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OLÁ,

Bardos e rapsodos

Por Bravo
Atualizado em 22 set 2022, 12h18 - Publicado em 27 mar 2018, 08h01
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A logopeia de Diego Grando e o dicionário de Fernando Pessoa e seus heterônimos

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Foto: Leonardo Brasiliense

Por Carlos Castelo

Como tem aparecido em São Paulo feiras dedicadas à rapsódia! São muito bem-vindas. A tônica sempre é a poesia, em suas mais diversas formas, da tradicional às implementadas nas artes gráficas. Como em tudo, há coisas deveras mambembes emporcalhando certas pérolas lançadas pelos estandes. Uma dessas joias em meio ao entulho é um poeta que preenche vários requisitos do perfil que parece estar se cristalizando no mundo das artes literárias dos anos 2000: jovem, conhecedor (por vezes dilapidador) das regras da arte, múltiplo e independente. Felizmente, não estou falando de um movimento. Mas ainda de uma movimentação.

Diego Grando pode resumir esses novos bardos que vêm ganhando terreno sorrateiramente via pequenas, pero cumplidoras, casas editoriais.

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Seu mais recente lançamento, Spoilers (Confraria do Vento), revela um poeta que privilegia a logopeia para estabelecer uma comunicação mais abrangente e próxima de seus receptores.

A memória talvez seja o centro da produção de Grando em Spoilers e em seus outros três livros. Mas ele alerta que não dá para confundi-la com a pura lembrança ou com a confissão: “ela é trabalhada, retrabalhada e, em última instância, inventada. Só assim, ela pode entrar no jogo.”

Seus poetas favoritos são declaradamente Carlos Drummond de Andrade e Guillaume Apollinaire — de quem coincidentemente estou lendo Alcóois (Hedra) e ainda assim recomendo, apesar da polêmica em torno de sua tradução. Revolver Apollinaire é sempre saudável, até com eventuais bois na linha.

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Para Grando, como para o revolucionário vate francês, pode-se fazer o que bem entender, seja se apoiando no verso mais tradicional, escandido, rimado, seja recorrendo a um “jogo concretista”, com cubos, balões e o que mais estiver por vir. Por que não fazer uma síntese do que se gosta? Afinal em poesia nada está escrito sobre pedra.

Fica aqui um pequeno panorama do livro de Diego Grando. Melhor não seguir adiante, senão virão spoilers e não se deve perder essa leitura por nada.

Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português

São tantos dicionários. Do significado de palavras, de sinônimos, antônimos, históricos, gastronômicos etc. Agora, um dicionário de Fernando Pessoa é algo que eu desconhecia. E olha que esse é um lançamento da LeYa de 2010, já lá se vão oito anos e eu não pude me deleitar com verbetes dedicados à história da edição do Livro do Desassossego, Feminino na Obra de Pessoa e Maçonaria — dentre tantos outros interessantíssimos. O organizador é Fernando Cabral Martins, um especialista em modernistas portugueses da linhagem de Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro. Virou livro de cabeceira. Sugiro que coloque na sua ou presenteie seus heterônimos.

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