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"Temos que lutar"

Por Bravo
Atualizado em 21 set 2022, 22h21 - Publicado em 22 jul 2019, 11h18
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Em entrevista, o ator Othon Bastos fala dos ataques à cultura promovidos pelo governo federal e de sua carreira no teatro

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Othon Bastos ao receber o título de cidadão de Salvador

Por Eliano Jorge

Cinquenta anos depois, a postura, os gestos e as palavras ainda são firmes e altivas quando o ator Othon Bastos fala sobre a repressão da ditadura militar. “Não é medo. Você tem que ter enfrentamento. Precisa estar preparado para enfrentar. As consequências virão depois, mas você não pode ficar parado. A minha geração sofreu pra burro, fomos perseguidos. Agora, tem outras gerações que precisam vir para a frente”, afirma.

Esse recado aos mais jovens se refere a outros ataques contra artistas: recentes discursos e medidas do governo federal, que encontram eco nos seus apoiadores, como extinção do Ministério da Cultura, limitação drástica da Lei Rouanet e redução de verba pública para o setor. “Uma loucura. Não sei o que acontece quando a pessoa sobe e senta num trono, o que ele pensa. Por que destruir a cultura?”, diz. “Temos que lutar desesperadamente”.

Ele concorda com as manifestações contrárias a essas ações políticas. “Se você ataca a arte, vai encontrar muito mais defesa da arte. Não podemos ficar calados. Tem que gritar”, diz. “É não deixar que as coisas sejam destruídas ou deturpadas, vilipendiadas. As coletividades do cinema, do teatro e da música têm que lutar pelos seus direitos, têm que brigar mesmo, têm que discutir.”

Revelado pelo Cinema Novo, ele elogia o momento cinematográfico nacional. Porém critica a restrição ao centro econômico. “O Brasil precisa se conhecer. Em outras regiões, em outros estados, há talentos maravilhosos. As pessoas se limitam a Rio e São Paulo, um absurdo”, opina, em entrevista durante rápida passagem por Salvador para receber o título de cidadão soteropolitano, o ator nascido em Tucano, no sertão da Bahia, a cerca de 250 km da capital.

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Atualmente participando da série Carcereiros, da TV Globo, aos 86 anos, Othon Bastos comenta também a decadência do Rio de Janeiro, o ofício de ator, sua carreira e o motivo de evitar publicidade e maior visibilidade midiática.

O que essa oportunidade de voltar à Bahia e a homenagem lhe trazem de lembranças e satisfação?

É como em Fernando Pessoa: “Se achar que precisa voltar, volte. Se perceber que precisa seguir, siga”. Tive um grande prazer, fiquei muito emocionado, foi um orgulho. É a cidade de Salvador. A grande surpresa de você chegar do interior e a cidade recebê-lo de braços abertos. É como estar recebendo agora, não tem problema que tenha sido 50, 60 anos depois. O momento é que é importante. E esse momento é muito importante para mim. Levei um susto, fiquei espantado, aí veio a alegria. Quando soube que a homenagem havia sido aprovada (pela Câmara Municipal) por unanimidade, a lágrima já correu. Meu Deus do céu, não sabia que eu ainda era tão lembrado, ou conhecido, na Bahia. Porque a Bahia se resume à música, né? Quando você fala da Bahia, vêm à cabeça todos os artistas, os cantores e compositores baianos, desde o (Dorival) Caymmi, o mago. Aí eu disse: “Entrei no hall. Estou com eles” (risos).

Antes de se tornar ator, o senhor exerceu outras funções no teatro. Como foi esse início?

