Cena, ação: Cauã Reymond
Há 21 anos, o ator é reconhecido como um dos artistas mais famosos do país e tem construído uma carreira consistente na televisão e cinema
Cauã Reymond é um daqueles artistas que todos conhecem, um que há muito tempo passou a ocupar um espaço especial no cotidiano da audiência brasileira e nunca mais saiu de cena. Pode-se dizer que foi um acidente e, talvez, um pé na bunda que o colocaram na profissão. Ele estava com 20 anos, trabalhando como modelo e tinha mudado recentemente de Santa Catarina para a Europa. No fim do trajeto, fez um desvio e acabou desembarcando em Nova York, onde permaneceu por dois anos. Estava triste devido a um término de namoro e sem muitas perspectivas, quando o pai, tentando animar o filho, insistiu que ele deveria estudar teatro. Desde pequeno, ele ouvia de sua mãe, Denise, uma astróloga, que ele seria intérprete. Sempre rebelde, nunca acreditou em astrologia, exceto nos momentos finais de Denise, que faleceu em decorrência de um câncer em 2019. Antes disso, no entanto, já adulto, levou o conselho do pai a sério. Buscou Susan Batson, uma conhecida professora que fazia parte do Actor’s Studio. Diante de sua fama de exigente, ele não sabia se seria aceito por ela. Cauã ouviu uma vez de sua agente quando era modelo que ela já havia encaminhado os maiores top models para treinarem com Susan, mas a professora não gostou de nenhum deles. Sendo brasileiro e apenas arranhando o inglês, as chances pareciam ainda menores.
“E não é que ela gostou de mim? Me mandou voltar no dia seguinte, voltei. Eram aulas avulsas, cada uma custava . No primeiro dia ganhei um elogio. Ela me disse que eu tinha uma vida emocional rica”, revela.
Sobre isso, não havia dúvidas. Cauã teve uma infância dura, passou por dificuldades financeiras e problemas familiares. Vivendo com a mãe e duas tias, desde cedo precisou adquirir um forte senso de responsabilidade e até de sobrevivência. Aos 14, foi viver com o pai. Essa realidade era diferente do glamour que o cerca atualmente.
“Um dia perguntei para ela [Susan] o que deveria escutar quando estivesse preparando um personagem. E ela disse: ‘Sketches of Spain’, de Miles Davis. Tudo isso me alimentou muito no começo”
Cauã Reymond
Em Nova York, para continuar estudando com Susan, faltava superar uma dificuldade: a falta de grana. Quando ela perguntou se o jovem continuaria vindo, ele disse que não poderia, que estava desempregado, e que voltaria para o Brasil um mês depois. Susan decidiu apostar no promissor ator: ofereceu uma bolsa de estudos e um trabalho. Diariamente, ele chegava cedo na escola, limpava todo o espaço e, à tarde, participava do curso. Ao final, limpava novamente. Terminava o expediente às 18h. Em seguida, ia para uma academia de jiu-jitsu, onde dava aulas. As dificuldades ainda existiam, mas os caminhos pareciam se abrir. Um de seus alunos ofereceu um quarto em seu apartamento. Era o quarto dos cachorros. Ali, Cauã encheu uma cama inflável e dormiu durante sua permanência nos Estados Unidos.
Na atuação, primeiro se familiarizou com o método norte-americano, realista, e totalmente voltado para o cinema, para depois entender como funcionava o estilo brasileiro na televisão. “Um dia perguntei para ela [Susan] o que deveria escutar quando estivesse preparando um personagem. E ela disse: ‘Sketches of Spain’, de Miles Davis. Tudo isso me alimentou muito no começo.” No Brasil, foi crescendo e se desenvolvendo aos olhos do público, e não demorou até se tornar um dos atores mais requisitados.
