Breve história da calcinha
Por Carlos Castelo
Se as calcinhas tivessem uma madrinha ela seria, com toda justiça, Catarina de Médici. Foi a famosa rainha quem primeiro lançou a ideia do artefato, ali pelos idos de 1550, para que pudesse montar seu cavalo com a perna dobrada sem mostrar aos pequenos nobres sua grande glória.
Entretanto, a vestimenta só seria usada em escala há pouco mais de 200 anos. O que não é quase nada se comparada às cuecas, que estão aí desde a pré-história. Talvez porque a problemática masculina seja de ordem diversa, a começar pela anatomia que pede proteção diversa.
1790 foi, de fato, o marco zero da lingerie. Nesse ano, o fato de as mulheres não usarem nada por baixo de seus volumosos mantos por séculos, sofreu um pesado revés.
O fato comprova que a Revolução Francesa, como muitos julgam, não trouxe apenas Liberdade, Igualdade e Fraternidade aos povos. Mas Sensualidade. Enquanto a guilhotina caia, a cintura dos vestidos subia e propunha-se uma simplificação geral do vestuário na Europa inteira.
As formadoras de opinião do período do “Terror” passaram a usar elegantes panos inspirados no look das clássicas mulheres de Atenas. Confeccionados em fina musselina, os “vestidos império” eram bastante sensuais, mas arejados demais.
Daí a necessidade de uma peça que protegesse a reputação das beldades da ex-Gália. O primeiro modelo a aparecer chamava-se pantaloon. Chegava até os tornozelos e era em tecido cor de carne. Dizem que foi adotado apenas pelas damas ligadas à vanguarda da moda.
Mas, pela descrição, além de roupa de baixo, a pantaloon devia funcionar mesmo era como um eficiente anticoncepcional. Se a moda do calção íntimo durasse muito tempo, a população da Europa hoje seria menor que a de Sergipe.
Enquanto isso, na terra de Kate Middleton, falecia a Rainha Vitória e seu filho mais velho, Edward VII, herdava o trono. O período encerra a longa e nada excitante “Era das Calçolas”.
A ascensão das panties no Reino Unido seria inexorável, já que no período vitoriano a coisa mais sensual usada pelas mulheres britânicas era o prendedor de coque. Já em épocas mais recentes, precisamente em 1930, a Dunlop Rubber Company inventou o “lastex”, uma combinação de borracha de látex e amônia. Logo veio a criação da calcinha feita nesse material que inicialmente era destinada apenas às meninas.
Pouco tempo depois, em 1939, uma loja de departamento de Nova York fez um anúncio de uma espécie de suporte atlético para senhoras. Custava cinco dólares a unidade: o salário de um dia inteiro para a maioria das pessoas naquele momento. Os suportes eram muito parecidos com longos shorts e apregoavam benefícios higiênicos. O produto mostrou que uma ideia sem Planejamento Estratégico geralmente causa de uma estranheza à uma hecatombe social, dependendo do nível de achismo do gerente de marketing.
Na década de 1960, indignadas, as mulheres começaram a exigir mais fortemente que os fabricantes criassem linhas que valorizassem suas formas. Elas haviam percebido que o underwear da época desmerecia até mesmo a sua overwear.
A pressão deu certo, a calcinha evoluiu para algo macio e bonito. E daí para o Women’s Lib, a queima de sutiãs e outras manifestações femininas mais radicais. Dez anos mais tarde, a revolução sexual tomou conta de vez da indústria de peças íntimas e as calcinhas foram ficando ainda menores, cool e sexies.
Hoje estão tão integradas à cultura que artigos como este viraram as calcinhas do jornalismo: pouco lembrados, mas essenciais à vida mundana.