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O carioca que cantou São Paulo

Por Bravo
Atualizado em 22 set 2022, 12h35 - Publicado em 23 Maio 2017, 07h36

Coletânea mostra por que Luís Martins foi um dos poucos cronistas com o dom de mesclar observação aguda, naturalidade e discretíssima erudição

Foto: arquivo da família

Por Carlos Castelo

Tenho a maior identificação com o cronista Luís Martins (1907–1981). Desde sempre, mesmo lendo-o no papel-jornal ou em idosas edições de sebo, o admirei. Em primeiro lugar, pelo que Drummond dizia dele (sempre com muita precisão): “o humour de Luís dosa sabiamente essa exposição do que em nossa vida é perplexidade, tédio ou alegria miúda”. Pois é, não são todos os cronistas que possuem o inestimável dom de mesclar observação aguda, naturalidade e uma discretíssima erudição, o tal do humour.

Essa identificação com o carioca-paulistano também veio do fato de ele não se levar a sério como escriba — mesmo tendo publicado mais de 7 mil crônicas durante os 32 anos em que trabalhou n’O Estado de S. Paulo. Comentava Luís Martins (ou LM, como se assinava no jornal) no final dos anos 1950 ao lançar seu livro Futebol na Madrugada:

“É a primeira vez que, como cronista, me vejo metido em volume. Confesso que me sinto constrangido como se, numa reunião em que se exige traje de gala, eu aparecesse de pijama. Um pijama de tecido grosseiro que mais se assemelha a um rude macacão — roupa de trabalho cotidiano, trabalho rotineiro…”

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LM era um cronista por natureza e destino. E soube fazer de seus desígnios uma belíssima profissão.

Numa ida recente ao Rio encontrei o jornalista e biógrafo Ruy Castro e lhe disse que Luís Martins merecia uma biografia. Seria justo a sua incrível produção e ao pioneirismo de ter sido um dos primeiros jornalistas a assinar por extenso seu material (fato inédito na imprensa brasileira dos anos 1940, que só publicava crônica assinada com as iniciais ou pseudônimo). Ruy concordou com veemência, e me lembrou do longo relacionamento de Luís Martins com a pintora Tarsila do Amaral e, ao fim da conversa, já imaginei uma série de TV ou mesmo um longa sobre a vida do escritor.

Saí do Leblon com o telefone da filha do autor, a também escritora Ana Luísa Martins. Logo a procurei buscando o material para iniciar uma sinopse cinematográfica. Foi então que soube que a Global Editora estava preparando uma edição com as melhores crônicas de seu pai. Melhor ainda: com seleção e prefácio de Ana Luísa.

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O livro é uma pequena joia. Foi dividido por assuntos que vão de reflexões sobre a vida social, os livros, as mulheres, os amigos e, sobretudo, a cidade. LM é dos poucos cariocas que, por ter saído do Rio perseguido pelo Estado Novo, acabou tornando-se o grande cantor de São Paulo. Sorte nossa.

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Melhores Crônicas de Luís Martins. Global Editora, 304 págs., R$ 49.

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