A história por trás da obra “Os Girassóis”, de Vincent van Gogh
Quadro de 1888, um dos vários que o artista pintou sobre o tema, funciona como alegoria da vida e da morte
É difícil ver tristeza em “Os Girassóis”, de Vincent van Gogh. Mas o quadro de 1888, um dos vários que ele pintou sobre o tema, funciona como alegoria da vida e da morte, na fase do artista em que as cores se mostravam mais explosivas. Van Gogh fez aqui a ponte entre o impressionismo comedido e um futuro expressionismo militante, de denúncia, por meio da beleza e das injustiças sociais.
Os girassóis de amarelo e marrom intensos aparecem vivos e mortos, no esplendor do desabrochar e no murchar desbotado. A tela percorre toda uma vida com vontade de imprimir um manifesto evidente: a existência precisa ser bela e extrai da arte essa potência, para que o mecânico da vida moderna não prevaleça sobre o humano relegado a segundo plano ” mote central na obra do holandês.
Artista que enlouqueceu e acabou se suicidando, Van Gogh é representante central de um momento em que a razão de ser da arte passou a ser questionada. Numa época em que o sistema fabril imprimia à sociedade um ritmo difícil de acompanhar, o artista belga começou sua obra retratando os pobres em tons escuros e sombrios. Mas, quando conhece em Paris o trabalho dos impressionistas, ele vê que a arte não precisa retratar uma realidade por si só: pode ser agente de transformação da sociedade.
Ironicamente, a mesma indústria que oprimia permitiu o aparecimento dos pigmentos que Van Gogh empregou em “Os Girassóis”, como o amarelo-cromo, surgido no século 19. Esse amarelo e outros tons da mesma cor compõem a alma da série em nome de uma pintura que é ao mesmo tempo ação, “verdadeira até o absurdo, viva até o paroxismo, ao delírio, à morte”, nas palavras do historiador italiano Giulio Carlo.
Embora muito parecidos, cada quadro de girassóis feito por Van Gogh é considerado uma obra separada. As primeiras tentativas de pintar as flores no vaso acabaram servindo para decorar o quarto do pintor Paul Gauguin, que na época se refugiara em Arles, no interior da França, atrás das cores efusivas de Van Gogh. Outro consenso que vale pôr em dúvida é o fato de Van Gogh ter aprendido tudo o que sabia com os impressionistas.
O holandês fez parte da escola, é inegável, mas basta olhar Os Girassóis mais de perto para ver em sua técnica que ele superou o retrato das sensações preconizado pelo movimento: o emparelhamento estridente das cores, o ritmo cambiante dos contornos e as pinceladas fechadas, quase sobrepostas, tornam o quadro, nas palavras de Argan, um “sinal de vitalidade febril, convulsiva”.
“Os Girassóis” / Vincent van Gogh
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 92,1 x 73 cm
Local: National Gallery, Londres (Inglaterra)
Esse texto faz parte do Especial da Bravo! “100 Obras Essenciais da Pintura Mundial”, publicado em 2008