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Carta aberta assinada por mais de 750 nomes do audiovisual cobra urgência na regulação do streaming no Brasil

Entre os signatários estão nomes consagrados como Walter Salles, Wagner Moura, Fernanda Torres, Kleber Mendonça Filho, Rodrigo Santoro e Fernando Meirelles

Por Redação Bravo!
Atualizado em 7 ago 2025, 16h11 - Publicado em 6 ago 2025, 17h47
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Walter Salles, Wagner Moura, Fernanda Torres, Karim Aïnouz, Kleber Mendonça Filho, Rodrigo Santoro, Fernando Meirelles e Petra Costa fazem parte dos mais de 750 signatários da carta pró regulação do streaming  (IMDB/reprodução)
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O cinema brasileiro se uniu em um movimento de convergência. Mais de 750 profissionais do setor – entre cineastas, produtores, roteiristas, técnicos e artistas de todas as regiões do país – assinaram uma carta aberta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à ministra Gleisi Hoffmann, ao deputado Hugo Motta e à ministra da Cultura, Margareth Menezes. O documento também é direcionado à secretária do audiovisual, Joelma Gonzaga, e defende a urgência da aprovação de um marco regulatório para o streaming no Brasil.

“Não podemos aceitar que o nosso mercado audiovisual seja usado como moeda de troca, como em momentos anteriores de nossa história. Devemos almejar equilibrar a nossa balança comercial da cultura, exportando nossa diversidade e nossa produção cultural para o mundo.”, afirma a carta, que reforça a necessidade de garantir contrapartidas justas por parte das grandes plataformas internacionais que operam no país. Sem regulação, alertam os signatários, o Brasil corre o risco de permanecer apenas como mercado consumidor, sem consolidar uma indústria capaz de gerar emprego, renda e projeção internacional.

O texto também faz uma defesa contundente da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), relatora do PL 2331/22. O projeto prevê uma contribuição mínima de 6% da receita bruta das plataformas para o desenvolvimento do audiovisual nacional, patamar inferior ao recomendado pelo Conselho Superior de Cinema e baseado em modelos adotados por países como França, Coreia do Sul e Itália.

Entre os signatários estão nomes consagrados como Walter Salles, Wagner Moura, Fernanda Torres, Rodrigo Santoro, Kleber Mendonça Filho, Bárbara Paz, Petra Costa, Fernando Meirelles, Karim Aïnouz e Laís Bodanzky, além de expoentes do cinema independente, como Anna Muylaert, Adirley Queiróz, Affonso Uchoa, Marcelo Caetano e Grace Passô. A lista inclui ainda cineastas indígenas, realizadores da periferia e veteranos como Julio Bressane, Daniel Filho e Helena Ignez.

Leia a carta na íntegra:

CARTA ABERTA DO CINEMA E DO AUDIOVISUAL BRASILEIRO

Exmo. Presidente Lula

Cópia para:

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Exmo. Presidente da Câmara, Dep. Hugo Motta

Exmo. Presidente do Senado, Senador David Alcolumbre

Dep. Federal Jandira Feghali

Ministra Gleisi Hoffmann

Ministra Margareth Menezes

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Sec. Joelma Gonzaga

Nós, representantes da cadeia criativa e produtiva do audiovisual brasileiro, viemos alertar para a urgência da regulação do streaming (VOD), cuja tramitação no Congresso não pode mais ser adiada sem comprometer a soberania e o futuro da indústria audiovisual nacional.

Como todos os países democráticos demonstram, não há soberania política ou econômica sem soberania cultural.

A regulamentação do VOD encontra-se com mais de uma década de atraso, em um contexto onde o audiovisual tornou-se central para a circulação de ideias, valores, linguagem e identidade nacional. O Brasil é hoje o segundo maior mercado mundial para plataformas globais de streaming, mas não conta com mecanismos regulatórios que assegurem contrapartidas financeiras, de programação e de propriedade intelectual compatíveis com essa posição.

O audiovisual de um país registra a identidade em movimento de sua cultura. Conta quem nós somos, de onde viemos, e nos ajuda a pensar para onde queremos ir. Constrói algo fundamental: a memória de um país. Aprovar uma regulação do streaming à altura do Brasil diz respeito portanto ao nosso projeto de país. Para garantir o direito da população à cultura, à língua portuguesa, ao nosso internacionalmente reconhecido cinema. Para ampliar o acesso às histórias, às imagens e os sons de nosso país.

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A dimensão da cultura e a afirmação da soberania transcendem visões partidárias porque impactam diretamente nossa identidade coletiva e o direito de todas e todos participarem da construção simbólica do país que queremos ser.

Sem regulação, o Brasil corre o risco de ser um mero mercado de consumo e de prestação de serviços para as plataformas, sem desenvolver aqui uma indústria capaz de crescer, investir e valorizar os trabalhadores brasileiros do audiovisual. A Coreia do Sul é um exemplo de um país que vem tratando o audiovisual como indústria estratégica e como potente vetor de internacionalização de sua cultura e sua língua.

Enquanto países como França e Itália estabeleceram obrigações financeiras entre 10% e 25% do faturamento das plataformas, o substitutivo apresentado pela deputada federal Jandira Feghali — no esforço de construir consensos e com apoio majoritário do setor — propõe 6% como contribuição mínima via Condecine, valor considerado o piso necessário para garantir a mínima sustentabilidade industrial e pluralidade cultural. O Conselho Superior do Cinema fixou no ano passado as obrigações financeiras das plataformas em 12% do seu faturamento, patamar próximo ao de países europeus.

Essas empresas globais estão no Brasil há 10 anos sem pagar a Condecine, a contribuição para nossa indústria, devida por todos os agentes que aqui operam. Aquilo que produziram, utilizando nossos talentos e histórias, o fizeram retirando a propriedade sobre as obras.

Para uma obra ser brasileira, é fundamental que sua propriedade seja de brasileiros. O setor audiovisual brasileiro movimenta R$ 56 bilhões  por ano, gera mais de 500 mil empregos diretos e indiretos, e tem ampliado sua presença internacional por meio da produção independente, reconhecida em premiações como o Oscar e o Globo de Ouro. Nosso potencial de crescimento é enorme, temos os talentos e a estrutura produtiva para isso.

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Não podemos aceitar que o nosso mercado audiovisual seja usado como moeda de troca, como em momentos anteriores de nossa história. Devemos almejar equilibrar a nossa balança comercial da cultura, exportando nossa diversidade e nossa produção cultural para o mundo.

Solicitamos, portanto:

  • Apoio político efetivo e formal do Poder Executivo ao substitutivo da deputada Jandira Feghali em tramitação na câmara dos deputados, com prioridade estratégica na agenda do governo.
  • Manutenção da deputada federal Jandira Feghali como relatora no plenário, garantindo coerência legislativa e continuidade institucional.
  • Que o MinC e seus representantes exerçam seu papel, como o fazem os Ministérios da Cultura de países com cinematografias fortes, atuando como defensores dos interesses do audiovisual brasileiro
  • ⁠Atuação conjunta do Executivo e suas lideranças na Câmara para assegurar tramitação célere e resistência a pressões de setores contrários à regulação.

Senhor Presidente, a ausência de regulação adequada compromete a autonomia cultural, a competitividade da indústria audiovisual nacional e sua capacidade de gerar emprego, renda e projeção internacional.

Países que reconhecem o audiovisual como setor estratégico implementam políticas de Estado, não apenas de governo, compreendendo o cinema como indústria e como extensão dos seus interesses nacionais e geopolíticos.

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