Lá se foram mais de 20 anos. O cenário mudou. Hoje é um ator premiado e com um vasto currículo. Nos estúdios Globo, no Rio de Janeiro, ao entrar na luxuosa mansão da família La Selva, núcleo central de Terra e Paixão, é possível escutar uma voz que sobressai. O dono dela faz brincadeiras com toda a equipe, dá gargalhadas e, vez ou outra, diz frases aleatórias em castelhano e italiano. Ao chegar mais perto, descobrimos que o dono da balbúrdia é ninguém menos do que Cauã. É uma manhã de quarta-feira e o ator, que interpreta Caio, o filho mais velho dos La Selva e um dos protagonistas, já está caracterizado e pronto para sua sequência de gravações, que irá durar até tarde da noite. “Se não tem brincadeira, o trabalho fica impossível”, ele explica. Há apenas alguns dias, o elenco gravou a cena da morte de Daniel (Johnny Massaro), irmão de Caio, em um acidente de carro.
O tom das filmagens é oposto ao da descontração no set. As cenas incluem os desdobramentos do incidente, com os personagens lidando com o luto. O papel de Cauã é o que mais sofre com a perda. No set do MG4, o mais tecnológico do Projac, ele grava duas cenas e, em uma delas, Caio, intrigado, recebe ligações do celular do irmão morto. Cauã já sente falta de Johnny, com quem desenvolveu uma relação afetuosa também fora das câmeras. Mas quando pensa no fim da novela, ele fica com os olhos marejados ao imaginar a falta que irá sentir de um dos atores do núcleo principal, seu grande mestre, Tony Ramos.
Take 1
O rito que antecede a gravação é mais ou menos o mesmo sempre. Os atores ensaiam o texto, passam as marcações, recebem as indicações da direção – que, naquele momento, é comandada por Tande Bressane –, então fazem um ensaio gravado e, aí, sim, começam a filmar de verdade. O cenário está lotado, mal conseguimos ver a cena transcorrer. Diante da quantidade de gravações diárias, muitas vezes resta aos artistas decorarem o roteiro apenas alguns minutos antes da filmagem. Coisa que Cauã faz com facilidade. “Acho que o cérebro do ator deve ser diferente por decorar tanto texto diariamente”, ele comenta. Não é incomum o roteiro sofrer pequenas modificações ou surgirem alguns imprevistos na cena. No caso de uma mudança maior, a direção precisa ligar para o autor, Walcyr Carrasco. Não há problemas em mudar, mas é necessário haver uma defesa coerente para a modificação.
Finalmente, um intervalo. Com o gravador ligado, não há tempo a perder. Sentados na cabeceira da imensa mesa de jantar da família La Selva, começamos a conversa. Cauã detesta chegar no set com frio na barriga e sempre busca vir “o mínimo nervoso possível”. Para ele, isso é sinal de que o preparo não foi suficiente. “A minha construção do personagem é muito intensa no começo, eu não faço nada que não tenha no mínimo dois meses de preparação, e se o produto, a novela, o filme, a minissérie, não puderem arcar com isso, que é muito caro, faço por conta própria.”
A intenção é chegar com o personagem 70% pronto e lapidá-lo a partir do encontro com o resto dos atores e a direção. Conhecer bem seu personagem dá mais agilidade na gravação e facilita a tomada de decisões. “É importante ter um ambiente de construção, gastar sempre o mínimo de tempo possível para chegar a uma solução, porque o volume de trabalho é muito grande. Gosto muito de ser pragmático.”
“Acho que o cérebro do ator deve ser diferente por decorar tanto texto diariamente”
Cauã Reymond
Mas um elemento é indispensável no seu treinamento, a habilidade de improvisar. Esse é um dos indicadores de que está apto para começar o trabalho. “Tento entender as situações que antecedem o início da trama, de pensar nas coisas que ele gosta, como ele dorme, como ele namora, o quanto ele se envolve num namoro. Quantas vezes o coração dele foi quebrado. Se ele é tímido, o que ele gosta de ouvir. Sua sexualidade. Acho que tudo isso me guia. A novela é uma obra aberta, o Caio começa de um jeito e vai terminar de outro.”
O treinamento é bem diverso, e pode soar peculiar para alguns. “Eu já levei personagem para a análise, já combinei com meu analista e foi uma experiência legal, mas é mais interessante quando há uma pessoa treinada [cenicamente]. São experimentações que o Marlon Brando fazia, ele levava os personagens para o psicólogo.”
