Nosso colunista Carlos Castelo estreia hoje uma nova coluna, já que “nunca o mundo precisou tanto de poesia como agora”
COLUNA|POELATRIA
Por Carlos Castelo
“A primeira obrigação de um crítico de poesia é de não escrever, ele mesmo, poemas ruins. Ou pelo menos não publicar esses poemas”. É o que declara Marina Tsvetáeva em seu livro O Poeta e o Tempo.
Já cometi um livro de versos publicado pela Patuá. Espero que ele seja suficientemente bom para eu ter o direito de falar sobre meus colegas de ofício. Antes de iniciar os trabalhos, uma explicação sobre o porquê da nova coluna, que substitui Cadernos de Leituras.
O nome Poelatria. O sufixo clarifica o propósito: ‘que tem paixão ou grande amor por (algo)’; ‘que se dedica por gosto a assuntos ref. a (algo ou alguém); ‘que tem o hábito de consumir (algo) em demasia (Aulete).
O espírito da coluna, todos notarão, se manterá. Seguirei com os comentários impressionistas sobre obras de todas as épocas, e não apenas lançamentos. O que muda é o foco, centrado exclusivamente na produção poética nacional e internacional. A razão? Nunca o mundo precisou tanto de poesia como agora. Em meu frágil voo de andorinha pretendo colaborar com a iniciativa.
Abro as cortinas na companhia do poeta capixaba chamado por muitos de Bith. Wilberth Claython F. Salgueiro é professor de literatura brasileira na Universidade Federal do Espírito Santo desde 1993. Publicou poemas em Digitais (1990) e Personecontos (2004).
Depois, a narrativa O Que é Que Tinha no Sótão? (2013). Escreve, mensalmente, a coluna Sob a Pele das Palavras, no jornal Rascunho.
Em breve, Salgueiro colocará nas prateleiras um livro com 42 sonetos pela editora Cousa, de Vitória. Foi todo construído em “blocos” que variam conforme o “tom” das peças. Há estilos de todo tipo: metaliteratura, cinema, pornoeróticos, engajados, filosóficos, familiares e de circunstância.
É importante observar que os sonetos de Salgueiro mantêm a embocadura de forma fixa, mas no conteúdo carnavalizam de tudo um muito.
Para iniciarmos Poelatria com a merecida pompa e circunstância, eis um dos inéditos da futura obra:
SONETO, PAU E PAI (PENSANDO EM ROSA)
Todo soneto (rio) tem um dentro
(isso é mais do que claro e cristalino).
Tal dentro pode ter sexo, política,
religião etc. Quartetos
e tercetos em versos decassílabos
e rimas não à toa tão toantes
e vaus e margens bem imprevisíveis
e de quebra uns intrépidos enjam-
bements paus e canoas — sus! — sustentam.
Se o tal eu lírico disser “Meu eu
lírico é gay, ateu e comunista”,
você, leitor, meu filho, há de se cho-
car, há de negar três vezes (xô, xô,
xô!) tais versos? Paz: rio a dentro — o rio.