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Decassílabos Duvivier

Por Bravo
Atualizado em 21 set 2022, 22h11 - Publicado em 9 nov 2021, 11h00

O humor e a galhofa de Gregório Duvivier convertida em sonetos — e mais lançamentos de poesia

Por Carlos Castelo

O soneto foi inventado na Itália. Contudo, os que mais me marcaram foram os de Luís de Camões. Desde que li aquele verso do bardo lusitano — “amor é um fogo que arde sem se ver” — aprendi a gostar da forma fixa e até criei algumas letras de música no mesmo padrão poético.

Camões foi um renascentista e, como tal, tinha uma visão universalista de mundo. Por isso, definições como estas, do amor sendo um fogo que queima sem ser visualizado. Serviam para explicar aquele sentimento específico de forma ecumênica.

O soneto, com o passar dos anos, foi se amoldando aos novos tempos. No Brasil há um bom número de poetas que atualizaram o gênero de forma importante. Um deles é Glauco Mattoso. Inseriu seu humor cruel-cáustico, suas obsessões, aos quartetos e tercetos com a habilidade de um Gregório de Matos hodierno.

Outro inovador sonetista é Wilberth Salgueiro. Dispensando as rimas e acrescendo surpreendentes enjambements, Salgueiro instaura realidades inusitadas à categoria.

Agora, um terceiro bardo une-se a Mattoso e Salgueiro: Gregório Duvivier. O escritor, ator e roteirista acaba de lançar Sonetos de Amor e Sacanagem, uma reunião de 48 sonetos em que aborda diversos temas. De longe, amor e sexo são os mais presentes. Sempre tratados com a pena da galhofa e a tinta da ironia. Como este Soneto do amor virtual:

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Encontrei-a no tinder de manhã,
logo quis conhecer melhor ao vivo,
mas pediu: “me adiciona no instagram
e seguimos nesse outro aplicativo.”

Mal conecto aparece a cidadã
que viu no meu perfil que estou ativo.
Só que quando proponho o tananã
parece que fiquei radioativo.

Há quem goste mais de homem, de mulher
de animal, de cadáver, de apanhar,
e há quem goste, como esse meu affair,

de manter relação com avatar.
Só me resta pensar: “fiz o que pude”.
Torcer pra, ao menos, receber um nude.

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+ POESIA

§ Meus Poemas não Mudarão o Mundo. Patrizia Cavalli. Jabuticaba. Numa linguagem aparentemente simples, de rua, Cavalli faz aflorar uma poesia com ares aforísticos. E como “não perfuma a flor”, como dizia João Cabral, obtém como resultado uma contundência surpreendente.

§ Trilha Estreita ao Confim. Matsuo Basho. Iluminuras. As errâncias do poeta Basho pelos campos, templos e arrebaldes do Japão do século XVII passados para o papel através do haibun. O haibun é um texto curto, em prosa, seguido por um ou mais haicais. A prosa que vem antes do haicai retrata uma experiência vivida pelo escritor. A tradução de Kimi Takenaka e Alberto Marsicano mantém viva a poesia de um dos principais criadores do haiku.

§ O Livro das Coisas que Nomeiam o Livro das Coisas. Aline Macedo. Borboleta Azul. Microcontos, prosa em versos, imagens. Todo um caleidoscópio de textos reunidos em forma de um pequeno dicionário. Um modo original de capturar a fragmentação e a velocidade da vida.

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