Todo o experimento vale a pena, ele garante, e possibilita algumas descobertas sobre sua criação, e também sobre si. “Eu não conhecia nada do universo rural. No caso do Caio, ele gerencia tudo isso aqui. Então a sua capacidade de administração é grande, já a de se comunicar, de falar sobre os sentimentos, é pequena. Mas a inteligência sobre o que ele faz é enorme. Como ele não foi criado pelo pai, que o culpa pela morte da mãe, uma das coisas que imaginei é que ele, provavelmente, foi criado por algum capataz, um que não necessariamente está na trama, que pode ter ido embora, ou já faleceu. Uma figura que ensinou ele a consertar o trator, que ensinou ele a dirigir na lama.”
Há várias dissimilaridades entre o ator e seu papel, que vão se tornando mais evidentes no decorrer da novela. “Não sou um grande administrador como o Caio. Eu administro as poucas coisas da minha vida, que já acho até bastante, mas ele não. Ele tem uma relação com a soja, crescendo com o plantar. Acho também que ele tem uma relação de solidão que eu não tenho. Gosto muito de gente. No começo, ele não gosta tanto, ele fala muito sozinho. Mas a novela vai mudando o personagem, que vai construindo relações com outros. Hoje foi um dia engraçado que falei muito sozinho, então de certo modo, o personagem vai oferecendo uma perspectiva diferente de como viver a vida. Sou curioso e isso me ajuda muito a estar sempre olhando novas perspectivas e isso obviamente me ajuda muito na profissão.”
Enquanto fala, Cauã observa a atriz Inez Viana passando o texto sozinha em outro cômodo da mansão. “Eu adoro a Inez, adoro brincar com ela. Olha lá, ela já decorou o texto há três semanas. Fico só sacando ela. Ela é uma diretora e atriz incrível. Os atores com quem ela trabalha são sempre indicados a todos os prêmios”, comenta.
“Eu já levei personagem para a análise, já combinei com meu analista e foi uma experiência legal, mas é mais interessante quando há uma pessoa treinada [cenicamente]. São experimentações que o Marlon Brando fazia, ele levava os personagens para o psicólogo”
Cauã Reymond
A pausa termina. Ele volta a gravar. E lá se vão mais três cenas antes que a equipe faça o intervalo para o almoço. Cauã sempre traz sua marmita e tenta comer rapidamente para tirar uma soneca restauradora, mas as visitas atrapalham sua rotina.
Take 2
Cauã tem uma energia jovial e grande facilidade para se relacionar com todas as pessoas ao seu redor. Uma mistura de seriedade e espírito de quinta série. Sua disposição parece ser inabalável. Não à toa, é chamado por uma das assistentes de direção de “nosso jovem hiperativo”. Ao mesmo tempo, tem um semblante carregado de mistério e uma sensualidade que lembra antigos astros de Hollywood, como os jovens James Dean e Marlon Brando. Seu figurino, por sinal, lembra aquele de Brando em Um bonde chamado desejo: camisa branca básica suja de terra e calça jeans. Por motivos óbvios, a caracterização é de um trabalhador rural.
Durante o almoço, ele compartilha o entusiasmo pela sétima arte. Um de seus hobbies é assistir a entrevistas de grandes diretores e artistas falando sobre o “crafting”. Esse é o seu assunto preferido, ele conta. O maior de todos, em sua opinião, é Denzel Washington.
“Hoje em dia, fazer novela está muito mais próximo do cinema do que há duas décadas. Nos três primeiros meses, o Tony Ramos brincava que estávamos fazendo um longa por dia. Temos várias posições de câmera, há um cuidado muito grande. Depois há uma pressa para entregar os episódios. O que isso representa? Tem um nível de profissionalismo e de preparo enorme de todos os envolvidos.”
