O grande tour da arte contemporânea
Documenta, Skulptur Projekte Münster e Bienal de Veneza: três dos eventos mais importantes da arte mundial chegam para relembrar, em tempos de incerteza, o papel das instituições culturais e a importância da participação ativa do indivíduo na sociedade
Por Thais Gouveia
Documenta, Skulptur Projekte Münster e Bienal de Veneza: três dos eventos mais importantes da arte mundial coincidem este ano — o que não acontecia desde 2007. No conjunto, aprofundam as questões do ativismo e do engajamento na produção artística, ao discutirem e relembrarem, por meio de extensas programações, o papel das instituições culturais e a importância da participação do indivíduo na sociedade.
Também estão aí para defender a eficácia do bom e velho diálogo, tanto como forma de resistência poética aos jogos de poder, quanto como saída para a incerteza dos tempos atuais.
A Documenta, que ocorre a cada cinco anos, teve início mo dia 8 de abril, em Atenas, cidade parceira nesta 14ª edição da exposição sediada em Kassel, na Alemanha. Junto com o EMST (National Museum of Contemporary Art), de Atenas, os alemães promovem uma troca de coleções, entre artistas e de conhecimento multidisciplinar.
A parceria entre as duas cidades, intitulada Learning from Athens, foi dividida em duas etapas: a primeira na cidade grega, que se estende até 16 de julho; e a segunda, em Kassel, de 10 de junho e 17 de setembro. Ambas instituições, dirigidas por Adam Szymczyk e Katerina Koskina, respectivamente, se debruçam sobre os aspectos políticos e históricos locais, numa troca ativa para questionar o papel das instituições de arte na construção e educação da sociedade.
Os grandes destaques da programação assumem a forma de projetos públicos transnacionais e multimidiáticos. Exemplo disso é a obra coletiva em forma de programa de rádio Every Time a Ear di Soun, que transmitirá composições sonoras criadas por artistas convidados — entre eles o camaronês Em’kal Eyongakpa, que participou da última Bienal de São Paulo. Participam do programa 9 estações de rádio de 8 países, incluindo o Brasil.
Outro grande destaque é a performance participativa Athens-Kassel Ride que consiste numa jornada humana-equestre de 100 dias — liderada pelos artistas Tina Boche, Peter van der Gugten, Zsolt Szabo e David Wewetzer — pelos 3000 quilômetros que separam as duas cidades. Os artistas partiram de Atenas dia 9 de abril e devem passar por Iugoslávia, Macedônia, Sérvia, Croácia, Eslovênia e Áustria antes de chegarem à Alemanha.
Também na Alemanha, acontece o 5º Skulptur Projekte Münster, de 9 de junho a 1 de outubro. A importante exposição, que acontece a cada dez anos na cidade de Münster, se diferencia de todos os outros eventos similares pela capacidade de aprofundamento no tema abordado, devido ao longo tempo de pesquisa dedicada para cada mostra.
Em sua 5ª edição, segue parte do mesmo caminho da Documenta ao incluir um museu de outra cidade em sua programação: o Skulpturenmuseum Glaskasten, da cidade vizinha de Marl, pequena com seus 85 mil habitantes. Bancada por fundos governamentais e instituições públicas, a Skulptur Projekte é muito valorizada por sua atuação autônoma, sem submeter-se aos interesses do mercado e das marcas. Coisa rara no mundo de hoje.
Desde seu início até hoje, a organização da grande mostra tem como ponto de partida projetos artísticos temporários direcionados a contextos específicos de locais da cidade. Para este ano, o grupo curatorial — composto pelo diretor artístico Kasper König e as curadoras Britta Peters e Marianne Wagner — convidou 35 artistas de 19 países para desenvolverem obras, de esculturas a performances, com enfoque nas experiências corporais de tempo e espaço em tempos de era digital. O conjunto de obras inclui uma ponte subaquática criada pelo artista turco Ayse Erkmen, um trabalho com telefone celular pelo alemão Andreas Bunte a uma performance de dança da artista romena Alexandra Pirici.
Sereníssima
Há mais de 120 anos acontece a Bienal de Veneza, uma das mais antigas e prestigiadas exposições de arte do mundo. Em sintonia com as edições deste ano da Skulptur Projekte e da Documenta, o evento comemora sua 57ª edição, entre 13 de maio e 26 de novembro, trazendo como tema “a raison d’être da própria instituição”, segundo seu atual presidente Paolo Baratta: um aprofundamento do diálogo entre os artistas e o público.
Intitulada VIVA ARTE VIVA, com curadoria de Christine Macel, a exposição ocupará, como de costume, os suntuosos complexos permeados por pavilhões — o Giardini e o Arsenale — e espaços culturais e instituições privadas por toda a cidade. Ao todo, 120 artistas de 51 países foram agrupados em 9 “capítulos ou famílias”, segundo a curadora, e convidados para encontrarem-se, trocarem afinidades e impulsos, além confrontarem esses sentimentos diante dos suportes e linguagens que escolheram para se expressar, numa espécie de coreografia épica.
Dentre os grandes destaques internacionais da exposição estão os artistas Antoni Miralda, Bas Jan Ader, Erwin Wurm, Leonor Antunes, Xiao Guan, Sheila Hicks, David Medalla, Phyllida Barlow, Francis Alys, Gabriel Orozco e Anri Sala. Os brasileiros convidados deste ano são Paulo Bruscky, Ayrson Heráclito e Ernesto Neto, e o pavilhão brasileiro, organizado pela Fundação Bienal de São Paulo, apresentará obras de Cinthia Marcelle.
Durante o período expositivo também se desenrolarão importantes eventos paralelos no Arsenale e outros pontos da cidade — festivais de dança, teatro, cinema e música — proporcionando ao visitante da Bienal de Veneza as mais ricas experiências entre aquelas linguagens e a arte contemporânea.
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Documenta 14: em Atenas (8/4 a 16/7) e Kassel (10/6 a 17/9). Ingressos de € 22 (um dia) € 100 (acesso permanente). www.documenta14.de. 5º Skulptur Projekte Münster: em Münster (9/6 a 1/10). Ingresso: € 18. www.skulptur-projekte.de. 57ª Bienal de Veneza: em Veneza (13/5 a 26/11).Ingressos de € 25 a € 80 (acesso permanente) www.labiennale.org