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Yes, nós temos Tarsila

Por Bravo
Atualizado em 22 set 2022, 12h21 - Publicado em 8 fev 2018, 16h53
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Primeira grande mostra de Tarsila do Amaral em Nova York celebra seu trabalho pioneiro e a influência duradora de seu estilo

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“A Cuca” (1924) — Fotos: © Tarsila do Amaral Licenciamentos

Por Bruna Nicolielo, de Nova York

Uma das fundadoras do Modernismo brasileiro, a pintora Tarsila do Amaral (1886–1973) vai ganhar uma retrospectiva de sua carreira no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) entre 11 de fevereiro e 3 de junho de 2018.

A exposição Tarsila do Amaral: Inventando a Arte Moderna no Brasil vem na esteira de outras individuais dedicadas a artistas brasileiros de gerações posteriores, influenciados por ela, como Lygia Clark, também no MoMA, Lygia Pape no Met Breuer e Hélio Oiticica, no Carnegie Museum of Art e no Whitney. Segundo os curadores, Tarsila integra uma modernidade alternativa criada no continente americano, da qual também fazem parte nomes como Joaquín Torres García (Uruguai) e Frida Kahlo (México). “Trata-se de uma apresentação há muito necessária ao público norte-americano. Tarsila influenciou gerações de artistas em diversos meios, desde as artes visuais, literatura e o teatro até a moda e a música” explica uma das curadoras, Stephanie D’Alessandro.

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Tarsila do Amaral. Foto: Divulgação/MoMa

A mostra passa em revista a carreira da artista, das primeiras pinturas produzidas em Paris no começo da década de 1920 até os grandes trabalhos de cunho social da década de 1930, traçando a trajetória de suas contribuições pioneiras. São cerca de 120 obras, incluindo pinturas, desenhos, cadernos de esboços e fotografias selecionadas de acervos públicos e coleções privadas (nem sempre acessíveis ao grande público) nos EUA, América Latina e Europa. Da fase parisiense, estão obras como Estudo (Academia no 2), de 1923, criada sob a tutela do cubista francês Fernand Léger, na qual Tarsila começa a esboçar seu estilo característico de pintura. A artista encarava sua exposição ao cubismo como “serviço militar”, trajetória obrigatória para artistas do seu tempo. Mas ela filtrou as lições da vanguarda acrescentando uma paleta de cores vivas e elementos da natureza exuberante de sua terra natal. Em carta à família, Tarsila expressou sua ambição: “Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a pintora de minha terra. … Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo.”

Também em exibição, A Negra (1923), sintetiza esse desejo por um estilo pessoal. As lições do cubismo a ajudariam a refinar sua linguagem visual, construindo composições com um repertório limitado de elementos iconográficos, resultando em representações altamente estilizadas da realidade. A pintura pode ser relacionada a uma fotografia que Tarsila manteve por anos desde o início da década de 1920. Retrata uma mulher sentada ao ar livre, sobre a qual Tarsila falou ao lembrar-se de sua infância certa vez, em 1972. “Ela distribui cores e figuras dentro do campo visual com precisão quase matemática, convocando uma lembrança da escravidão, que havia terminado menos de quarenta anos antes”, comenta o outro curador da mostra, Luis Pérez-Oramas, para quem A Negra é o primeiro ícone da arte moderna brasileira.

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“A Negra” (1923) — Foto: © Tarsila do Amaral Licenciamentos

No processo de amadurecimento de seu estilo pessoal, Tarsila seguiu mesclando as inovações da vanguarda européia à sensibilidade do vernáculo brasileiro. Viajou pelo país e buscou inspiração na terra, nas paisagens e cultura locais, incorporando intencional e entusiasticamente tais temas, considerados de mau gosto pela elite cafeeira da época — à qual ela própria pertencia. Na mostra, representam essa fase obras como A Cuca — segundo Tarsila, “um quadro bem brasileiro” — e Carnaval em Madureira (ambas de 1924), bem como esboços produzidos durante o itinerário. Em fevereiro de 1924, Tarsila e o então marido, o escritor Oswald de Andrade, foram ao Rio de Janeiro com o poeta suíço Blaise Cendrars para participar do carnaval. Em abril, o grupo visitou as cidades coloniais de Minas Gerais, onde Tarsila seguiu produzindo esboços. Muitos de seus desenhos pequenos e íntimos tornaram-se ilustrações para Feuilles de Route, de Cendrars, e Pau Brasil, de Oswald, ambos livros de poesia publicados no mesmo ano.

A exposição traz a público, ainda, as obras mais emblemáticas de Tarsila, e por tabela, da arte brasileira: Abaporu (1928) e Antropofagia (1929). A primeira, comprada por US $ 1,4 milhão pelo industrial argentino Eduardo Costantini em 1995, veio do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba). Trata-se, originalmente, de um presente de aniversário para Oswald de Andrade. O título, da língua tupi-guarani, significa “Homem que come homem”. A imagem inspirou Andrade a escrever o Manifesto Antropófago e a fundar o Movimento antropofágico, invocando práticas rituais canibais documentadas entre indígenas brasileiros como uma metáfora para a apropriação de influências internas e externas. “Ao criar a ‘identidade visual’ da antropofagia antes mesmo da formulação de seu manifesto, Tarsila desempenhou um papel importante no movimento, que imaginou uma cultura especificamente brasileira emergindo da digestão simbólica — ou canibalismo artístico — de influências externas. O projeto antropofágico veio a definir a identidade do Brasil moderno, e as pinturas de Tarsila assumiram o papel de emblemas icônicos do movimento”, diz Pérez-Oramas.

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“Antropofagia” (1929) — Foto: © Tarsila do Amaral Licenciamentos

O interesse de Tarsila em reduzir imagens até sua essência mais clara se manteve ao longo de sua trajetória, com direito à eventuais experimentações. Sono (1928), por exemplo, é resultado de seu flerte com o Surrealismo. Repetição, associação aleatória e figuras oníricas estão presentes na composição. Uma mudança de rumo mais radical, que a mostra do MoMA faz questão de assinalar, aconteceu na década de 1930. Pessoalmente confrontada com a falência de sua família e o fim do casamento, Tarsila foi mudando seu foco de atenção para o ativismo político. À medida que o Brasil afundava na ditadura nacionalista de Getúlio Vargas, a artista, fascinada pelo que ocorria na União Soviética, adotou o Marxismo e viajou à Rússia, onde teve uma exposição individual. Na volta, foi presa por suas convicções de esquerda.

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Paulatinamente, ela trocou a representação imaginativa da natureza do período antropológico pelos temas sociais. O resultado são obras em larga escala, como Operários (1933), parcialmente inspirada em um mural que Tarsila conhecera na União Soviética. O quadro retrata um grupo de trabalhadores de etnias variadas, com chaminés e fábrica ao fundo, numa tentativa de representar a diversidade da sociedade brasileira e a industrialização incipiente — e a sinalização de que o envolvimento de Tarsila com o modernismo na arte fora complementado pelo reconhecimento dos problemas sociais causados pela modernização.

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“Carnaval em Madureira” (1924) — Foto: © Tarsila do Amaral Licenciamentos

Serviço

Tarsila do Amaral: Inventando a Arte Moderna no Brasil

De 11 de fevereiro a 3 de junho de 2018
 Museu de Arte Moderna (MoMA), Nova York
 Piso 2, Paul J.Sachs Galleries

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