Fui levado à escola de teatro do Paschoal Carlos Magno, que tinha uma coisa fantástica, um cuidado de preparar você para ser ator. Como as inscrições já tinham se encerrado, eu ia às aulas como ouvinte, esperando uma vaga por desistência. Lá todos começavam pelos bastidores para chegar a pisar um palco. Você aprendia como trabalhar, tomar conta do palco, como assistente de cenografia, de iluminação, de estúdio. Quando alguém entrava em cena como ator, já tinha noção de tudo, não entrava só para representar. Porque o ator é vaidoso, né? Oscar Wilde diz uma coisa linda: “O vaidoso só engana a si próprio”. E lá você não começava fazendo os principais papéis, ia aos poucos. Meu grande amigo Otávio Augusto, belíssimo ator, que eu adoro, quando perguntaram numa entrevista sobre o ator fazer papéis pequenos, respondeu: “Existe uma coisa importante para o ator que for. Quando entro em cena, faço meu papel como se fosse o protagonista”. Por isso pessoas se destacam em papéis pequenos e são o mais importante da novela ou da peça. Você se lembra delas: “Poxa, mas como fulano estava bem no papel, hein?”. Hoje a televisão olha para você, você entra e já é um ator. Ela deturpou muito isso, não? Há pessoas que fazem escola de teatro para ir para a televisão porque é o sonho delas. A maior escola de todas é o teatro, o palco lhe dá o respeito, grandeza, tudo. O palco. A base está ali. Ao pisar o palco, você tem em si uma segurança, lhe dá condições psicológicas de fazer as outras coisas todas, cinema, televisão.

Como surgiu a oportunidade de estudar Teatro em Londres e como foi a experiência?

Fui com o grupo do Paschoal, uma pessoa muito esquecida, quase ninguém mais sabe quem foi. Um dos mais importantes da cultura brasileira, deveria ser lembrado constantemente. Era extraordinário, se dedicou de corpo e alma ao teatro. Era poeta, autor. Ele fez o Teatro do Estudante, a Casa do Estudante, o Teatro Duse, que era na casa dele. Enquanto isso, era cônsul, chegou até a embaixador, e foi eleito vereador pelos estudantes no Rio de Janeiro. Ele fez uma viagem pelo rio São Francisco, chegava de barca a cada cidade para apresentações (gratuitas) de teatro e música. Hoje, se estivesse vivo, ele levaria um grupo para fazer teatro na lua. Ele nos levou à Europa. Conseguiu um patrocínio com Assis Chateaubriand para 20 passagens de navio. Na Itália, tivemos auxílio da Fiat. A cada cidade, tínhamos palestra. Depois fomos para França, Bélgica, Holanda, Alemanha. No grupo estava uma atriz que todos conhecem: Tereza Rachel. Em Londres, o último lugar antes de voltar à Itália para pegar o navio, eu disse que ficaria lá para estudar. Paschoal: “Meu filho, a Inglaterra é o berço da civilização teatral”, aquela coisa dele. Ele era amado, amicíssimo de grandes atores ingleses, como John Gielgud, Laurence Olivier, Paul Scofield, Michael Redgrave. Aí, na escola, eu aprendendo a representar shakespeareanamente, pensei: “Será que vou fazer Shakespeare no Brasil? Primeiro eu tenho que fazer os autores brasileiros, Martins Pena”. Mas, pelo menos, tive esse trabalho de fonética, de improvisação lá.

Quando foi?

Entre 1955 e 1957. Voltei, e o (diretor e professor) Martim Gonçalves me convidou para a Escola de Teatro da Universidade da Bahia. Fiquei mais ou menos dez anos, de volta às minhas origens e nunca perdendo minhas raízes em Tucano, que é a cidade em que nasci e eu amo, não posso esconder. Uma vez, o presidente Fernando Henrique nos convidou para ir assistir a Central do Brasil no cinema do Palácio do Planalto. Convidou atores, embaixadores. No jantar, aquela cerimônia, ele perguntou de onde eu era. Respondi: “Sou da Bahia. De Tucano, mas não tem nada a ver com o partido” (risos).

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Muitos atores e atrizes criaram nomes artísticos. Como o senhor entendeu que seu nome verdadeiro era o mais adequado para usar na carreira? Houve sugestão de alguém?

