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OLÁ,

“Parcerias são essenciais na HQ”

Por Bravo
Atualizado em 22 set 2022, 12h27 - Publicado em 24 ago 2017, 11h16
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Na série de entrevistas com grandes quadrinistas brasileiros, Rafael Spaca fala com Denison

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Por Rafael Spaca

Você trabalha de dia e só no tempo livre consegue se dedicar ao desenho. Essa é a realidade da maioria dos profissionais que desejam ingressar nessa área?

Com certeza eu deveria me dedicar mais aos desenhos, não tenha dúvida. Se eu ainda estou nessa, e é normal estar, é porque eu ainda não estou me dedicando como deveria ao que realmente interessa que é fazer o que se gosta.

A culpa é sua ou do país?

Se o problema é o país e eu faço parte do país, então eu sou parte do problema também, por algo que eu esteja ou não fazendo ou permitindo que façam. Por que a gente permite por tanto tempo? Será que o brasileiro está realmente tão mal representado?

Angeli, Paulo Caruso, Allan Sieber entre outros são as exceções que não confirmam a regra?

Esses caras são referências, são os tradutores do pensamento humano em imagem e na forma mais refinada de inteligência que é o humor.

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Dá pra chegar nesse patamar em que eles estão?

Eles não são só desenhistas, são pensadores criativos, mentes inquietas, tem muita gente assim que simplesmente ninguém conhece, esses mestres foram corajosos o bastante pra compartilhar seus pensamentos, é preciso uma boa dose de coragem pra isso.

Por que acha que esses caras conseguiram assumir uma posição consolidada, de viver do seu trabalho, o desenho?

Eu não sei se eles já começaram assim, mas acredito que muitas vezes eles devem ser obrigados a dizer não para alguns projetos, até com certa dor no coração, por falta de tempo, pois há sempre muito trabalho a ser feito. Pra viver disso você precisa da mesma organização e disciplina que precisaria ter pra viver de qualquer outra coisa, é preciso estar disponível para parcerias. Ninguém faz nada sozinho e encarar as oportunidades de embarcar nos projetos dos amigos se você não tiver um seu.

Se é tão difícil sobreviver nessa área, a insistência vem da onde e por qual razão?

A insistência vem da necessidade que temos de nos comunicar, de trocar ideias, de dizer alguma coisa. Por isso a produção criativa é infinita e fértil.

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Tem alguma história que te inspira?

A história do Superman é a história do arquétipo humano, a ideia de ser acolhido e, em gratidão, devolver o melhor de si. É o que explica a devoção do Superman ao ser humano.

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Neste percurso o que você estabeleceu de positivo nesta “panela” das HQs?

Desenhar realmente abre seu leque de contatos porque as pessoas chegam umas às outras primeiro através da arte e afinidades, e se descobrem. Nos eventos a gente conhece todo mundo, em dois ou três lançamentos, se você for um cara legal e um pouco cara de pau, você entra pra turma fácil. O pessoal é muito receptivo, todos gostam de trocar ideia e ninguém se torna seu adversário, todos são parceiros porque as produções acontecem das parcerias — é muito difícil pra não dizer impossível, fazer tudo sozinho, logo, qualquer um pode a qualquer momento se tornar um parceiro de produção de verdade. Mas amigos mesmo, com quem eu troquei uma ideia e que não poderia deixar de citar são 1) o Bira Dantas — esse é o cara mais simpático do mundo, ele agrega as pessoas, eu digo que se ele for te dar a notícia da morte de alguém, ele vai dar a notícia sorrindo, se você estiver mau e encontrar o Bira, você fica bem; 2) o Eduardo Vetillo é um mito, eu fiquei meio em choque quando eu conheci ele, imagina aqueles livros de história da escola, com um Tiradentes, uns caras nuns cavalos, escravos, índios, uma Princesa Isabel, provavelmente muitos de nós estudamos história ou geografia, talvez até ciências com os desenhos deste senhor que ilustrou muitos livros didáticos é surreal; 3) uns dez anos atrás antes de sonhar em conhecer essa galera toda, eu já trocava muita ideia com o Gualberto Costa, eu ficava na loja dele lá na Praça Roosevelt enchendo o saco, alugava a orelha dele coitado, mas meu, o cara tinha tudo! Era incrível ! E eu comprava muito, gastava todo o meu pobre dinheirinho em quadrinhos lá, mas era barato porque tinha muito fanzine, muita coisa boa começou ali e ele sempre falava “faz alguma coisa e traz aqui cara, tem espaço.” E tinha mesmo, olha aí pelo menos já estou fazendo o Adroaldo… O Gual é um dos alicerces dessa turma valente que são os caras e as minas que fazem quadrinhos. Mas um que eu não posso deixar de mencionar é o Álvaro de Moya, a gente percebe a grandiosidade de uma pessoa por sua generosidade. Ele era extremamente acessível, dava conselhos e contava histórias como se você fosse tão importante quanto um profissional antigo. Ele tratava as pessoas todas da mesma forma e com muito bom humor, sem falar na energia de estar presente em todos os eventos dando a força de sua presença à produção da nona arte. Me sinto honrado por ser lembrado e reconhecido por ele, cheguei a ir em sua casa, em Moema, conversamos muito, ele me deu vários conselhos, tomamos café, é surreal ser recebido pelo mestre dos quadrinhos em sua própria casa! Aliás, Rafael, nos encontramos pela última vez no lançamento do seu livro dos quadrinhos dos trapalhões, estávamos todos lá.

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Você trabalhou muito tempo fazendo peças gráficas no Sesc Santo André. Como foi a experiência lá e o que este trabalho te beneficiou em relação ao seu trabalho como ilustrador?

