Pinacoteca Contemporânea e a necessidade de se reinventar
O novo edifício tem como objetivo abrigar obras de grande dimensão, além de projeções e mais integração com o público
O mundo mudou e, certamente, a forma de fazer e ver arte também tem se transformado ao longo do tempo. Essa é uma das premissas que fez nascer a ideia do novo edifício da Pinacoteca, que será inaugurado para o público no dia 04 de março. Inicialmente, o prédio seria entregue aos visitantes em 25 de janeiro mas, por causa das chuvas, a data foi adiada.
O projeto, pensado em 2015, foi colocado em prática em 2018 e as obras foram anunciadas em outubro de 2021. Integrado aos outros dois edifícios, a Pinacoteca Luz [o prédio original] e a Pinacoteca Estação, o espaço também conta com uma praça e um jardim. A área total atinge a marca de 22.041 metros quadrados, tornando o museu o segundo maior da América Latina, atrás apenas do Museu de Antropologia Nacional do México.
“Sempre buscamos novos pontos de contato do acervo com o público. Entendemos que o espaço da Pinacoteca Contemporânea tem uma configuração que permite mais inovação”, comenta Jochen Volz, diretor da instituição. “É um espaço que favorece a circulação de pessoas e que nos permite pensar em exposições de maior porte e até em projeções audiovisuais, o que é mais difícil no prédio atual.”
A expansão também tem a ver com a manutenção da relevância do acervo e da própria Pina no imaginário do público. Isso porque a coleção de obras precisa sempre se manter atual para conversar com a sociedade. “Aos 117 anos, temos 11 mil obras. E para ser um museu importante por mais várias décadas, precisamos nos preparar para esse futuro. Ou seja, é essencial crescer para sobreviver”, afirma Jochen. E isso também significa aumentar o núcleo de reservas técnicas, centro de documentação e até salas para atividades educativas.
O novo prédio, que tem potencial para receber até um milhão de visitantes por ano, tem o projeto assinado pelo escritório Arquitetos Associados. O investimento foi de 85 milhões de reais, dos quais 55 milhões saíram de recursos do Governo do Estado de São Paulo e 30 milhões foram doados pela família Gouveia Telles, do empresário Marcel Telles, um dos fundadores da Ambev, sem o uso de leis de incentivos fiscais.
“Aos 117 anos, temos 11 mil obras. E para ser um museu importante por mais várias décadas, precisamos nos preparar para esse futuro. Ou seja, é essencial crescer para sobreviver”
Jochen Volz
Apesar do nome, a nova Pina não abrigará apenas arte contemporânea. “A gente já tem misturado um pouco os movimentos. Mas além de pensar o que vai ser mostrado lá, a preocupação é a forma de se mostrar arte, que é mais contemporânea”, esclarece o diretor. “O edifício da Luz é maravilhoso e querido por todos, mas sua organização espacial é ancorada no século 19 porque vem da ideia da belle époque.”
A necessidade de se reinventar vem de uma demanda do público, que não frequenta espaços culturais como antes. “Durante a pandemia, passamos a refletir sobre como os espaços públicos e culturais podem ser mais transparentes, permeáveis e abertos. O contato do museu deve ser ativo. A ideia de que o público seja um corpo visitante passivo não existe mais”, reflete Jochen. Por um lado, isso se deve às redes sociais – que proporcionaram um contato direto com as instituições e uma troca de informações mais rica. A ideia de questionar, perguntar e criticar os museus também é frequente. E, para o diretor, também é benéfica.
“Queremos a atenção daquele que não é um usuário frequente de museus. É possível que essa pessoa se sinta mais convidada quando vai a um lugar associado a um parque. O prédio novo se aproxima da ideia de que todas e todos podem ter uma experiência com arte, independente da sua preparação e educação”, diz. “Além disso, a ideia é fazer uma programação cada vez mais diversa para que todos encontrem temas interessantes.”
Para o diretor, entregar um novo espaço cultural a São Paulo gera uma sensação de alívio e gratificação. O processo envolveu diversas diretorias, secretarias de cultura, conselhos e gestões políticas. Segundo ele, por mais que o país passasse por um desmonte cultural, a Pinacoteca foi além desse conflito por ter uma projeção regional, nacional e internacional estratégica para a política. Ainda assim, a esperança para o novo ciclo é de melhora: “A nível nacional, espero que a população tenha uma participação mais direta no desenvolvimento de recursos para políticas culturais. Pensando em nível estadual, acredito que São Paulo, sendo um polo importante, precisa garantir a continuidade do desenvolvimento cultural.”
“Queremos a atenção daquele que não é um usuário frequente de museus. É possível que essa pessoa se sinta mais convidada quando vai a um lugar associado a um parque. O prédio novo se aproxima da ideia de que todas e todos podem ter uma experiência com arte, independente da sua preparação e educação”
Jochen Volz
Agenda de exposições
A Pinacoteca Contemporânea abre com duas exposições de impacto. Uma coletiva com obras do acervo do museu ocupará o salão Grande Galeria. A ideia é trazer uma curadoria que mostra a diversidade da produção brasileira e do acervo do estado.
Além disso, a coreana Haegue Yang, destaque do cenário internacional de arte contemporânea, ocupa a Galeria Praça com uma exposição de colagens, papel de parede e esculturas desenvolvidas especificamente para o local.
Av. Tiradentes, 273 – Luz, São Paulo
Abertura para o público: 4 de março de 2023
Entrada: R$20. No primeiro mês, a visitação das exposições não será cobrada
Horário de Funcionamento: Quarta a segunda, das 10h às 18h