Meu nome é Othon José de Almeida Bastos. Pensei em botar outro nome: Marcos. Queria usar José Bastos ou José de Almeida, mas havia vários atores chamados José. Aí botei o primeiro e o último: Othon Bastos. O nome é forte, né? Eu perguntei, mas meu pai, Marcos, nunca me disse por que colocou esse nome. Na verdade, um grande amigo dele, que morreu muito cedo, se chamava Othoniel. Ainda bem que não botou esse nome (risos). Fernanda Montenegro (Arlette Pinheiro Esteves da Silva), Paulo Gracindo (Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo) e Lima Duarte (Ariclenes Venâncio Martins) têm nomes completamente diferentes.

Na sua vasta carreira em teatro, cinema e televisão, houve algum trabalho que o senhor gostaria de ter feito e não foi possível?

Não sei, você se apega tanto ao que está fazendo, que esquece as outras coisas. Vive em função de sua carreira, é importante projetá-la. Como diz o (Mahatma) Gandhi, você não precisa apagar a luz do outro para que a sua brilhe, a luz é para todos. A ocasião chega. Se aparecer a oportunidade, você faz. Não tenho essa ambição de fazer grandes papéis. Toda vez que vejo um colega fazer um trabalho bonito, fico emocionado porque ali é o momento do ator. Faço questão de elogiar e abraçar essa pessoa porque estou vendo nele o ator. Não tenho inveja de ninguém. Tem que ser generoso com as pessoas, com a vida, isso é o importante. Sou uma pessoa de sorte por ter começado e aprendido com o Paschoal, aquilo que ele me ensinou do bastidor, do teatro. Depois a carreira que tive aqui na Bahia. Não me arrependo absolutamente de nada. Se tivesse que acontecer, eu gostaria de ter de novo as mesmas coisas. Vim para a Escola de Teatro, saímos, fizemos nosso grupo, construímos um teatro. Quer coisa maior do que isso? O legado está aí, o Teatro Vila Velha (em Salvador).

Filmes brasileiros têm sido premiados nos últimos anos e reconhecidos no exterior. O senhor considera que o cinema nacional vive um dos seus melhores momentos?

Não vive, mas deveria viver. Já tivemos uma fase muito grande, que foi o Cinema Novo, reconhecido no mundo todo. De Glauber (Rocha), Leon Hirszman, Cacá Diegues, Joaquim Pedro (de Andrade). Foi uma fase áurea do cinema brasileiro. Depois houve a Idade Média, com Collor, que destruiu quase tudo. Agora estamos ressurgindo. Teve o cinema baiano, agora temos Recife, um centro extraordinário de cinema, temos Fortaleza também. Isso vai se alastrando pelo Brasil, que não é Rio e São Paulo. O Brasil precisa se conhecer. Em outras regiões, em outros estados, há talentos maravilhosos. Cantores de todos os lugares. Porto Alegre tem um teatro maravilhoso, grupos maravilhosos. As pessoas se limitam a Rio e São Paulo, um absurdo. O Paschoal sempre fazia festivais de teatro para as pessoas conhecerem. Ariano Suassuna foi conhecido num festival no Rio de Janeiro com um grupo de Pernambuco.

Qual é sua avaliação sobre os recentes ataques à cultura, às artes e aos artistas no Brasil?

Uma loucura. Não sei o que acontece quando a pessoa sobe e senta num trono, o que ele pensa. Por que destruir a cultura? Agora estão combatendo a Filosofia e a Sociologia, né? Não estou entendendo. O que quer dizer isso? Diga-me o teatro que fazes e eu lhe digo o grau de cultura do teu povo. Temos que lutar desesperadamente. O Brasil é um celeiro extraordinário de cultura, de talento. Você mesmo me disse há pouco que poderia ser o contrário: Camões receber o Prêmio Chico Buarque. A música brasileira, quando chega aos lugares, o sucesso que é. As pessoas queriam saber como é o toque (de violão) do João Gilberto, são apaixonadas pela cultura brasileira. Os autores brasileiros, quando despertam, as pessoas ficam alucinadas. E agora o cinema está voltando a mostrar que país é esse, como estamos vivendo, que, apesar de tudo, estamos sobrevivendo.

