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Kongjian Yu e o sonho de reinventar cidades contra enchentes

O arquiteto chinês, um dos mais renomados do mundo, morreu na última terça-feira (23) em um acidente de avião na região de Aquidauana, no MS

Por Redação Bravo!
Atualizado em 24 set 2025, 19h28 - Publicado em 24 set 2025, 19h27
Kongjian-Yu
Kongjian Yu morreu em um acidente de aeronave, no Brasil, em 23 de setembro (reprodução/reprodução)
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Alguns pensadores dedicam-se a propor ideias inovadoras que tornem a vida urbana mais resiliente às mudanças climáticas. O arquiteto chinês Kongjian Yu foi um desses visionários. Ele morreu na última terça-feira (23) em um acidente de avião na região de Aquidauana, no Pantanal, Mato Grosso do Sul. A aeronave arremeteu durante a tentativa de pouso. Yu estava acompanhado do cineasta Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, do diretor Rubens Crispim Jr. ( “O Bexiga é Nosso!”) e do piloto Marcelo Pereira de Barros, que também morreram no acidente. A viagem tinha como objetivo permitir que Yu conhecesse o Pantanal e, ao mesmo tempo, colaborar na produção de um documentário sobre o arquiteto. No Brasil, ele havia palestrado recentemente em evento da Bienal de Arquitetura. Yu era diretor do escritório Turenscape e reconhecido internacionalmente como um dos maiores arquitetos do mundo.

Grande parte de sua reputação se deve à criação do conceito de “cidades-esponja”, que propõe soluções urbanas capazes de absorver, armazenar e reutilizar a água da chuva, inspiradas nos ecossistemas naturais. Para Yu, “as áreas úmidas naturais ao longo dos rios podem funcionar como esponjas, retendo água durante inundações e reabastecendo água em períodos de seca”. Ele defendia que a arquitetura deveria atuar a favor da sobrevivência e do equilíbrio ambiental.

O arquiteto se inspirou em sua infância em Dongyu e na experiência como agricultor, aplicando conhecimentos ancestrais de gestão de água e resíduos em seus projetos. O conceito de cidades-esponja buscava reduzir enchentes, recarregar lençóis freáticos, preservar habitats naturais, criar espaços públicos de lazer e integrar harmoniosamente infraestrutura urbana e ecossistemas.

Na China, suas ideias foram aplicadas em diversos projetos pioneiros: o Parque Zhongguancun, em Pequim, com zonas úmidas construídas para coletar e purificar água da chuva; o Parque Tanghe, em Qinhuangdao, que transformou áreas alagadiças em espaços de lazer; e o Parque Qiaoyuan, em Tianjin, que implementou sistemas ecológicos para mitigar inundações. Outros exemplos incluem a restauração de rios em Taizhou e a criação de áreas costeiras resilientes em Harbin e Qinhuangdao. Yu também colaborou com o governo chinês no desenvolvimento de projetos de controle de enchentes, após tragédias que resultaram em dezenas de mortes, em 2012.

Em uma entrevista comovente ao site norte-americano Metropolis, especializado em arquitetura, Yu detalhou as origens de suas ideias: “Nos últimos séculos, ficamos presos a um equívoco: acreditar que a tecnologia industrial — em especial a infraestrutura cinza e os produtos químicos — poderia resolver os problemas da humanidade. Mas, a partir da minha experiência na aldeia, trabalhando em contato com a natureza, compreendi que, embora a Revolução Industrial tenha trazido inúmeras conquistas para os seres humanos, ao mesmo tempo ela é destrutiva e está matando os sistemas naturais. Por isso, eu quis provocar uma mudança.

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E falou de forma quase poética sobre o conceito de cidade-espoja. “É preciso resolver o problema a partir do solo, da terra. Tenho uma visão de um mundo e de um planeta melhores. Tenho minha própria ideologia, uma utopia em mente: quero que o globo seja tão bonito, harmonioso e saudável quanto uma aldeia. Mas como equilibrar isso? Foi por essa razão que propus a ideia da cidade-esponja. Depois, ampliei o conceito para terras-esponja, regiões-esponja e bacias hidrográficas-esponja. Agora penso que isso pode se tornar um planeta-esponja. Se conseguirmos transformar o planeta em algo parecido com uma esponja — capaz de reter, desacelerar e adaptar a água — poderemos realmente criar um planeta resiliente.”

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