Com “semba” no pé
O multiartista pernambucano Antonio Nóbrega apresenta até este fim de semana em São Paulo o espetáculo “Semba”, no Sesc Pinheiros, marcando o centenário do samba com um apanhado de músicas que não nos deixam esquecer de que se trata de um gênero diverso e com diferentes facetas por todo o país.
Por Matheus Pimentel
Em 2016 a gente celebra o centenário do samba, tendo como referência o que é considerado como a primeira gravação de uma música do gênero. Você já disse que “quem entender o samba vai entender o país, e vice-versa”. Por quê?A origem do samba coincide praticamente com os começos do Brasil. Concomitante ao processo de colonização do país, ia se gestando aquilo que no alvorecer do século 20 se institucionalizaria como samba. Formas diferentes e primordiais de samba se disseminaram pelo país como reflexo de processos socioeconômicos. Não existiria samba se o Brasil não fosse como é.
Há tempos que o samba tem um status de prestígio, mas, até as primeiras décadas do século passado, ele era bastante reprimido e estigmatizado. A que você atribui essa mudança?
A cultura do povo sempre foi, e continua sendo, discriminada e reprimida. Quando, em algum momento, ela começa a frequentar os dispositivos da classe dominante (rádio, televisão, mídia em geral), ela é aceita. Mas, atenção, desde que se comporte dentro do “status quo”.
O que você diria que o samba fez pelo Brasil?
O samba tem sido uma das formas de relatar o Brasil, uma espécie de pequeno jornal de imensa carga lúdica. Isso quer dizer que ele ao mesmo tempo em que retrata nossas dores, alegrias, amores, tristezas etc., nos emociona, nos diverte, nos ensina. Um caminho que temos, portanto, para poder ampliar a nossa consciência das coisas, do mundo e de nós mesmos.