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O trabalho de Tunga está vivo

Por Bravo
Atualizado em 22 set 2022, 12h45 - Publicado em 12 out 2016, 09h47

Por José Resende

A Galeria Millan, em São Paulo, inaugura no próximo sábado, dia 15, a exposição Pálpebras, em que Tunga estava trabalhando quando morreu, em junho passado, aos 64 anos. O artista plástico José Resende escreve, com exclusividade para a Bravo!, sobre o amigo e as obras inéditas, e outras pouco conhecidas, que estarão na mostra, aberta ao público a partir do dia 18.

José Resende é um dos artistas brasileiros mais importantes da segunda metade do século XX. Foi um dos fundadores do Grupo Rex (com Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo e Frederico Nasser) e da Escola Brasil. Também ajudou a criar e editou a revista Malasartes e o jornal A Parte do Fogo. Participou da Bienal de Paris de 1980, da Bienal de Veneza de 1988, da Bienal de Sidney de 1998 e de diversas edições da Bienal de São Paulo.

Obras da série “Phanógrafos”

O trabalho do Tunga está vivo:

Por alimentar sempre novos sentidos que dele se depreende, confirmando e garantindo sua permanência;

Por manter a qualidade que sempre teve de surpreender, e assim estimular a produção de outros artistas, entre os quais me incluo, inclusive alguns que ainda estão por vir;

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Por ser um trabalho combatente, que se pensa sempre como ruptura, se reinventa, questiona os limites do que poderia contê-lo;

Pela necessidade que impõe de experimentá-lo concretamente, convivendo fisicamente com ele, pois qualquer descrição é redutiva, portanto vivo por ocupar um lugar entre as coisas no mundo;

Por ser um trabalho que transborda, não se conclui ou se aprisiona em um determinado significado, pois há sempre nele um excesso que se agrega, oriundo de referências múltiplas, transversais, que de forma livre acoplam sentidos literários, fábulas, sons, observação de fenômenos físicos, biológicos, e do mundo da psique — ou seja: muitos e diversos corpos que resultam em um vocabulário próprio com articulações muito originais de materiais, com soluções inclusive de procedimentos inaugurais na história da escultura se vistos com atenção;

Através dos desenhos, parte constitutiva da obra, na realidade uma escrita sensível, que recolhe e organiza significados, uma espécie de pauta onde a música se organiza e nos reporta ao que será executado ao vivo;

Por corresponder ao que se espera de um trabalho de arte sem permitir que se considere extraordinário ou de exceção, pois esta é uma exigência que se impõe para que seja dito de arte, e não há como negar sua flagrante ambição, seguramente sua maior qualidade.

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Obras da série “Morfológicas”

A obra não pode ser quantificada pelo número de trabalhos que foram executados, pois cada um são muitas vezes vários. O ineditismo de tudo que vai se ver na Galeria Millan corrobora com a premissa do que aqui foi dito:

O trabalho do Tunga está vivo.

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Pálpebras — de 18/10 a 12/11. Terça a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 11h às 18h. Galeria Millan (Rua Fradique Coutinho, 1360 e 1416, São Paulo)

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