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Luiz Braga, o mago das imagens

Na exposição "O arquipélago imaginário", em cartaz no IMS Paulista, o fotógrafo exibe 250 fotografias produzidas ao longo de sua carreira

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 20 Maio 2025, 15h30 - Publicado em 20 Maio 2025, 07h00
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Netuno II, 2020. Crédito: Luiz Braga (Luiz Braga/reprodução)
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O que torna um grande fotógrafo? Seria apenas um conjunto de boas imagens que, necessariamente, carregam qualidade, rigor técnico e o olhar do artista? Não há uma resposta definitiva. Mas, ao analisarmos sob o ponto de vista de um ou outro fotógrafo, vamos reunindo novas pistas. Para Luiz Braga (1956), um dos grandes nomes da fotografia brasileira, esses atributos se somam à vivência e ao contato íntimo com os objetos e personagens retratados. Em suas obras, fica evidente que há pouco espaço para o acaso e que é necessário um mergulho profundo nos temas. É preciso conhecer para fotografar.

O artista iniciou sua trajetória nos anos 1970. No começo, a fotografia era apenas uma ferramenta para o trabalho em publicidade. Sua linguagem e estética autoral seriam desenvolvidas mais tarde, de forma independente. Boa parte dos registros produzidos ao longo de quase seis décadas está reunida na exposição O arquipélago imaginário, em cartaz no IMS Paulista. A mostra, que ocupa uma área generosa do instituto, está dividida em nove núcleos e apresenta ao público 250 fotografias de Braga, das quais 190 são inéditas. E tem curadoria de Bitu Cassundé e assistência de Maria Luiza Meneses.

A exposição começa destacando o vínculo do fotógrafo com os lugares e as pessoas que retrata, como nas conhecidas imagens da procissão do Círio de Nazaré, no cotidiano ribeirinho, na arquitetura das palafitas e no registro de uma mulher caminhando pela Transamazônica, feito em 1996. Nos núcleos seguintes, ganham força as fotografias coloridas — aspecto mais marcante de sua obra — com destaque para registros recentes realizados na ilha do Marajó, onde o artista desenvolve uma pesquisa há duas décadas.

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Duas irmãs com tijolo na romaria, 1995 (Luiz Braga / IMS/reprodução)

Um dos pilares centrais de seu trabalho é a relação apaixonada com a região amazônica, que busca desconstruir o olhar estrangeiro e estereotipado sobre o território. “A minha relação com a Amazônia sempre foi uma relação natural. Porque eu nasci, cresci e continuo vivendo aqui. Então, eu nunca compactuei com esses estereótipos que são tão comuns de exotizar a Amazônia — isso nunca fez parte do meu repertório, mesmo no início.”

Para o fotógrafo, essa é uma das missões da mostra atual. “Nesta exposição está uma Amazônia despida de estereótipos. Isso, para mim, é fundamental — e eu acho, na verdade, que talvez seja uma missão. Diante de uma região e de uma terra tão estereotipada, eu acho que poder fazer uma exposição com 258 fotos que passam anos-luz de qualquer estereótipo, para mim já é um grande ganho e um grande prêmio.”

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A mostra reúne séries como Nightvision – Mapa do Éden (2006), em que Braga explora a função noturna da câmera para produzir imagens da Amazônia em tons prateados e esverdeados. A série rompe com clichês visuais e aposta em uma estética inventiva, marcada por atmosferas oníricas e surreais. Nos núcleos Retrato e Antirretrato, Braga propõe abordagens distintas: nos retratos, o ambiente e os objetos ao redor dos personagens ganham protagonismo; já nos antirretratos, os indivíduos surgem de costas ou em contemplação, o que acentua o cotidiano e a introspecção. O núcleo final, dedicado à ilha do Marajó, destaca a relação do fotógrafo com o território amazônico. Ali, ele desenvolve uma escuta atenta às histórias locais, valorizando saberes populares, a luz equatorial, a cor e a ancestralidade.

