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OLÁ,

“Alien: Earth” é uma das séries mais impressionantes de 2025

Série disponível no Disney+ é reinvenção audaciosa do universo Alien e mistura terror com política em espetáculo visual sem precedentes

Por Ana Claudia Paixão
15 ago 2025, 07h00
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Sydney Chandler em Alien: Earth (FX / IMDB/reprodução)
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Se 2025 já nos presenteou com algumas grandes produções, poucas me impactaram tanto quanto Alien: Earth. Coloco a série no mesmo patamar de Andor, que sigo considerando a melhor produção do ano até agora. E isso, devo alertar, porque não sou particularmente fã de Sci-Fi e menos ainda de terror sci-fi. 

A figura do Alien me dá nojo, nervoso e pesadelo desde criança, quando não tinha idade para ver o filme do Ridley Scott no cinema, mas ouvi a descrição detalhada de cada cena pelo meu irmão, voltou enlouquecido pelo que viu no cinema. Até hoje, o filme de 1979 é impactante, e Alien: Earth não é apenas uma grande homenagem ao original — tem um peso particular porque consegue ser um espetáculo visual e narrativo, ancorado em um universo que já conhecemos, mas apresentado de forma radicalmente nova.

 

 

Vi seis dos oito episódios da primeira temporada — e, honestamente, cada um é um filme em si. Um longa-metragem de altíssimo orçamento, com direção afiada, ritmo envolvente e uma densidade estética e emocional que não costuma aparecer com tanta consistência em séries de ficção científica. A sensação é a de estar diante de algo grandioso, uma produção que respeita a inteligência do público ao mesmo tempo em que homenageia um dos maiores legados do cinema sci-fi: o universo Alien, o Oitavo Passageiro.

Com mais de quatro décadas de história, o longa de Scott virou franquia e se consolidou como um dos pilares do cinema de ficção científica e terror, marcada por sua estética sombria, críticas sociais futuristas e, acima de tudo, por suas personagens femininas intensas e memoráveis. A série, criada por Noah Hawley e com produção executiva de Ridley Scott, mantém a tradição, mas o universo dos xenomorfos ganha novos contornos e perigos.

Alien: Uma história de origem… na Terra

A proposta da série é ousada e, de certa forma, surpreendente: trazer a mitologia de Alien para o planeta Terra. Mas não se trata de um simples spin-off ou de um prequel qualquer. Alien: Earth funciona como uma espécie de história de origem expandida, ambientada décadas antes dos eventos do primeiro filme, num futuro próximo em que a humanidade já vive sob o domínio crescente das grandes corporações – com a Weyland-Yutani, claro, desempenhando seu papel sombrio habitual.

A história acompanha a descoberta inicial de uma biotecnologia alienígena que, aos poucos, revela seus riscos e implicações catastróficas. É nesse contexto que surgem os primeiros experimentos com o material genético dos xenomorfos, ainda sem nome, ainda sem forma — mas já com aquele senso de terror visceral e existencial que definiu a franquia desde o início.O horror aqui é mais psicológico, menos explícito, mas quando chega… é com impacto total.

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(IMDB/reprodução)

O desafio criativo: entre o legado e a reinvenção de Alien

“A parte mais difícil? Acho que foi encontrar o equilíbrio entre homenagear o legado Alien e ainda assim fazer algo novo, com identidade própria. É fácil cair na armadilha do fan service ou, ao contrário, ignorar tudo que veio antes. Mas meu objetivo sempre foi: como fazemos algo que só poderia existir agora, com as ferramentas narrativas e visuais que temos hoje?”, explicou o diretor Noah Hawley em uma entrevista para o lançamento da série, na qual a Revista Bravo! foi uma das convidadas.

Noah, conhecido por sua abordagem cerebral, estilizada e subversiva (Fargo, Legion), não é o tipo de criador que simplesmente replica fórmulas. Numa irônica metáfora do que vemos na tela, ele se apropria do DNA da franquia Alien para construir uma narrativa distópica que, sem abandonar o horror biológico, aposta em um terror mais político, tecnológico e existencial. O resultado é uma série com alma, sem ser derivativa. É reverente, mas não reverencial.

Entre Peter Pan e Black Sabbath, Metallica e muito rock

A premissa por si só já é fascinante: Alien: Earth se passa em 2120, poucos anos antes da missão Nostromo que abre o primeiro filme da saga. A Terra já está dividida entre grandes corporações, com a Weyland-Yutani dominando o jogo — mas agora com uma rival ousada, chamada Prodigy, que avançou perigosamente no campo do “transumanismo”.

O que eles fizeram? Criaram corpos sintéticos para onde mentes humanas podem ser transferidas. Só que o processo só funciona com cérebros jovens. Resultado: crianças terminais estão sendo “renascidas” em corpos superpoderosos, mas emocionalmente instáveis.

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Sim, é tão perturbador quanto parece. E tão genial quanto ousado.