Recentemente, tem adquirido outra fonte de diversão. Por causa da filha, Sofia, 11, tem assistido sistematicamente a tutoriais de maquiagem. Quando fala dela, sua feição se derrete em um largo sorriso. Outro vício que veio dessa jornada de ser pai é jogar Fortnite. “É ótimo para distrair naqueles momentos em que não queremos pensar em nada.” Sofia tem personalidade própria, ele conta, não puxou nem muito do pai, nem muito da mãe. “Atualmente, estamos numa fase Taylor Swift. Já conheço todos os álbuns dela, já sei as letras, já vi todos os clipes.” Diante da demanda no estúdio, o tempo com a filha tem sido menor. “Olha que fofo”, diz ele mostrando o celular. “Eu não consegui ensinar minha filha a andar de bicicleta, certo? Tentei muito e não consegui, mas eu sou tinhoso e arrumei uma professora de bicicleta. Olha que vídeo maneiro que recebi hoje.” Ele mostra o vídeo em que a jovem parece andar com bastante destreza. Enquanto isso, o pai orgulhoso toma fôlego para continuar o expediente.
“Hoje em dia, fazer novela está muito mais próximo do cinema do que há duas décadas. Nos três primeiros meses, o Tony Ramos brincava que estávamos fazendo um longa por dia. Temos várias posições de câmera, há um cuidado muito grande”
Cauã Reymond
Ao longo do dia, a energia vai se esvaindo, mas naquele jogo, ninguém deixa a peteca cair. Algumas das cenas mais longas e densas acontecem, justamente, ao anoitecer. “A técnica deve andar de mãos dadas com a emoção, ela te apoia e vai te levar a lugares diferentes onde você pode se surpreender. Tem dias em que estou mais cansado ou tenho uma cena mais intensa, então me resguardo, fico mais quieto”, ele conta.
O método, entretanto, não garante bons resultados. Ele deve estar aliado a uma facilidade de acessar certos sentimentos. Afinal, não há tempo para esperar que o ator ou atriz tenham uma grande descoberta cênica. “Eu tenho facilidade de chegar a certos lugares por conta das minhas experiências de vida e também pela minha experiência de carreira. Já filmei com muita gente diferente. Você vai entendendo como cada diretor funciona e você vai entendendo também o tempo de cada set. Cada diretor tem o seu timing. Nesse sentido, a vida do artista de novela é um momento muito rico de aprendizado. Afinal, onde você pratica o seu ofício constantemente durante 11 horas por dia, seis vezes por semana? É algo muito raro.”
Nos corredores, funcionários param o ator e pedem para ele gravar vídeos para familiares ou amigos. Isso acontece pelo menos quatro vezes pela manhã. Após o almoço, três jornalistas da Angola pedem uma breve entrevista gravada. Bem-humorado, ele diz que já surfou no país. Ao fim da conversa, simula com a apresentadora uma cena melodramática.
A pausa termina, de volta à maratona de filmagens.
Fim de filmagem
Após gravar uma sucessão de cenas, é hora de mudar de cenário. A troca implica também no deslocamento físico entre os estúdios. É uma caminhada longa entre uma gravação e outra. No cronograma, está programada uma filmagem externa noturna. Portanto, Cauã precisa concluir as cenas até as 17h30. Para isso, é necessário pegar uma carona em um dos pequenos veículos elétricos do Projac. Ao descer, ele caminha para entrar em cena imediatamente. O cenário agora é a simples casa da protagonista Aline (Bárbara Reis). Assim como a mansão dos La Selva, o lar é de fato uma morada, completamente equipada dentro do estúdio. Dois quartos, uma sala de TV, outra de jantar, conectada com uma cozinha. Ao fundo dela, há um banheiro e uma área de serviço. Enquanto os atores gravam a cena na sala, aguardamos na cozinha ao lado, comendo bolachas de um dos potes. Há também café de verdade na garrafa, mas esse é preservado porque é um importante acessório de cena.
Desta vez, é Jeferson De que comanda a gravação. A assistente de direção Karla Bittencourt chama atenção dos artistas que se perdem em conversas paralelas. Precisam finalizar a tempo para a filmagem externa, que novamente exigirá o deslocamento em um dos carros. “Precisamos liberar o homem”, ela grita.