Confira a conversa da Bravo! com o artista:

Bravo! | Ao longo de 50 anos de carreira, como você percebe as mudanças do seu olhar fotográfico e sua relação com a região amazônica?

A minha relação com a Amazônia sempre foi uma relação natural porque eu nasci, cresci e continuo vivendo aqui. Então, eu nunca compactuei com esses estereótipos que são tão comuns de exotizar a Amazônia — isso nunca fez parte do meu repertório, mesmo no início.

O que percebi de mudança no meu olhar é que, acho que ele ficou ainda mais apurado. Como eu sempre fotografo praticamente no mesmo universo, em termos geográficos, eu pude me permitir aprofundar cada vez mais, entendeu, o meu olhar sobre o meu lugar.

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Mas existem características que são permanentes, como dar atenção a coisas que normalmente não são dignas de atenção pelo mainstream. São coisas que, às vezes, estão passando despercebidas: os pequenos ofícios, as pessoas anônimas no seu trabalho, no seu dia a dia. Eu sempre me interessei por essa coisa mais do ordinário.

E isso foi se aprofundando à medida que amadureci e à medida que também fui me permitindo escutar. Eu acho que essa questão, por exemplo, da escuta, é sim uma coisa que foi crescendo e se impondo à medida que amadureci.

Bravo! | A exposição “Arquipélago Imaginário” reúne 258 fotografias, sendo 190 inéditas. Como foi o processo de seleção dessas imagens?

O processo de escolha dessas imagens, né… Pensando bem, 190 são inéditas. Esse processo foi uma coisa que se iniciou muito, muito antes até de eu ser convidado para fazer a exposição. E isso só foi possível pelo hábito e, digamos assim, pela rotina que eu tenho de rever o meu material.

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Eu sempre tô revendo o que eu fiz, e como eu guardei tudo o que fiz ao longo desses 50 anos, isso me permitiu ir e voltar ao arquivo e descobrir dentro dele coisas que, talvez, no momento em que eu fiz, eu não tivesse me dado conta do que eu tinha feito. Então, esse talvez seja um dos grandes valores dessa exposição: poder ver ampliado e exibido um material que sequer eu mesmo havia visto. Então, isso seria, digamos assim, um dos principais pontos.

A questão da seleção em si foi uma coisa que foi colocada para o Bitu (curador Bitu Cassundé). Eu coloquei para ele 1.800 imagens que eu já havia pré-selecionado dentro do acervo vasto que eu tenho, e, dentro desses 1.800 negativos e cromos que ele passeou, ele fez exatamente aquilo que eu acho que é o grande ponto da curadoria: dividir esses temas, essas imagens, em ilhas.

E foi por isso que eu acabei batizando de ‘arquipélago imaginário’, porque ele foi associando e criando conjuntos. E eu acho que essa é outra coisa que essa exposição tem de muito forte: os conjuntos.

Existem imagens isoladas? Claro que existem, elas funcionam isoladas. Mas colocá-las em conjuntos, como está no espaço expositivo, foi uma coisa deliciosa de fazer — e que, de certa forma, eu nunca tinha feito até então.

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Bravo! | O que você espera que o público leve consigo após visitar a mostra?

Sobre o que o público pode levar dessa amostra, eu acho que, antes de tudo, é uma ode ao ordinário. Para mim, é um grande hino às coisas simples. E, claro, nesta exposição está uma Amazônia despida de estereótipos. Isso, para mim, é fundamental — e eu acho, na verdade, que talvez seja uma missão. Diante de uma região e de uma terra tão estereotipada, eu acho que poder fazer uma exposição com 258 fotos que passam anos-luz de qualquer estereótipo, para mim já é um grande ganho e um grande prêmio.

Luiz Braga - Arquipélago imaginário

IMS Paulista | Avenida Paulista, 2424
Até 31 de agosto
Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h
Entrada gratuita

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