Trabalhar no Sesc foi ótimo porque pagaram meus cursos de produção gráfica, a parte que eu não era bom na faculdade, coisa muito prática, eu era mais criativo de comunicação visual. Época boa, de muito trabalho, respirava Cultura e dava muita, muita risada com a equipe. É divertido fazer o que você curte. Nessa época eu dominava algumas ferramentas de ilustração digital, mas não muitas, quando eu saí de lá já dominava ferramentas melhores que me são úteis até hoje no trabalho de ilustração.

Nesse tempo lá você exercitava seu traço?

Exercitava pouco, lá o trabalho criativo era mais voltado a resolver os problemas de comunicação, a parte criativa ainda era apenas um treino.

Desenvolveu histórias/personagens próprios ou era uma coisa mais aleatória?

Eu tenho alguns, todo mundo tem, eu acho, até quem não desenha. Quem não tem ou pelo menos teve na infância um ou vários personagens próprios ?

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Tem roteiros e personagens próprios?

Roteiros, ideias, projetos, parceiros criativos, temos bastante. Tempo e dinheiro, não temos muito.

O que te motiva a criar?

O que me motiva a criar são as ideias dos outros, como traduzir isso em linguagem visual. Todo mundo tem uma boa história pra contar, é bom poder contribuir com isso.

Quais são as suas referências no desenho?

Referências no traço são muitas — Disney, Cartoon Network, quadrinho americano, mangá, Ziraldo, Mauricio de Sousa, Laerte, Adão…dependendo do dia ou da referência que eu preciso.

Em algum momento você foi desacreditado?

Desacreditado como desenhista nunca, mas como muitas outras coisas sim. Por isso que eu vou largando essas coisas e continuo desenhando, pelo menos é onde eu menos erro e onde eu me sinto mais à vontade.

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Chegou a acreditar nestas pessoas ou isso te deu ainda mais força para seguir em frente?

Eu nunca dou ouvidos a críticas, mas eu respeito muito quem me apresenta ideias melhores, costumo sempre que possível realmente colocá-las em prática.

Como define seu traço?

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Eu acho meu traço meio rápido, até fácil de copiar, mas eu busco boas soluções e combinações agradáveis. Uso muito a cor preta e cores fortes, assisti a muito desenho na TV nos anos 80 e 90. Aprendi a desenhar vendo e tentando copiar esses desenhos.

Você trabalha também fazendo capas e diagramação de livros. Fale a respeito.

As capas de livro são parte do trabalho de produção gráfica, é comunicação. Normalmente a concepção criativa já vem pré-definida pelo autor, mas quando você tem liberdade criativa a história é outra aí você literalmente pode fazer o que quiser.

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É uma forma de exercício ou não tem nada a ver?

É um exercício prazeroso porque cada história envolve uma pesquisa, uma certa entrega ao universo ao qual você vai ser responsável pela forma como os leitores vão guiar a própria imaginação. Porque você faz um desenho de um cachorro andando, mas as pessoas vão ver e se lembrar de um cachorro andando mesmo, de verdade. A imagem direciona a mente, ilustrar a história de alguém, mesmo que se tenha total liberdade criativa, é uma grande responsabilidade.

A internet é uma plataforma forte ou o que te interessa é ser publicado em jornais que dá mais peso ao trabalho?

A Internet é o caminho mais rápido e mais fácil mas é bom estar disponível em todas as mídias possíveis pra chegar ao maior número possível de pessoas sem distinção de público por preferência de plataforma ou qualquer outro tipo de separação, o que dá peso ao trabalho é seu conteúdo e se ele se identifica com o leitor ou se não se identifica, se pelo menos o incomoda.

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E o Adroaldo, fale a respeito deste personagem.

Adroaldo foi a minha porta de entrada para o lado bom da profissão, a parte realmente criativa e divertida, onde eu conheci as pessoas mais legais, grandes parceiros criativos e profissionais, já trabalhei muito para o lado negro da força mas sinto que esse projeto conversa muito com o que eu gosto de fazer por isso que eu não pretendo parar tão cedo.

Ele é politicamente incorreto? É um desenho para criança ou para adultos?

Um adulto devia ler primeiro e decidir se a criança pode ler ou não, talvez seja o mais seguro. Mas como já está na Internet é mais provável que as crianças o apresentem aos adultos.

Como é trabalhar já com um roteiro pronto?

Trabalhar com um roteiro pronto é sensacional porque, primeiro, já te poupou metade do trabalho, você sé tem que desenhar — é bom porque te isenta de qualquer responsabilidade criativa, você comunica a sua ideia visual e diz que está apenas seguindo o roteiro. É muito bom, eu funciono bem quando me dão um roteiro pra seguir. Sozinho eu me perco um pouco.

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Qual é a margem que você tem para a criação?

Eu tenho liberdade total na criação visual, eu só sigo o roteiro e peço ideias quando preciso de algum direcionamento, mas faço tudo do jeito que eu quero, as piadinhas visuais são culpa minha mesmo.

Mesmo com um trabalho ainda em fase inicial a repercussão que ele está atingindo te envaidece ou te constrange?

Na verdade me assusta, eu não esperava a repercussão que teve até agora. Mas não me intimida, pelo contrário, não poderia ter motivação maior pra continuar.

Até onde ele pode ir?

O personagem é cativante e tem grande potencial, eu também sou um grande fã dele, não tem limites pra o que ele pode se tornar. Eu estou desenhando, mas ele pode ser animado, filmado, encenado num palco. Se gostaram da história dele, porque não contá-la também de outras formas?

E você, até onde pode chegar?

Até onde eu posso chegar? Depois que você realiza alguns sonhos não há mais nenhum limite determinado, o que eu não puder fazer sozinho com certeza vai ter algum louco pra me ajudar.

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