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Ilustres paulistanas

Exposição Modernas! São Paulo Vista por Elas, no Museu Judaico, reúne o trabalho de sete fotógrafas estrangeiras que vivem ou viveram na cidade

Por Artur Tavares
Atualizado em 7 dez 2022, 09h11 - Publicado em 7 dez 2022, 09h00
Modernas! São Paulo por elas
 (Claudia Andujar / Museu Judaico/reprodução)
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Em cartaz desde o dia 18 de novembro, a exposição Modernas! São Paulo Vista por Elas traz olhares estrangeiros à metrópole mais efervescente do país. Reunindo o trabalho de sete fotógrafas estrangeiras que vivem ou viveram na cidade, a mostra no Museu Judaico de São Paulo faz um apanhado de imagens clicadas entre os anos 1940 e 1990.

São mais de 80 fotos em exposição, clicadas por Alice Brill, Claudia Andujar, Gertrudes Altschul, Hildegard Rosenthal, Lily Sverner, Madalena Schwartz e Stefania Bril. Em comum, todas elas fugiam dos horrores da guerra e do nazismo na Europa, buscando na América do Sul um refúgio seguro contra o terror e o preconceito vigentes na época.

Modernas! São Paulo por elas
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Em cartaz até 5 de março de 2023, Modernas! São Paulo Vista por Elas tem curadoria de Ilana Feldman e Priscyla Gomes. Nós conversamos com Priscyla sobre a mostra.

Na história da fotografia, os homens sempre ganharam mais destaque. Mas a exposição vai contra a corrente e traz o protagonismo feminino. Como essas fotógrafas ajudaram a construir o que é o fotojornalismo hoje?
É importante salientar que nem todas essas fotógrafas entendiam-se como fotojornalistas. Na realidade, a maior parte delas não fazia uso desse termo, tampouco tinha o fotojornalismo como sua atividade profissional.

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As décadas que abarcam essas produções foram marcadas por um menor reconhecimento da multiplicidade de mulheres na prática fotográfica. Os motivos eram muitos, inclusive, por muitas delas optarem pela fotografia amadora como ocupação.

O que se refletia numericamente nas publicações e ensaios protagonizados por fotógrafos homens, seja em impressos especializados seja em revistas de grande circulação, evidenciava os entraves presentes à aceitação da produção e atividade dessas mulheres. O Foto Cine Clube Bandeirantes é um exemplo importante, tendo Gertrudes Altschul como uma mulher pioneira a integrar o clube, o mesmo se dava em colaborações em revistas como O Cruzeiro e Manchete.

Tomando a ideia de fotografia documental como um testemunho, o que pode ser extraído do conjunto da produção dessas mulheres é que seus testemunhos tornaram os registros de uma metrópole em transformação muito mais plurais e contundentes. A diversidade de perspectivas colabora expressivamente para uma compreensão menos restrita da historiografia já consagrada.

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As fotografias mostram as sutilezas de São Paulo: pessoas na rua, lugares e detalhes. De que maneira as obras escolhidas nos fazem entender a trajetória da capital?
O recorte curatorial buscou, na realidade, apontar para duas escalas de compreensão das mudanças de São Paulo: o primeiro deles, mais vinculado à fotografia canônica, que tinha na arquitetura um de seus principais objetos e nas transformações urbanas oriundas da industrialização um discurso mais recorrente; o segundo, um olhar mais específico dessas mulheres que flagra pequenos instantes do cotidiano, salientando pessoas e encontros.

Quando optamos por esse recorte a ideia era demonstrar que essas mulheres estavam atentas à produção da fotografia moderna canônica, alinhadas a muitas correntes europeias e estadunidenses, mas encontraram nessa fotografia mais prosaica um olhar muito próprio para compreender essa cidade.

Nessas sutilezas é possível compreender uma cidade que se transforma de maneira vertiginosa, que se espraia pelo território num crescimento desenfreado e que, com esse processo, também gera desigualdades e contradições. Ao olharem atentamente para essas sutilezas, evidenciando esses sujeitos e seus cotidianos, essas mulheres permitiram ver algo mais que o discurso acerca do progresso era capaz de alcançar.

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Modernas! São Paulo por elas
(Museu Judaico/reprodução)

As artistas escolhidas não são brasileiras. O olhar delas romantiza, de certa forma, o que é viver em São Paulo ou elas conseguem enxergar o que os moradores da cidade não conseguem?
Não acreditamos que exista uma romantização, pelo contrário, mesmo havendo uma série de imagens que ressaltam uma dimensão mais lírica do cotidiano, ao flagrarem o dia a dia dos trabalhadores, transeuntes e comerciantes da cidade, é possível capturar uma dimensão crítica bem evidente.

Além disso, essas fotógrafas ressaltam uma camada da população nem sempre evidenciada na produção foto-jornalística e documental daquele período. Elas estão especialmente atentas às crianças, trabalhadores infantis, idosos, travestis e à cena de bares e casas noturnas voltadas ao público LGBT. Ao escolherem esses grupos como objeto, elas mostram uma São Paulo distinta da já estereotipada narrando cotidianos nem sempre vinculados a uma ideia de produtividade e aceleração – metáfora usuais de uma cidade em progresso.

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Modernas! São Paulo por elas
(Museu Judaico/reprodução)
Modernas! São Paulo Vista por Elas

Museu Judaico de São Paulo
Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo
Até 5 de março de 2023
Entrada: R$ 20
Horário de funcionamento: Terça a domingo, das 10h às 18h

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