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Poética do encantamento

Por Bravo
Atualizado em 21 set 2022, 22h18 - Publicado em 12 dez 2019, 17h29

Em “Eu de Você”, Denise Fraga dá vida a personagens reais destacando o brilho muitas vezes escondido de histórias comuns

Foto: Cacá Bernardes

Por Gabriela Mellão

Denise Fraga inicia seu primeiro monólogo recebendo o público na entrada do teatro. Troca histórias e abraços com os espectadores estabelecendo com eles uma conexão que lhe é cara, e é a própria pulsação de Eu de Você.

O solo nasce da ligação entre o eu e o outro. A dramaturgia de Rafael Gomes, Denise Fraga e do diretor do espetáculo Luiz Villaça tem como matéria-prima histórias de pessoas comuns selecionadas por meio de confissões enviadas para a produção. Denise retrata a vida dessas pessoas com a mesma ternura que acolhe seus espectadores. Como resultado, encontra o extraordinário, inclusive entre vidas banais, entrando e saindo dos personagens escolhidos (inclusive o da própria Denise) num trânsito afetivo permanente, a fim de resgatar a humanidade perdida em um tempo que parece convidar apenas ao isolamento, ao individualismo.

Em oposição ao distanciamento de Brecht, visitado pela atriz em Galileu Galilei, A Visita da Velha Senhora e Alma Boa de Setsuan, o que se tem em Eu de Você é a aproximação de Denise. A atriz não busca a reflexão a partir da quebra da ilusão teatral. Ela não visa a transformação através do rompimento da emoção que vincula público e plateia como buscou o autor alemão, mas, ao contrário, através da comunhão, do afeto.

Se o teatro é o espelhamento da realidade, Denise se empenha em produzir a melhor reflexão possível. Não para deturpar, para amenizar dores ou exaltar alegrias, mas simplesmente para manter-se fiel ao encantamento intrínseco à vida.

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Teatro VIVO (Av. Dr. Chucri Zaidan, 24600); sexta às 20h, sábado às 21h e domingo às 19h; até 15/12; sexta, R$ 50; sábado e domingo R$ 70; Classificação indicativa: 12 anos

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