico brasileiro e internacional.
Élle de Bernardini
A artista visual, performer e bailarina Élle de Bernardini utiliza o corpo como suporte central de sua obra, explorando questões de gênero e identidade. Sua trajetória artística começou no balé clássico, tornando-se uma das poucas bailarinas transgênero a integrar uma turma feminina da Royal Academy of Dance de Londres. Posteriormente, estudou Butô com Yoshito Ohno e Tadashi Endo, incorporando essa linguagem em suas performances.

curator: @tdeap (@a.pigosso / instagram da artista/reprodução)
A partir de 2015, Bernardini volta-se à produção visual, criando obras que desafiam categorias binárias e expandem conceitos de corporeidade. Em suas performances, Bernardini questiona estruturas de poder e os limites da aceitação social. Em Dance with Me (2018-2019), cobre-se de ouro e convida o público a dançar, ironizando expressões de exclusão social. Já na série fotográfica A Imperatriz (2018-2019), ocupa espaços institucionais historicamente inacessíveis a artistas trans, promovendo uma reflexão sobre representatividade.
Tadáskía
Tadáskía é uma artista visual negra e trans que transita entre o desenho, a fotografia, a instalação e o têxtil. Sua produção combina elementos místicos e paisagens imaginadas para refletir sobre experiências da diáspora negra, explorando encontros familiares e deslocamentos culturais.

Formada em Artes Visuais pela UERJ e mestre em Educação pela UFRJ, a artista tem se destacado no circuito expositivo com individuais como noite dia (Sé, São Paulo, 2022), As parecidas (Madragoa, Lisboa, 2023) e Rara ocellet (Joan Prats, Barcelona, 2023). Participou de coletivas relevantes, incluindo o 37º Panorama da Arte Brasileira no MAM-SP (2022), Eros Rising no ISLAA, em Nova York, e The Silence of Tired Tongues no Framer Framed, em Amsterdã.
Fefa Lins
Fernando “Fefa” Lins é um artista visual nascido em Recife nos anos 1990. Com formação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco, desenvolve um trabalho que dialoga com questões de identidade, desejo e dissidência de gênero. Sua produção combina a tradição da pintura a óleo com experimentações digitais, buscando criar narrativas visuais que escapam às normas convencionais e ampliam as possibilidades de representação de corpos e sexualidades marginalizadas.

Óleo s/ tela
108x115cm
2021 (Instagram @fefa.lins/reprodução)
Desde 2016, participa de exposições em diferentes contextos, transitando entre espaços institucionais e independentes. Em 2019, passou a integrar a galeria Amparo 60 (Recife) e, em 2021, realizou a individual Tecnologias de Gênero, com curadoria de Aslan Cabral.
Além de seu trabalho nas artes visuais, Fefa se dedica ao ensino da pintura a óleo e tem incursões no cinema. Seu curta-metragem Quanto Craude no Meu Sovaco, codirigido com Duda Menezes, foi exibido em festivais como Kinofórum e Mix Brasil, alcançando reconhecimento dentro e fora do país.
Uýra Sodoma
Bióloga de formação e mestra em Ecologia da Amazônia, desenvolve seu trabalho na interseção entre arte, ciência e educação, atuando junto a comunidades tradicionais. Vive em um território marcado pela presença industrial no coração da floresta, onde cria a figura de uma Árvore que Anda – uma entidade em constante metamorfose, construída a partir de elementos naturais.
Suas investigações visuais ganharam projeção na 34ª Bienal de São Paulo, na Manifesta Biennial (Kosovo), na 13ª Bienal de Arquitetura de São Paulo e na 1ª Bienal das Amazônias. Seu trabalho foi reconhecido com prêmios como o EDP nas Artes – Instituto Tomie Ohtake, o Prêmio PIPA 2022, o SIM à Igualdade Racial 2023 e o FOCO Arte Rio 2023.
Rafa Bqueer
Artista multidisciplinar, Rafa Bqueer transita entre performance, fotografia, cinema e arte têxtil para questionar normas de gênero, racialidade e ativismo LGBTQIA+, além de revisitar criticamente a história da arte na Amazônia. Sua trajetória é marcada pela irreverência e pelo olhar afiado sobre a presença de corpos pretos e trans tanto nas instituições quanto nas celebrações populares brasileiras.

Figurino: @botelho.aleixo Produção e assistência de direção: @camila_f_freire (@paulo.evander / Instagram Rafa B Queer/reprodução)
Formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e com passagem pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, desenvolveu uma linguagem própria, influenciada por sua vivência na cena Drag-Themônia de Belém e pelo universo das escolas de samba cariocas, onde atuou como destaque.
Seus trabalhos já foram exibidos em instituições como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), Inhotim, Museu de Arte do Rio e Anya and Andrew Shiva Gallery (EUA), além de integrar acervos do Instituto Moreira Salles, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Pinacoteca de São Paulo e Museu do Estado do Pará.