5 discos por Arthur Nogueira
As dicas do cantor e compositor paraense, que em 2017 lançou o álbum “Rei Ninguém”, explorando suas ligações com a poesia
Caetano Veloso (1971), Caetano Veloso
Toda a discografia do Caetano é referência para qualquer artista criativo no Brasil. Este é um lado B, que quase nunca figura nas listas de seus melhores álbuns, mas que ocupa um lugar especial em meu coração de poeta. Certa vez, comentei com o próprio que ouvi bem mais este LP que o Transa, também gravado em Londres. Ele respondeu, com palavras que já não lembro precisamente, que prefere o Transa, porque os sentimentos do período mais difícil do exílio vêm à tona com este disco. Daqui, do lado de fora, só posso me comover com a obra de arte que nasce, nas palavras de Nietzsche, do impulso que chama a arte à vida, como “a complementação e o perfeito remate da existência que seduz a continuar vivendo”. Este é um disco de sobrevivência.
A Fábrica do Poema (1994), Adriana Calcanhotto
O disco da minha adolescência. Cada audição era um mergulho ainda mais radical, tamanha a profundidade da experiência de Adriana com os poetas e a poesia. Um álbum obrigatório pela personalidade, pela coragem, pela tranquilidade de fazer música pop conjugando as referências mais improváveis. E Inverno foi a canção que me ligou para sempre à poesia do Antonio Cicero.
João (1991), João Gilberto
Nesse caso, escolher um só disco é tarefa árdua, porque João é meu cantor preferido de todos os tempos. Poderia ter ficado com Amoroso (1971), mas este aqui foi o que mais ouvi em todas as fases da vida. Quando canta Sampa, João faz a gente acreditar que a perfeição existe e é possível.
Rain Dogs (1985), Tom Waits
Quando dá voz aos dramas de nossa existência finita e falível, Tom Waits ensina a ver a beleza sobre todas as coisas, apesar da crueza, das injustiças, da imperfeição da condição humana. Rain Dogs prova que, por mais duro que seja o mote de uma canção, ao invés de nos entristecer, ela sempre inspira e embevece.
FA-TAL — Gal a Todo Vapor (1971), Gal Costa
Foi por volta dos 13 anos, remexendo a estante de discos do meu pai, que descobri o -FA-TAL-. E “Mal secreto” me fez sentir, pela primeira vez, a potência da canção popular no Brasil, este país onde não há fronteiras entre poetas e letristas. O canto vigoroso de Gal a serviço dos versos de Waly Salomão, sob a moldura da melodia de Jards Macalé, foi uma experiência determinante para todas as escolhas artísticas que fiz desde então.