Continua após publicidade

As propostas para a cultura

Perguntamos aos 13 candidatos à corrida presidencial qual visão e quais propostas têm para o setor no país Protesto contra a extinção do Ministério da Cultura, em 2016 Por Andrei Reina e Paula Carvalho Ela raramente surge nos debates televisivos, tampouco aparece no horário eleitoral gratuito. Até o início de setembro, a cultura parecia não ter lugar na […]

Por Bravo
Atualizado em 21 set 2022, 22h26 - Publicado em 11 set 2018, 13h28
 (/)

Perguntamos aos 13 candidatos à corrida presidencial qual visão e quais propostas têm para o setor no país

0*8reuHCd97PxtvEc4
Protesto contra a extinção do Ministério da Cultura, em 2016

Por Andrei Reina e Paula Carvalho

Ela raramente surge nos debates televisivos, tampouco aparece no horário eleitoral gratuito. Até o início de setembro, a cultura parecia não ter lugar na corrida presidencial de 2018, mesmo que ela tenha sido o mote de turbulências nos últimos anos, como o anúncio, em 2016, da extinção do Ministério da Cultura, recriado após mobilizações por todo o país.

Publicidade

Com o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, no entanto, as políticas públicas de cultura ganharam manchetes e a atenção dos eleitores. Nos programas de governos, o espaço para o tema é, de modo geral, exíguo. Além disso, como demonstrou reportagem do Nexo, esses documentos apresentam mais diretrizes do que ações concretas.

Publicidade

Com isso em mente, Bravo! procurou as 13 chapas registradas na Justiça Eleitoral para saber qual visão e quais propostas elas têm para o setor cultural. Todos os candidatos receberam duas perguntas:

1. Em linhas gerais, qual é a visão do sr. ou da sra. para a cultura do país?

2. Poderia citar as três propostas concretas prioritárias para a área da cultura?

Leia abaixo as respostas dos candidatos, que foram listados em ordem alfabética. As campanhas de Cabo Daciolo (Patriota) e Jair Bolsonaro (PSL) não enviaram respostas até o fechamento da reportagem.

Publicidade
Continua após a publicidade

Alvaro Dias (Podemos)

1.

“A tragédia que ocorreu no Museu Nacional demonstrou o descaso em relação à cultura e ao nosso patrimônio histórico. Acredito que a gestão pública deve oferecer mecanismos de produção e preservação da nossa arte. Esses mecanismos podem acontecer por meio do aperfeiçoamento e correção das distorções que ocorrem em leis de incentivo como a Lei Rouanet e abertura para novos modelos de investimento, deixando sempre claro que a cultura depende de verba pública e esta não faltará.

2.

Ciro Gomes (PDT)

1.

“A Cultura terá um papel estratégico na afirmação da nossa identidade nacional. Nossa ideia é incentivar a política cultural para além do mecenato. Queremos deslocar o conceito de cultura para um dos eixos centrais do nosso Projeto Nacional de Desenvolvimento, porque aqui está onde se afirma a identidade nacional, que hoje está gravemente ameaçada, não só por hábitos de consumo, mas também por uma estética internacional que tem repercussões práticas na própria felicidade das pessoas. Se antes as pessoas buscavam sua felicidade no amor, na compaixão, na solidariedade, na poesia, na boemia, na insurgência revolucionária da política, ou seja, no ambiente espiritual que é o território da cultura, hoje elas são induzidas a buscar a felicidade, inconscientemente, num consumismo frustrante, porque a única coisa que está globalizada é a informação desse padrão de consumo sofisticado que elas conheceram pela internet. Informação que chega a um garoto na África, no Brasil, nos Estados Unidos, que não tem renda para adquirir aquilo. Isso gera, de um lado, a pirataria, mas também a desesperança, o desencanto e o vale-tudo, porque o garoto, para ter esses elementos simbólicos do sucesso, senha para sua aceitação no seu grupo, acaba presa fácil do narcotráfico, por exemplo. A nossa ideia é que o estímulo à Cultura tenha a ênfase necessária para que o Brasil se reconheça na sua diversidade regional, nas suas diversas expressões tradicionais e históricas, na valorização do patrimônio histórico. Mas também nas novas estéticas, no experimentalismo de vanguarda, de novas linguagens, passando pela culinária, hábitos alimentares, artesanato, artes cênicas, artes plásticas, cinema, audiovisual e a música, naturalmente compreendendo nosso lugar no planeta. Significa dizer que o Ministério da Cultura terá uma missão muito mais central da que tem podido ter nas últimas décadas. Vai precisar de um orçamento compatível com essa necessidade. Pretendemos aperfeiçoar a legislação do mecenato, preocupados em fortalecer expressões artísticas não comerciais, sem desmerecê-las. A oferta de bens e serviços culturais deve ser vista como uma forma de lazer e inclusão social, fortalecimento da cidadania e inclusão econômica, assegurando à juventude alternativas e perspectivas saudáveis e dignas para o seu futuro.

