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OLÁ,

O traço acadêmico do mestre

Por Bravo
Atualizado em 22 set 2022, 12h38 - Publicado em 20 abr 2017, 15h40
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Na série de entrevistas com grandes cartunistas brasileiros, Rafael Spaca conversa com Eduardo Vetillo

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Por Rafael Spaca

Sua inclinação para desenhar vem desde pequeno. Você acha que esse dom já vem de berço ou dá para se tornar um grande desenhista depois, adulto?

Eu acredito mais no dom, que é de berço, tal como acontece com a música e a literatura, mas com certeza pode se chegar a um alto estágio através do conhecimento, da prática e da vontade de vencer.

Aquela ida, levado por sua tia, ao atelier do pintor Paulo do Valle, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, foi o fator fundamental para você se decidir ingressar na área de ilustração?

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Não, isso foi mais tarde, mas o atelier e o trabalho dele me impressionaram muito e de alguma forma teve influência, pois ele era um acadêmico.

Você, além do dom natural, foi aprimorar sua técnica na Escola de Artes Visuais de Nova York, onde formou-se e cursou também o Instituto de Artes de Minneapolis, ambos nos Estados Unidos. Por que resolver estudar lá e não aqui no Brasil?

Precisava aprimorar minhas técnicas de ilustração, pois o básico eu já dominava, e a Escola de Artes Visuais foi fundamental nesse aspecto.

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Você sempre cita Alex Raymond, Al Capp e Frank Robbins como suas influências. Isso foi antes ou depois de ir estudar nos Estados Unidos?

Antes, bem antes; Alex Raymond foi o meu mentor nas HQs, desde os nove anos, quando comecei a ler e admirar as estórias de detetive Rip KirbY (Nick Holmes).

Quando e por que, depois de se formar, você decide voltar ao Brasil?

Trouxe vários créditos após quase três anos nos Estados Unidos.

Acredita que se tivesse ficado nos Estados Unidos, exercendo seu oficio, teria mais sucesso (em todos os aspectos) do que ficando no Brasil?

Pensei nisso, mas na época não tinha condições profissionais para competir numa estrutura já formada desde o inicio do século XX.

Gostaria que falasse quais são as suas principais recordações do estágio que fez no Push-Pin Studios de Nova York, um estúdio gráfico de vanguarda.

O fato de ter convivido com artistas do quilate de um Milton Glaser, Seymooy Chwast, Al Willianson, designers de vanguarda na época.

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Mas nem tudo foram flores no seu tempo nos Estados Unidos. É verdade que você consertava telhados lá pra se manter?

É verdade, tive até um acidente que me deixou fora de ação por três meses.

O período nos Estados Unidos foi fundamental para a formação da sua mente empreendedora?

Foi mais pelo enriquecimento curricular que muito me ajudou no meu retorno ao Brasil.

Foi graças ao seu empreendedorismo que você abre seu estúdio, a Inart Serviços Editorias Ltda, e a partir daí começa a prestar serviço com ilustrações de livros didáticos e paradidáticos de grandes editoras como F.T.D., Ática, Moderna e Ciranda Cultural?

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Sim, foi o inicio de um longo período de produção artística para essa e outras editoras de ponta.

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Seu estúdio continua na ativa?

Não, a INART já há muito foi desativada por decisão minha.

Você também trabalhou em pequenas agências de propaganda, como foi isso e o que fazia lá?

Foi um período curto e de más recordações; muita competição e estrelismo no mundo publicitário.

Seu irmão também desenha. Fala a respeito dele.

Não, ele não desenha; se atém somente aos roteiros para as HQs e livros paradidáticos.

Seu primeiro trabalho em HQ foi a respeito da Proclamação da Independência do Brasil, publicado pela Edrel. Como foi a sensação de ver seu trabalho impresso?

Essa HQ infelizmente não foi publicada; foi uma época de quase total estiagem das editoras de pequeno porte, como a Edrel.