Em épocas como essa é que as artes se tornam ainda mais fundamentais? Até para conscientizar as pessoas sobre sua importância e suas contribuições?

Quanto mais você ataca, mais desperta o outro. Se você ataca a arte, vai encontrar muito mais defesa da arte. Os estudantes estavam parados, tiraram as verbas das universidades, eles foram às ruas de novo. Não podemos ficar calados. Tem que gritar, está errado, está errado.

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Fabricou-se uma ideia de que artista não trabalha e que se aproveita do dinheiro investido em sua produção. O senhor pode falar da complexidade do ofício de ator? Não só da rotina de produção, mas de todas as implicações dessa profissão, da constante formação, do aprimoramento cultural, do contato com outras formas de expressão, do conhecimento da alma humana e das interpretações sensoriais do mundo?

Todos os grandes países têm seu trabalho cultural, seus teatros, seus cinemas. Não é que a gente vai ficar na dependência: “Só sobrevivo se me ajudar com isso”. Você tem que buscar motivos, razões para sobreviver. É não deixar que as coisas sejam destruídas ou deturpadas, vilipendiadas. Reclamam que uma cantora tal recebeu uma verba enorme da Lei Rouanet e um grupo de teatro não teve a mesma quantia. Se ela conseguiu, por que você não pode também? As leis estão aí, vamos discutir as leis. O que pode mobilizar para o bem de toda uma coletividade. As coletividades do cinema, do teatro e da música têm que lutar pelos seus direitos, têm que brigar mesmo, têm que discutir. Quem tem capacidade para julgar cinema e teatro? São as pessoas do seu habitat. O (cineasta) Luiz Carlos Barreto disse ao presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema, Christian de Castro, na reunião de 3 de maio): “Você não é o dono não, somos nós”.

Um dossiê militar produzido pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) durante a ditadura atribui ao senhor “conhecido envolvimento político e ideológico”. A que eles se referiam?

Eu li isso, me deram recentemente. Fiquei pasmo, dizia que eu era influenciador do Glauber Rocha (risos). Eu ria muito lendo isso, tenho guardado. Que loucura. Não tinham o que fazer, então ficavam inventando. Alguém poderia influenciar o Glauber? O Glauber é que influenciou muita gente. Você não podia conversar, falar, ter ideias. Nessa época, o SNI podava você: “Essa ideia não é boa, corta”. “Aquele livro. Joga fora, queima”. Você não pode usar a política para isso.

O senhor aparece numa foto da Passeata dos Cem Mil, em 1968. Participou de obras políticas. Sofreu perseguições?

Eu estava trabalhando no Teatro Oficina. Ele e o Teatro de Arena eram os cabeças do movimento cultural do país. Não é à toa que o CCC (Comando de Caça ao Comunistas) entrou no teatro, bateu em Marília (Pêra), jogou um técnico na plateia, tocou fogo. Você tinha que estar sempre preparado para a reação. Aqui na Bahia mesmo, no Teatro Vila Velha, recebíamos sempre recadinho que iam invadir o teatro, destruí-lo, pegar aquele espaço para servir de prisão ou dormitório de militar. O boato é que destrói tudo. Você solta um negócio assim e isso se torna um monstro na sua cabeça.

E qual era a reação? Como é que se convive com esse clima de ameaça, apreensão, medo?

Não é medo. Você tem que ter enfrentamento. Precisa estar preparado para enfrentar. As consequências virão depois, mas você não pode ficar parado. A minha geração sofreu pra burro, fomos perseguidos. Agora, tem outras gerações que precisam vir para a frente. Nós não podemos ficar até de bengala fazendo as coisas. A vida é revezamento, você passa o bastão para o outro, que passa para o outro e aí vai.

O que mais fascina o senhor na sua profissão?

