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“Uma primavera brasileira é possível”, diz Zé Celso

Por Bravo
Atualizado em 21 set 2022, 22h25 - Publicado em 18 out 2018, 11h37
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Para o diretor do Oficina, “FHC e Ciro Gomes deveriam estar na batalha contra a violência nazista”

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Por Claudio Leal

“Uma primavera brasileira é possível. Se somar todos aqueles que estão indecisos, que não estão sacando a gravidade do momento, nós venceremos”, afirma, em tom de urgência, o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa, 81, apoiador da candidatura de Fernando Haddad (PT) à presidência da República. Artista icônico da resistência cultural à ditadura militar (1964–1985), hoje defendida pelo extremista de direita Jair Bolsonaro (PSL), Zé Celso pede ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e ao candidato derrotado Ciro Gomes (PDT) que se engajem na campanha de Haddad e saiam da “neutralidade radical”, para enfrentar a tendência de violência “nazista” no país.

“Fernando Henrique Cardoso e Ciro Gomes deveriam estar na batalha, como estiveram na batalha no fim da ditadura, quando todos os partidos democráticos se uniram nas Diretas-Já. A situação é muito mais grave do que aquilo. Mais grave. Essa ditadura já está anunciada”, avalia Zé Celso, neste depoimento gravado pela Bravo!.

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Dedicado à remontagem da peça Roda Viva, de Chico Buarque, atacada brutalmente pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC) em 1968, o diretor aproveita para se solidarizar com o compositor Caetano Veloso, que denunciou, em 14 de outubro, na Folha de S.Paulo, a “incitação à violência” promovida pelo ensaísta Olavo de Carvalho no Facebook. O músico tropicalista conclamou artistas e intelectuais a reagirem à pregação de que adversários de Bolsonaro, em caso de vitória do extremista, devem ser “totalmente destruídos enquanto grupos, organizações e até indivíduos”.

“Considero o texto de Olavo incitação à violência. Convoco meus concidadãos a repudiá-lo. Ou vamos fingir que o candidato dele já venceu a eleição e, por isso, pode mandar matar quem não votou nele?”, escreveu Caetano.

“Eles têm uma tendência de extermínio”, reforça Zé Celso, aceitando o chamado do companheiro de Tropicália: “Estou com Caetano, com Haddad, com os sem teto, com os sem terra, com todos os que estão apoiando esse movimento contra o fascismo”.

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Confira a íntegra do depoimento de José Celso Martinez Corrêa, dentro da série da Bravo! com artistas e intelectuais brasileiros, ouvidos sobre o risco de retorno do país ao autoritarismo.

“Já existe a SS [tropa paramilitar ligada ao partido nazista e a Adolf Hitler]. A SS já está em plena ação. Todos os casos de violência têm uma coisa semelhante aos grupos de violência do nazismo. A situação está tal que eu acho um absurdo as pessoas que têm um pouco de cabeça se manterem neutras. Neutralidade radical, como se diz no Rei da Vela. Ou são extremistas de centro. Fernando Henrique Cardoso e Ciro Gomes deveriam estar na batalha, como estiveram na batalha no fim da ditadura, quando todos os partidos democráticos se uniram nas Diretas-Já. A situação é muito mais grave do que aquilo. Mais grave. Essa ditadura já está anunciada. Esse cara do #Elenão deveria ter sido tirado da eleição há muito tempo. As coisas que ele [Jair Bolsonaro] fala a favor da tortura e de tudo quanto é criminalidade de extrema direita e nazista! O Brasil está suportando o nazismo. Estou preocupadíssimo. Estou trabalhando muito, estou fazendo o Roda Viva [remontagem da peça encenada em 1968], que vai dar problema, com certeza. E estou levando o Rei da Vela [também remontada em 2018 pelo Teatro Oficina] pro Rio Grande do Sul. Não tive tempo de escrever e de manifestar aquilo que eu penso. Caetano tem toda razão [em artigo publicado na Folha de S.Paulo de 14/10/2018]. Caetano está uma voz solitária, pedindo que as pessoas se conclamem. Estou absolutamente do lado dele. Porque eu ouvi esse boçal chamado Olavo de Carvalho, que só fala “porra, porra, porra”, que só xinga, que só destrói. Eles querem destruir as pessoas. Mas, numa democracia, não é isso o que acontece. Você tem partidos de oposição e a democracia acontece nesse diálogo com a oposição. Não é uma questão de destruir. É tão óbvio. Ele é uma besta, um sujeito ignorante, que não é um filósofo. Um filósofo jamais falaria da maneira grosseira como ele fala. O jeito como ele falou de Caetano é de quem não tem a menor ideia do que é arte. Caetano, além de ter estudado filosofia, é um poeta maravilhoso. Esse sujeito bota as patas para responder a Caetano.

