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O mundo mágico e lúdico de Flávia Junqueira

Artista está em cartaz com a mostra "Rêverie", na Zipper Galeria, até o fim de abril

Por Laís Franklin
Atualizado em 17 abr 2024, 11h27 - Publicado em 17 abr 2024, 09h00

Um carrossel de uma tonelada que desafia a gravidade ao girar lentamente a dois metros do chão é o primeiro contato que o espectador tem com “Rêverie”, exposição que segue em cartaz na Zipper Galeria até 27 de abril com trabalhos inéditos de Flávia Junqueira. 

Embalada por um interessante jogo de luz e sombra formado por 550 spots, a instalação é uma síntese do amadurecimento da pesquisa da artista cuja marca registrada são as fotografias lúdicas com balões de gás hélio no papel de protagonistas.

“Quis quebrar um pouco essa expectativa e trazer o carrossel, um elemento lúdico que é tão forte e tão importante pra mim quanto o balão. Essa é a primeira vez que a pessoa vai entrar e conseguir se sentir como se estivesse dentro de um cenário das minhas fotos”, conta, animada.

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Obra Carrocel, de Flávia Junqueira (Flávia Junqueira/divulgação)

A artista explora há alguns anos a relação – e a tensão – entre realidade, alegoria e fantasia que engloba o imaginário da infância. Flávia Junqueira já catalogou mais de quinze teatros brasileiros neoclássicos e, para esta individual, ela quis propor uma imersão completa neste universo das artes cênicas. Isso se faz presente nas amplas cortinas de veludo verde e no carpete do chão do segundo andar, por exemplo. “Busquei trazer o aconchego para o espaço expositivo. A ideia é sair do fluxo da rua, da loucura da cidade,  e se sentir transportado para uma outra experiência…mais imersiva, mais teatral”, explica.  

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Durante nossa conversa, ainda nos dias finais de montagem de “Rêverie”, pude ver de perto uma parte do processo que demorou cerca de dois meses para ser concluído — nada de inteligência artificial por aqui, só muita mão na massa e mentes criativas atuando em conjunto. A sonoplastia do maquinário amplificado com cavalos subindo e descendo sempre no mesmo ritmo é responsável por um contraste intencional. “Temos uma cenografia ideal do carrossel com um barulho ruidoso das roldanas, um incômodo constante que nos puxa para a realidade. O trabalho tem essa mistura”, aponta Junqueira. São os dois lados da moeda: o belo em conjunto com o estranho, vislumbre de mãos dadas com a aflição.

Subindo as escadas, no segundo andar da Zipper, há uma segunda “sala de espetáculo”. Ao passar pelas cortinas de veludo, cavalos em miniatura estão colocados dentro de cúpulas de vidro em uma mesa giratória. “É uma outra perspectiva. Como se o carrossel da outra sala estivesse decupado em pedacinhos”, explica a artista. Há também quatro fotos encenadas de uma série feita em Madrid. “Muito mais dramáticas do que as que eu costumo fazer porque, pela primeira vez, não usei o flash chapado e sim iluminação de cinema”, completa. 

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Retrato da artista Flavia Junqueira (Thomas Frias/divulgação)

A paixão pelo teatro não vem de hoje. Flávia trabalhou com cenografia e fez um mestrado e doutorado voltados para a Teatralidade da Vida Cotidiana. Para cada intervenção artística, ela estuda à distância o espaço em que irá fotografar e, no dia da montagem em si, leva em média quatro malas de viagem lotadas com balões coloridos para compor o seu cenário. Na experiência de Madrid, não foi diferente. “É como se fosse uma pintura que já tivesse uma camada pronta. Ao invés de uma tela branca, é uma tela que já começa já com o fundo. Ela já tem objetos, já tem luzes,lustres e carpete. Então eu entro nisso e penso o balão como uma segunda ou uma terceira camada de cor”, explica. 

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Durante toda a entrevista Flávia fala, com brilho nos olhos, sobre como cada parte da exposição “Rêverie” busca instigar nós adultos a relembrarmos e ressignificarmos nossa memória de infância. Muitas vezes a rotina da racionalidade nos suprime e nos limita a esquecer e deixar de lado esse lugar extremamente libertador e genuíno”, finaliza.

“Rêverie”, de Flavia Junqueira

ZIPPER GALERIA
R. Estados Unidos, 1494
Jardim America – São Paulo
Segunda a sexta 10h–19h
Sábados 11h–17h
Entrada gratuita

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Simon Bolivar, janela-fundo, Palácio de Linares (Flávia Junqueira/divulgação)
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