Na minha profissão, tudo me fascina: um bom espetáculo, atores, diretores. O que mais me fascina é ser ator. É uma maneira de transmitir algo para as pessoas. Você, como ser humano, não precisa ficar enclausurado dentro de si. Todo mundo tem por obrigação tirar um momento e fazer uma viagem para dentro de si mesmo. E aí você descobre, não existe coisa maior do que seu interior, sua vida. Isso é que se transmite para os outros. Então, se eu puder transmitir o bem, a possibilidade de ser alguém para outra pessoa… O ator tem que ser generoso, ser do bem.

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Então cada personagem é um mergulho do ator em si mesmo?

Você não incorpora o personagem, você tira de você o que é possível dar dentro daquele personagem, as raízes estão em você. Agora, não existe nada mais importante do que você ser verdadeiro. Se for verdadeiro, a pessoa aceita você. Se começar a simular, você já destruiu o que precisava. O que fala é o coração, é a alma. Por isso o (ator e diretor russo Constantin) Stanislavski dizia: “Ator, desperta e deixa-te seguir atrás da tua alma”. É isso. Não é floreio não. O ator inglês Paul Scofield diz um negócio lindo: “Ator é aquele que fica, horas e horas, à espera de si mesmo”.

O senhor continua realizando trabalhos seguidos. Como desfruta seu tempo livre atualmente? Consegue ir ao teatro e ao cinema, vê filmes e séries em casa?

Continuo com a mesma vontade e a mesma sede de ver coisas, filmes lindos, filmes importantes, peças políticas. Pegar peças que estavam esquecidas e remontar para as pessoas terem noção do que foi feito nas décadas de 20, 30, 40. É a memória. Um ator japonês diz que o ator tem que ter uma bolsa de mendigo. Você pega uma coisa e bota na bolsa, pega outra e bota na bolsa. Um dia você vai usar isso. E, quando for usar, vai se lembrar de onde você pegou aquilo e de que maneira. Ele diz que o ator é, antes de mais nada, um observador. Somos iguais a qualquer pessoa. Aquilo: “Ninguém é insubstituível, mas não existem duas pessoas iguais”. Se eu for substituí-lo, não serei igual a você, farei outra coisa, mudando com a proporcionalidade da minha personalidade, do meu conhecimento. Como diz o poeta Paulo Bomfim, “nós representamos dois tipos de comédia sempre na vida: um para os outros e outro para você mesmo”.

Como o senhor encara a série de problemas do Rio de Janeiro e a decadência da cidade em diversos aspectos?

Vejo a desde que a cidade deixou de ser a capital brasileira. Não tinha indústrias, não tinha isso, não tinha aquilo, eram os funcionários (públicos federais). Foi acabando, está murchando. Não vai sumir porque tem uma beleza extraordinária, tem um charme. Vai ser difícil acabar com o Rio de Janeiro. Estão tentando. Não duvido nada que, daqui a pouco, queiram mudar o Cristo (Redentor) de lugar, fazer um viaduto ali, vão querer destruir as coisas que são lindas. O Rio é lindo.

O senhor é apontado como um dos maiores atores da história do país, mas não aparece em publicidade, capas de revistas ou badalação midiática. Foi sua opção manter uma personalidade mais reservada?

Sempre detestei esse negócio de muita badalação. Faço muita narração para cinema e documentário, isso que eu gosto de fazer. Meu exemplo é o seguinte: quando acabei de fazer Deus e o Diabo na Terra do Sol, foi um sucesso, uma loucura, todo mundo queria saber quem era, passei quatro anos sem fazer cinema justamente por causa disso, porque as pessoas vinham com muita sede ao pote. Recebi mais de dez roteiros em que eu era assassino, bandido, cangaceiro. Aí eu disse: “Nada disso me interessa. Se eu for, caio na rotina, serei mais um dentro dessa rotina. Não, não quero”. Passei quatro anos só fazendo meu teatro, no Vila Velha. O que interessa é minha carreira. Por isso que Mário de Andrade está certo quando diz: “A vida é importante, é preciso vivê-la. A vida é mais importante do que a posteridade”.

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