Para onde vai o audiovisual?
A diretora Georgia Guerra-Peixe defende que a pandemia criou uma nova linguagem estética
Por Georgia Gueirra-Peixe*
Março de 2020. De repente, as buzinas ficaram distantes. O ruído humano, inexistente. E os pássaros passaram a ocupar um lugar de destaque no meu amanhecer. Início da pandemia. Estamos em casa, isolados e cheios perguntas.
Os projetos foram parando, um a um. Os filmes que estavam na pasta do realizar foram arrastados para a da interrogação. Do ponto e virgula. Das reticências…
Nossa produtora, Café Royal, caminhava para o seu primeiro ano de vida, cheia de boas notícias. Sim, as dúvidas eram muitas, mas a certeza, uma só: não iríamos ficar parados! Porque movimento gera movimento.
Telefonemas, e-mails, notícias na TV e na internet. WhatsApp “bombando”! Em meio a esse turbilhão, entendemos o que era preciso ser feito. Simples. O mesmo que já vínhamos fazendo: acreditar, compartilhar, dirigir a distância e acionar o nosso círculo de relação.
Pronto! Três dias de isolamento e aprovamos o primeiro dos 50 filmes publicitários produzidos pela Café Royal em 2020. Conto isso porque quando penso na perspectiva para as produções audiovisuais no momento, preciso contextualizar e compartilhar as minhas próprias experiências.
Ao falar de audiovisual, precisamos citar publicidade, cinema, séries, documentários… Precisamos olhar para a indústria de conteúdo como um todo. Se por um lado a publicidade precisou se virar para continuar produzindo, o mercado também precisou anunciar. Qual foi a saída? Produtoras, agências e clientes se juntaram para encontrar soluções. E acharam! Achamos! Portanto, a conclusão que eu tiro é que a pandemia criou uma nova linguagem estética. E em diversos meios…
A dramaturgia e os documentários tiveram que parar para rever processos. Produções, desenvolvimentos e roteiros também pararam. Assim como o cinema, que por sinal já não vinha com muitas certezas por conta do absurdo da política cultural, social e educacional. Não só parou de produzir como precisou fechar as portas de suas salas.
Mas a real é que novas telas se abriram. Nunca o brasileiro consumiu tanto audiovisual! Principalmente na internet. E, olha só que ironia, com o mesmo efeito e velocidade de uma pandemia…
Então, quando me pergunto “Qual a perspectiva para as produções audiovisuais no momento?”, encontro apenas uma resposta: o novo!
Nos players, muitas mudanças, de comando e editoriais. No YouTube, surgem novos nomes e formatos. No Instagram, novas linguagens. Na publicidade, as marcas estão se unindo às agências, que vêm se aproximando das produtoras. No entretenimento, dependemos de movimentos políticos lúcidos, o que, na minha opinião, não acontecerá agora. Mas sigo acreditando. E é justamente por isso que entendo que é preciso estar sempre com bons projetos na manga. Afinal, não podemos parar de criar!
Quantos filmes ou séries produziremos no Brasil em 2022? Não sabemos. Como estará o mercado do cinema nacional? Não temos ideia. Quantas novas linguagens conheceremos nos tiktoks da vida e qual será a nova plataforma de conteúdo audiovisual a nos influenciar? Não dá pra prever. Só sei que não podemos parar de criar, desenvolver e produzir. A única certeza que eu tenho é que vamos sobreviver e sair dessa mais fortes, mais unidos e, principalmente, diferentes.
*Georgia Guerra-Peixe, Joca, é sócia da produtora Café Royal