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Você é considerado um dos maiores caricaturistas do país, como foi que desenvolveu essa técnica? E o que é preciso fazer para executa-la tão bem? Sei que lançou um livro contando algumas técnicas, pode falar algo aqui?

Lancei esse livro, mas não me considero do primeiro escalão de caricaturistas; apenas me divirto em fazê-las.

Nos anos 60 você ilustrou as páginas centrais do suplemento colorido “Folhinha de S. Paulo”. Quais as recordações deste período?

Muito boas. Fazia a Folhinha junto com o Mauricio de Sousa. A mim cabia fazer a página central (dupla), referentes às principais datas do calendário nacional.

Urtigão e Peninha eram os personagens que você mais desenhava na Editora Abril. Sua entrada na editora se dá em 1974. Fale destes trabalhos realizados lá.

Foi um período muito fértil e prazeroso, além das HQs desses personagens, fazia também algumas revistas de atividades, tais como: Pinte Legal, Duck Tales, Cruzadinhas Disney, etc.

Você tinha que seguir certos parâmetros para desenhar as histórias destes dois icônicos personagens?

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Eu tive a liberdade para usar minhas técnicas próprias para dinamizar as estórias, ou seja, abusar dos movimentos. O meu estilo e a minha preferência sempre foi com o acadêmico e nessa ótica Spectreman e Chet se encaixavam perfeitamente.

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Trabalhar na Editora Abril significava o ápice na carreira de um desenhista?

Não, apenas mais uma etapa na carreira de um desenhista, já que naquela época dependia-se quase que totalmente das editoras, ao contrário de hoje com muitos profissionais de desenho independentes.

Você trabalhou em grandes editoras, então, uma a uma, rememore o que fez lá:

Cortez

A Ilha do Tesouro, O Guarani, Palmares, Sete Povos das Missões, Liberdade ainda que Tarde, A Retirada da Laguna, Rondon, A Ilíada e Anita Garibaldi.

Melhoramentos

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A Tempestade.

RGE

Vários personagens de Hanna-Barbera, tais como Bionicão, Scooby-Doo, Jana das Selvas, Falcão Negro, etc.

Globo

Lá desenhei Chaves e Chapolin, e Sitio de Pica-Pau Amarelo.

Vecchi

Fiz Chet e colaboração para a Spektro.

Bloch

Trapalhões e Spectreman

Disney

Urtigão e Peninha, além das revistas de atividades.

Você fez um trabalho contando a história da cidade de Jandira em HQ, em São Paulo. Nada melhor do que contar a respeito deste trabalho para entender como é fazer um trabalho sob encomenda.

Meu irmão pesquisou e roteirizou e eu quadrinizei esse álbum histórico da cidade de Jandira.

Falando das encomendas, como foi ser contratado pela Novartis para trabalhar como retratista nos seus stands de convenções médicas?

Excelente! Foi o trabalho mais bem remunerado que já tive e a oportunidade de conhecer várias capitais e cidades brasileiras.

Muitos te chamam de Mestre. Isso é um peso, te incomoda, ou é um elogio?

Não, simplesmente é uma denominação que recebemos após um longo tempo trabalhando na nona arte.

Você desenhou Emília, Xuxa, Chapolim e Chaves, Trapalhões, Spectreman e Chet. Dá para fazer algum paralelo entre esses trabalhos?

O paralelo a ser feito é o seguinte: Spectreman e Chet dentro do padrão acadêmico e as demais dentro do estilo infantil.

No famoso estúdio Ely Barbosa você desenhou personagens da Hanna-Barbera. Como era trabalhar lá?

A melhor época minha nas HQs, lá se respirava quadrinhos, havia liberdade total de criação e uma confraternização total entre todos que lá trabalhavam.

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Qual é o seu estilo?

Acadêmico, e quando se trata de HQs infantis, caricato.

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