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O tempo da delicadeza

Por Bravo
Atualizado em 21 set 2022, 22h19 - Publicado em 31 out 2019, 20h14

Na revisão do passado e na projeção sobre o futuro em “As Crianças”, nova montagem de Rodrigo Portella, uma reflexão sobre sutilezas e complexidades da existência

Foto: Guga Melgar

Por Gabriela Mellão

O espetáculo As Crianças, da autora inglesa Lucy Kirkwood, comemora 40 anos de carreira dos atores Analu Prestes, Mario Borges e Andrea Dantas. A celebração tem tom de revisão. Sob encenação de Rodrigo Portella, a trinca interpreta um acerto de contas com o passado que se atém sobre as implicações pessoais e sociais do destino. Ao inventário de perdas e ganhos existenciais que acompanha a proximidade dos três personagens com a finitude humana, se justapõe uma discussão ética sobre a responsabilidade das gerações estabelecidas sobre as que ainda estão em formação — as tais crianças do título.

Esse jogo de reparações chega a São Paulo do Rio de Janeiro com a indicação de 14 prêmios no currículo. Revela-se através de uma encenação simples e precisa, a partir da visita que Rose (Dantas) faz a um casal de físicos aposentados: Dayse (Analu Prestes) e Robin (Mario Borges), antigos colegas de profissão, numa região inóspita assolada por um acidente nuclear.

Portella, responsável por obras de caráter experimental como o memorável Tom na Fazenda, serve ao texto ao centrar sua encenação na palavra e na interpretação dos atores de forma a ressaltar a humanidade do trio.

A jovem autora surpreende pela profundidade de sua leitura sobre a vida. Nesta obra cuja estreia se deu no mítico Royal Court, em 2006, ela constrói seres complexos, constituídos por forças e fraquezas, cujos destinos se revelam enigmas criados a partir de uma combinação insondável de escolhas morais e amorais, bem como acontecimentos voluntários e involuntários.

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A autora se atém sem pressa ou elucubrações de linguagem à tessitura da trama. A maneira dilatada com que apresenta os personagens e desenvolve o conflito convidam o espectador a um outro tempo, ao tempo da desaceleração, ao tempo da reflexão. Talvez seja um convite ao mundo do envelhecer. Talvez seja um convite ao mundo da sutilezas humanas.

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Sesc 24 de Maio (Rua 24 de Maio, 109, República, SP). De quinta a sábado às 21h,e domingo às 18h; até 17/11. R$ 12 a R$ 40. Classificação 14 anos

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