Eles têm uma tendência de extermínio. Deve haver uma união de todos os indecisos. Os artistas estão lutando. Ainda há tempo, se houver uma frente democrática. Temos duas semanas. Não é uma eleição vulgar, não é eleger o PT ou não. Fernando Haddad mesmo diz que não se trata do PT. Haddad mudou a cor [da marca de campanha, do vermelho para o verde e amarelo] pra criar uma frente ampla democrática e um governo de coalização. Eu acho que essas pessoas — Ciro Gomes, Fernando Henrique e a parte do PSDB que não está totalmente podre — deviam se unir neste momento. O momento é muito grave. Assim como foi a luta da ditadura, em que os artistas trabalharam muito, foram corajosos nas passeatas. No Roda Viva, nem se fala: apanhamos no teatro [Ruth Escobar, em São Paulo] e apanhamos em Porto Alegre, pra onde eu vou, onde o próprio Exército bateu nos atores e botou todos de volta no ônibus. Não sei como essas pessoas que têm o mínimo de percepção da democracia não estão vendo que não se trata de uma eleição qualquer. É uma luta contra o fascismo e a ditadura. É preciso criar imediatamente uma frente democrática que se exponha, que faça comícios juntos, se apresentem juntos, de mãos dadas, com os artistas e também os políticos que se sentem democratas. Neutralidade nessa hora é compactuar com o nazismo.

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O meio ambiente vai fazer parte do agronegócio. Isso é a destruição da Amazônia, do meio ambiente, é contra o que se assinou em Paris [Conferência do Clima]. Este é um combate em todas as áreas. Nas áreas dos gêneros, dos trans, dos machos, das fêmeas, de todo mundo que tem cu. Porque todos nós temos cu, machos e fêmeas. E nós sabemos disso. Pessoas como Cid Gomes [senador eleito pelo PDT do Ceará] tiveram um papel horrível. Ele fica atacando Haddad diante de um acontecimento grave. Nós temos que estar juntos. Haddad é uma pessoa culta, inteligente, democrata. Conheço Haddad. É uma pessoa íntegra. Ele está aberto a todas as tendências da democracia. Caetano, que votou em Ciro, disse que Ciro deveria apoiar o Haddad.

Essa bosta desse filósofo Olavo do sei lá é um lacaio do [Steve] Bennon [ex-estrategista político de Donald Trump]. Eles estão aplicando toda a tecnologia que elegeu Trump. Eles foram aos EUA aprender e aplicaram aqui. Uma campanha nojenta, secreta, através do Whatsapp, que faz aparecer uma pessoa que você nunca viu no governo de Minas Gerais, outra no governo do Rio. Uma coisa traiçoeira, sub-reptícia, indecorosa. Devemos levantar o brio das pessoas que amam a liberdade, não só dos artistas, mas dos políticos. Está todo mundo hipnotizado. É um tsunami fascista. O Brasil está em plena primavera! Nas sessões do Rei da Vela, a gente sente a primavera. O comício do Haddad na Cinelândia, no Rio de Janeiro, e depois o das mulheres, do #Elenão, foram uma primavera. Está havendo um aborto disso. Uma primavera brasileira é possível. Se somam todos aqueles que estão indecisos, que não estão sacando a gravidade do momento, nós venceremos. A democracia vence no Brasil. O país foi feito pra democracia. Já passou por ditaduras e foi horrível. Eu fui torturado, exilado, sem saber nem por quê. E isso acontecia com qualquer pessoa. Porque é um regime irracional, a ser capitaneado por um camarada que é um boçal, um ignorante, que não sabe falar, não sabe debater. Só tem ressentimento. É inveja de tudo que houve de liberdade sexual, liberdade democrática, liberdade na criação. As piores emoções estão fazendo essa maioria que está apoiando esse candidato. Ele não devia nem estar no páreo. Mas é o STF (Supremo Tribunal Federal) que disse que não houve ditadura, porque foi um movimento [o presidente do STF, Dias Toffoli, tratou o golpe de 1964 como “movimento”, numa palestra em São Paulo]. Desde o golpe de 2016 isso vem crescendo, por um antipetismo absolutamente irracional. Corrupção é uma coisa que se apura, se julga, agora a falta de liberdade, o domínio de um regime fascista, é uma coisa muito mais grave.

Esse candidato era do partido do Paulo Maluf. Outra coisa: o capitalismo em si é totalmente corrupto, a maior corrupção que existe é a desigualdade imensa, a maior que já houve na história da humanidade, por conta do aparecimento, exatamente, da especulação financeira. Agora, o capitalismo financeiro tem o capitalismo agrário, o industrial, a televisão, tem tudo. E produziu o maior momento de desigualdade do país. Eu estou veemente nessa luta pela democracia. Caetano nos conclamou a nós, artistas, que estamos nessa primavera cultural, pra gente tomar essa posição. Estou com Caetano, com Haddad, com os sem teto, com os sem terra, com todos os que estão apoiando esse movimento contra o fascismo. As pessoas estão dopadas, drogadas por um mito. Um mito!… Um mito não é nada. É uma boneca de papel. Sopra e ele desaparece. Estou muito alegre pela felicidade guerreira de poder ainda lutar contra isso.”

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