Publicidade

2.

Fernando Haddad (PT)

1.

“Nesses dois anos de governo ilegítimo, artistas e fazedores de cultura foram criminalizados, instituições culturais foram censuradas, segmentos culturais foram abandonados ou perseguidos. Nesse período, cresceu a intolerância dos que não aceitam e suportam a liberdade e a diversidade de expressões artísticas e culturais. A cultura é um dos elementos constitutivos da própria democracia e da identidade nacional. Sem a realização da liberdade de expressão e da diversidade e sem o respeito a esses valores perdem-se as condições constituintes de uma sociedade democrática. Para garantir esse novo ciclo democrático de que o Brasil precisa, o programa para cultura de Lula [*] tem o foco na retomada de políticas construídas entre 2003 e 2016, além da formulação de novos programas que possam atender as atuais demandas do setor e garantir o desenvolvimento cultural para toda a sociedade. No próximo governo de Lula [*], a cultura inscrever-se-á em um novo modelo de desenvolvimento que proporcione consolidação da democracia em nosso país, mais qualidade de vida para todos os brasileiros e brasileiras e mais justiça social para o Brasil. Um novo ciclo de políticas públicas será construído por meio dos mecanismos de participação desenvolvidos pelo MinC. Para esse fim, é fundamental o diálogo com toda a comunidade cultural, tendo um olhar atencioso para todos os criadores, artistas e realizadores que foram beneficiados pelas políticas efetivadas em nossos governos e foram responsáveis pela criação de estéticas inovadoras e de formas originais de organização do fazer cultural.

Continua após a publicidade

2.

[*] as respostas ao questionário foram dadas antes da oficialização da candidatura de Fernando Haddad

Publicidade

Geraldo Alckmin (PSDB)

1.

“Geraldo Alckmin entende que a cultura é um dos pilares fundamentais de formação do indivíduo e, portanto, elemento transformador da sociedade e vetor de desenvolvimento econômico do país com relevante potencial de empregabilidade, de fortalecimento da educação e de prevenção à violência. Enaltecer a cultura significa valorizar o ser humano. Entre as prioridades do candidato para o setor estão a formulação e execução de uma política pública que apoie a legislação vigente, com segurança jurídica e econômica para os atuais modelos de financiamento de projetos, e o acesso de todos os brasileiros a todos os tipos de cultura. É fundamental, ainda, criar condições para que a sociedade civil organizada participe, por meio do sistema de Organizações Sociais, da gestão de bens e serviços públicos sob a tutela do Estado. Além disso, Geraldo Alckmin garante, como princípio democrático, a liberdade de expressão artística irrestrita e em todas suas formas. Em São Paulo, como governador, Alckmin implementou projetos que exemplificam o propósito de estimular a cidadania, ao mesmo tempo que afastam os jovens do risco de envolvimento com a delinquência e os aproximam da estrutura educacional. São iniciativas como as Fábricas de Cultura, que inseriram polos de programação cultural em áreas periféricas, e o Projeto Guri, programa de ensino musical e inclusão. Na Presidência, será possível planejar a inserção de políticas similares de alcance nacional.

2.

Guilherme Boulos (PSOL)

1.

“A cultura tem que ser vista como área estratégica para o país, não só porque é uma atividade econômica decisiva no mundo inteiro, mas porque o acesso à cultura gera cidadania, informação, educa, amplia os repertórios e a qualidade de vida dos cidadãos. Ou seja, cultura não é gasto, é investimento e precisa de políticas públicas. Não existe país que não invista na sua produção cultural. Não é a toa que falamos em economia da cultura, então tem que ter políticas como qualquer outro setor produtivo. O Ministério da Cultura no Brasil foi reinventado nas últimas décadas, se tornou relevante com o Fundo Setorial do Audiovisual e a Ancine que ampliou e diversificou a produção de cinema no Brasil, com o Programa Cultura Viva, dos Pontos de Cultura, uma parceria com municípios e Estados que financiou milhares de iniciativas culturais e foi replicado em sete países da América Latina. As políticas culturais avançaram, mas ainda são insuficientes em um país tão diverso e desigual quanto o nosso. Esse é a nossa proposta: colocar as políticas culturais na centralidade de um outro projeto de desenvolvimento social.

