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Breve história da calcinha

Por Bravo
Atualizado em 22 set 2022, 12h39 - Publicado em 21 mar 2017, 11h16
“Caterina de Medici, Reine de France” , de Santi di Tito, obra que está na Galleria degli Uffizi em Florença

Por Carlos Castelo

Se as calcinhas tivessem uma madrinha ela seria, com toda justiça, Catarina de Médici. Foi a famosa rainha quem primeiro lançou a ideia do artefato, ali pelos idos de 1550, para que pudesse montar seu cavalo com a perna dobrada sem mostrar aos pequenos nobres sua grande glória.

Entretanto, a vestimenta só seria usada em escala há pouco mais de 200 anos. O que não é quase nada se comparada às cuecas, que estão aí desde a pré-história. Talvez porque a problemática masculina seja de ordem diversa, a começar pela anatomia que pede proteção diversa.

1790 foi, de fato, o marco zero da lingerie. Nesse ano, o fato de as mulheres não usarem nada por baixo de seus volumosos mantos por séculos, sofreu um pesado revés.

O fato comprova que a Revolução Francesa, como muitos julgam, não trouxe apenas Liberdade, Igualdade e Fraternidade aos povos. Mas Sensualidade. Enquanto a guilhotina caia, a cintura dos vestidos subia e propunha-se uma simplificação geral do vestuário na Europa inteira.

As formadoras de opinião do período do “Terror” passaram a usar elegantes panos inspirados no look das clássicas mulheres de Atenas. Confeccionados em fina musselina, os “vestidos império” eram bastante sensuais, mas arejados demais.

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Daí a necessidade de uma peça que protegesse a reputação das beldades da ex-Gália. O primeiro modelo a aparecer chamava-se pantaloon. Chegava até os tornozelos e era em tecido cor de carne. Dizem que foi adotado apenas pelas damas ligadas à vanguarda da moda.

Mas, pela descrição, além de roupa de baixo, a pantaloon devia funcionar mesmo era como um eficiente anticoncepcional. Se a moda do calção íntimo durasse muito tempo, a população da Europa hoje seria menor que a de Sergipe.

Enquanto isso, na terra de Kate Middleton, falecia a Rainha Vitória e seu filho mais velho, Edward VII, herdava o trono. O período encerra a longa e nada excitante “Era das Calçolas”.

A ascensão das panties no Reino Unido seria inexorável, já que no período vitoriano a coisa mais sensual usada pelas mulheres britânicas era o prendedor de coque. Já em épocas mais recentes, precisamente em 1930, a Dunlop Rubber Company inventou o “lastex”, uma combinação de borracha de látex e amônia. Logo veio a criação da calcinha feita nesse material que inicialmente era destinada apenas às meninas.

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Pouco tempo depois, em 1939, uma loja de departamento de Nova York fez um anúncio de uma espécie de suporte atlético para senhoras. Custava cinco dólares a unidade: o salário de um dia inteiro para a maioria das pessoas naquele momento. Os suportes eram muito parecidos com longos shorts e apregoavam benefícios higiênicos. O produto mostrou que uma ideia sem Planejamento Estratégico geralmente causa de uma estranheza à uma hecatombe social, dependendo do nível de achismo do gerente de marketing.

Na década de 1960, indignadas, as mulheres começaram a exigir mais fortemente que os fabricantes criassem linhas que valorizassem suas formas. Elas haviam percebido que o underwear da época desmerecia até mesmo a sua overwear.

A pressão deu certo, a calcinha evoluiu para algo macio e bonito. E daí para o Women’s Lib, a queima de sutiãs e outras manifestações femininas mais radicais. Dez anos mais tarde, a revolução sexual tomou conta de vez da indústria de peças íntimas e as calcinhas foram ficando ainda menores, cool e sexies.

Hoje estão tão integradas à cultura que artigos como este viraram as calcinhas do jornalismo: pouco lembrados, mas essenciais à vida mundana.

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