“Foi desafiador interpretar uma inteligência artificial com emoções latentes — ou a ilusão delas. Tudo precisava ser medido, calculado. E ainda assim tinha que haver humanidade ali, mesmo que talvez nem fosse real”, explicou o ator Timothy Olyphant, que interpreta Kirsh, uma inteligência artificial biomecânica, implantada ou associada aos alienígenas (os Engineers) e, mais tarde, utilizada pela própria humanidade.

“Falamos muito sobre a programação do Kirsh, e essa ideia de que ele não só é impedido de machucar seu superior, como também não pode nem discordar ou demonstrar raiva. Então, se você não concorda com o chefe… talvez só sorria e diga ‘f*da-se’ com os olhos”, completa Noah. O showrunner também descreve a série como uma mistura de “o sonho de Peter Pan com o apocalipse heavy metal” — e não é exagero. A trilha sonora inclui clássicos do rock que vão de Black Sabbath a Metallica, Tool, Jane’s Addiction e Smashing Pumpkins, entre outras bandas. Canções como Mob Rules (no piloto) dão suporte ao terror mais denso, aquele que vem das entrelinhas: da desumanização corporativa, da infantilização da violência, da inevitabilidade da destruição.

Atmosfera de terror, mas com leveza no set“Tim [Olyphant] e eu temos várias cenas juntos em que há esse sorriso dele — e eu sei o que está por trás. Quando nos conhecemos, percebi que haveria leveza e jogo de cena. Isso é essencial. Às vezes, você não quer um ator que despeje todo o preparo dele ali na sua frente. Você quer alguém que vá descobrir com você”, explicou o ator Samuel Blenkin, que interpreta o insuportável antagonista Boy Kavalier, um personagem descrito como um trilionário excêntrico e controlador, que acredita estar conduzindo a humanidade a um salto evolutivo — ainda que isso envolva decisões extremamente questionáveis.

“O mais difícil foi não se deixar consumir pela intensidade da atmosfera. O set era escuro, a tensão constante, às vezes você estava correndo por sua vida com um Xenomorfo de dois metros atrás de você… Mas era emocionante. Como viver dentro de um pesadelo — e amar cada segundo”, completou a grande estrela feminina de Alien: Earth, a atriz Sydney Chandler. Ela é Wendy, a híbrida humano-sintética, criada pela corporação Prodigy, com a consciência de uma criança transferida para um corpo robótico adulto. Ela lidera uma equipe de soldados em uma missão para investigar a queda de uma nave alienígena na Terra, enfrentando criaturas extraterrestres e revelando segredos corporativos perigosos.

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Conhecida por seus papéis em Pistol, Sugar e Don’t Worry Darling — e filha do ator Kyle Chandler — a atriz tem sido apontada como uma das revelações do ano. Ela diz que teve muitos pesadelos com o Xenomorfo, por isso, “estar no set sendo perseguida por um de verdade — ou quase — foi como fechar um ciclo”, brincou.

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Sigourney Weaver no primeiro filme da fraqnuia, Alien (1979) (IMDB/reprodução)

O peso de continuar a saga

Não é a primeira vez que alguém tenta mexer com o universo Alien. Já tivemos sequências brilhantes (Aliens, de James Cameron), prequels filosóficas (Prometheus), cruzamentos duvidosos (Alien vs. Predator) e até um novo filme em 2024, Alien: Romulus, que foi bem recebido por retomar o terror básico de sobrevivência.

Mas Alien: Earth faz outra coisa. Em vez de voltar às origens, ela amplia o campo — literalmente. Ao contrário dos filmes, que têm duas horas e um elenco descartável, a série precisa sustentar personagens, narrativas paralelas e monstros com propósito. E Hawley entende isso como poucos.

Segundo ele, uma série exige que as criaturas façam parte de um mundo coerente, com política, economia e emoções — não podem ser apenas predadores. Por isso, os xenomorfos aqui não são os únicos monstros. Há novas espécies — e há os humanos, ou quase-humanos, cujas decisões são tão ou mais assustadoras.

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Ridley Scott assina, mas Hawley transforma

Ridley Scott está envolvido como produtor executivo, mas Alien: Earth tem claramente a assinatura de Noah Hawley. Ele pega os códigos do universo criado em 1979 — o terror claustrofóbico, a crítica ao capitalismo extremo, a estética industrial — e reconstrói tudo em um mundo muito mais aberto, mas igualmente ameaçador.

Não é uma série para os fãs saudosistas de jumpscare. É para quem quer se perder em um mundo distópico que parece perigosamente próximo do nosso: onde corpos são mercadoria, infância é ferramenta, e a sobrevivência virou espetáculo. “Se você não consegue responder ‘por que estamos fazendo isso?’ com algo além de ‘dinheiro’, talvez devesse parar” explica o showrunner.

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Timothy Olyphant em Alien: Earth (IMDB/reprodução)

A pergunta não é se vale a pena ver — mas quantas vezes

Se o final da temporada mantiver o nível dos seis episódios iniciais, Alien: Earth deve entrar para a lista das melhores séries de ficção científica da década. É visualmente estonteante, filosoficamente instigante e emocionalmente devastadora. E como todo grande sci-fi, nos força a olhar para o futuro com medo — mas também com fascínio.

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