Publicidade
Continua após a publicidade

2.

Henrique Meirelles (MDB)

1.

“Temos uma cultura extremamente rica, diversificada. A ideia é valorizar ao máximo a cultura no país. A população brasileira é muito pródiga em relação à cultura popular, mas por outro lado tem dificuldade de priorizar a cultura na hora de alocação de recursos, de definir prioridades. Para investir de forma eficiente usar o setor privado é fundamental, que é muito mais eficiente na execução de políticas públicas do que o setor público. A cultura é fundamental, é parte da identidade do país. Sem cultura, o país praticamente não tem identidade. É uma questão de como compatibilizar essa valorização cultural com uma prioridade efetiva para alocação de recursos públicos e privados. A ideia é tentar compatibilizar essas duas coisas.

2.

João Amoêdo (Novo)

1.

“O patrimônio cultural brasileiro precisa de medidas de longo prazo, nunca pensadas por governos imediatistas. O governo não tem capacidade nem recursos para cuidar de museus, monumentos e produção cultural. Por isso, devemos buscar parceria com entidades privadas para fazer essa gestão. Também é preciso incentivar fundações e beneméritos a assumir museus. Há casos de sucesso no mundo e no Brasil. Em São Paulo, destaco o Museu do Futebol e o Museu Catavento, administrador por organizações sociais, que são sucesso de público e crítica e exemplos de administração eficiente. Por fim, temos que profissionalizar a administração pública e reduzir as nomeações políticas.

2.

João Goulart Filho (PPL)

1.

O candidato não respondeu.

Continua após a publicidade

2.

José Maria Eymael (Democracia Cristã)

1.

“O poder público tem que ter uma ação direta nessa área. A iniciativa privada tem que ser incentivada, mas a ação direta tem que vir do poder público. E tem que ter diversidade, alcançando as várias matizes da cultura.

2.

Marina Silva (Rede)

1.

“O Brasil tem como grande riqueza sua diversidade cultural. A cultura é direito humano fundamental, ela preserva a memória, transmite conhecimento, aumenta repertório e estimula a criação. A política cultural deve fomentar a produção e o acesso à cultura e à arte, em suas diversas manifestações e em interface com a educação. Deve, também, garantir a proteção do patrimônio histórico, para as presentes e futuras gerações.

2.

Vera Lúcia (PSTU)

1.

“A cultura é elemento fundamental na constituição da identidade de um povo. Todos devem ter acesso aos meios para produzir e, sobretudo, direito a usufruir dessa produção. O problema que enfrentamos hoje é que a política de fomento à produção cultural acaba privilegiando os grandes monopólios do ramo. Que por sua vez, como grande indústria, visa o lucro. Se por um lado essa centralização de recursos promove o monopólio da produção, acaba também por limitar a circulação. Em última instância, cada segmento social tem acesso à cultura-mercadoria que a indústria determina para a sua segmentação de mercado. É preciso romper com esse modelo. Por que apenas os ricos têm acesso aos grandes espetáculos enquanto aos pobres restam apenas TVs e rádios abertas? Que aliás, são usadas como moeda de troca por apoio político e pouco cumprem a função pública de incentivar a produção local no pouco espaço que resta da programação enviada pelas grandes emissoras (cabeças de rede). O mesmo acontece com as políticas de fomento para o cinema, espetáculos de teatro, musicais etc. Em São Paulo, por exemplo, as grandes redes de sala de cinema cobram tranquilamente R$ 50 ou R$ 60 pelo ingresso. Que trabalhador pode pagar por isso? Lembram da nossa gente e da cultura do nosso nosso povo apenas quando querem dar uma aparência “regional ou folclórica” para a produção. Nesse modelo de política cultural, o povo é apenas objeto, nunca sujeito.

Continua após a publicidade

2.

• O fim dos monopólios privados de produção e da exploração da arte e da cultura. Estatização dos grandes centros culturais e museus, sem indenização, sob controle dos trabalhadores da cultura e artistas.

• Auditoria e quebra do sigilo dos contratos de concessões públicas para as grandes emissoras de TV e rádio difusoras.

• Fim da criminalização de manifestações culturais populares, como as batalhas de hip-hop, os slams, o maracatu e etc. Valorização da cultura local que inclua a contribuição de negros e negras e indígenas. Defesa de todas as formas independentes de organização dos artistas e trabalhadores da arte e da cultura. Defesa dos grupos amadores e independentes, livrando-os da pressão econômica, para que possam se desenvolver livremente.”

Publicidade
Publicidade