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Glitch no algorítmo

Por Bravo
Atualizado em 22 set 2022, 12h22 - Publicado em 23 jan 2018, 10h35

Cadernos de Leituras: entre obviedades, a lista de 30 livros obrigatórios da Amazon traz um surpreendente Cormac McCarthy

Cormac McCarthy

Por Carlos Castelo

A Amazon se mete em tudo. Tem Kindle, canal de streaming, app de fotografia e inaugurou recentemente, em Seattle, a Amazon Go: uma lojinha de conveniências que vende saladas, sanduíches, refeições prontas e bebidas.

A Amazon também se mete, de vez em quando, em pautar leituras. O que, de cara, já é uma forma de “dumping” com colunistas como eu, por exemplo.

A lista mais nova do conglomerado que li propunha os 30 livros obrigatórios a serem consumidos durante a vida. Como era de se prever — considerando que a Amazon trabalha com algoritmos e não com resenhadores humanos — a seleta era de uma obviedade atroz. Lolita, O Grande Gatsby, O Estrangeiro, O Apanhador no Campo de Centeio. Convenhamos, isso está mais para uma promessa de começo de ano de adolescente do que para um post de uma das maiores empresas de comercialização de livros do mundo.

Mesmo assim, um dos autores da listinha saiu do lugar comum: Cormac McCarthy com seu A Estrada. É a obra futurista do notável autor, natural de Rhode Island. A história tem lugar numa Terra totalmente devastada. As cidades em ruínas, as florestas queimadas, os céus turvos e os mares estéreis. Os poucos sobreviventes vagam em bandos.

Não é o meu favorito dele, admito. Mas, ao menos, o algoritmo da Amazon não foi 100% infeliz.

A obra que mais admiro de McCarthy é Meridiano de Sangue. Seria mais uma obviedade, à la Amazon, afirmar que nela reinventa-se a mitologia do oeste americano, mas é meio por aí, me perdoem.

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Através do personagem “kid” pode-se acompanhar — como se víssemos as imagens de uma GoPro na testa dele — a brutalidade de mercenários a serviço de governantes americanos atravessando desertos entre o México e o Texas com a missão de detonar o maior número possível de índios e trazer de volta seus escalpos.

A força e a dramaticidade da narrativa só se comparam aos melhores momentos dos contos de Flannery O’Connor Visão da Mata, As Costas de Parker e do seu segundo romance, The Violent Bear It Away.

Nota triste: Meridiano de Sangue, que saiu pela Alfaguara, está praticamente esgotado. Pode ser encontrado em sebos por valores inenarráveis. Fica aqui o apelo à editora para que coloque o mais rápido possível uma nova edição no mercado. No meridiano de sangue em que estamos atolados por essas plagas, leitura mais obrigatória não há.

RICARDO CHAPOLA

O colega cronista do Estadão lançou Faz de Conta que É Tudo Verdade (Jaguatirica). São 62 crônicas, inspiradas “nas miudezas do dia-a-dia de um jornalista indiscretamente observador. Sempre recheadas com humor e vez ou outra com uma pitada de crítica político-social”.

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Chapola é um interiorano que mora na cidade grande e traz uma visão muito própria do dia a dia na metrópole. Comecei a ler os primeiros textos e tenho me divertido bastante com os pontos de vista, o que é cada vez mais raro no panorama da crônica nacional.

ABECEDÁRIO DO FOLCLORE

Januária Cristina Alves conseguiu o quase impossível: inventariou personagens fantásticos do folclore brasileiro.

E de um jeito muito mais lúdico do que um mero dicionário à la Câmara Cascudo, fez isso através de um abecedário. É o Abecedário de Personagens do Folclore Brasileiro (Edições Sesc São Paulo e FTD Educação).

Letra após letra, cada uma das criaturas ganha uma bela ilustração do designer Cesar Berje. Meus filhos não largam o livro nem para que eu o consulte para escrever esta resenha.

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