Um longo intervalo se deu depois do almoço. Todos estão com fome, incluindo Cauã. Enquanto devoramos os biscoitos (ou será bolacha?), o ator procura algo mais saudável na cozinha de Aline. Encontra na geladeira uma cenoura e uma maçã. Aquilo lhe basta. A cena que estão gravando é o encontro entre Caio, Aline, sua mãe, Jussara (Tatiana Tiburcio), e o primo do falecido marido, Jonatas (Paulo Lessa). Discutem o futuro da protagonista. E já há indícios do romance que irá se desenvolver entre Caio e Aline.
Algumas repetições ocorrem e o cenário é aproveitado para as outras cenas. Cauã ganha mais um intervalo. No cômodo ao lado, no quarto do filho de Aline, João (Matheus Assis), tomamos os minutos para continuar a entrevista.
Embora, desde muito jovem, ele esteja acostumado a ter sua imagem exposta em revistas, sites de fofoca e, logicamente, na televisão, Cauã hesita em se expor nas redes sociais. De início, a ideia de criar um perfil não lhe agradava tanto, mas quando viu que atores do mundo todo estavam embarcando, de Glória Pires a Julia Roberts, percebeu que não tinha como escapar.
“Eu lido com a fama há 21 anos. Não que eu fosse um bom intérprete no começo, fui amadurecendo em frente ao público. Mas durante muito tempo sofri com a falta de privacidade, daí fui construindo ferramentas, como colocar um fone de ouvido, olhar para baixo, andar mais rápido”
Cauã Reymond
“Eu não acordo de manhã e dou oi para a câmera, mas fui encontrando uma forma de ter uma narrativa na internet e fui ficando mais desembaraçado com o passar do tempo.” E notou que essa é uma estratégia imprescindível na divulgação dos trabalhos. “É uma ferramenta que, às vezes, serve para desmentir alguma informação, algo que fiz uma vez. E é uma forma de conversar com o público também para falarmos do nosso trabalho. Como produtor, fiz A Viagem de Pedro, que é um filme de arte. Como o meu público entraria em contato com esse tipo de filme num Brasil que estava sem dinheiro para divulgação?”
Um assunto que ele gosta de compartilhar com o público são os filmes que assiste. “É uma forma de levar um pouco do que eu consumo, sem a pretensão de fazer uma crítica ou o que for.”
Se a desenvoltura e segurança em frente a um celular é algo que está em construção, na vida real isso já está dominado. Há muito tempo, Cauã não sabe o que é o anonimato. Para todos os lugares que vai, toda atenção é voltada para ele, algo que ele já se acostumou.
“Eu lido com a fama há 21 anos. Não que eu fosse um bom intérprete no começo, fui amadurecendo em frente ao público. Mas durante muito tempo sofri com a falta de privacidade, daí fui construindo ferramentas, como colocar um fone de ouvido, olhar para baixo, andar mais rápido.” Dar atenção ao público não parece ser um problema para ele. Essa facilidade social é um traço familiar. “Fui criado por meu avô, que era um senhor muito simpático. Eu gosto de gente. Só às vezes sinto falta de poder ir a um show.”
Ele lembra com carinho do avô, seu Carlos, que foi um economista renomado, responsável por custear os estudos do neto. “Ele era muito simpático, parecia prefeito do quarteirão dele. Já minha avó era muito controladora. Ele era cliente do Banco Mercantil. Você lembra do Mercantil no Leblon?”, ele pergunta para a assessora ao lado. “Parece que voltou. Agora, o Fábio Júnior é garoto propaganda. Adoro isso”, comenta aos risos. “Toda vez que meu avô queria sair, ele dizia que ia ao banco. Ele me chamava e saía cumprimentando todo mundo no caminho. Eu herdei isso dele.”
Voltando à falta de privacidade, pergunto o que ele faria de diferente se não fosse tão famoso. “Já tem tanto tempo que nem penso no que sinto falta, mas às vezes é gostoso estar fora do Brasil. Eu acho que o lugar de estar solteiro seria mais tranquilo para mim, da paquera.”
Ele é convocado mais uma vez para gravar as últimas cenas e, finalmente, rodar a passagem externa. “Quem está indo embora agora é bom tomar um bom banho de sal grosso porque estou morrendo de inveja”, ele brinca com a equipe.
Além da novela, Cauã tem mergulhado em outro projeto, o Mata-Mata, uma série que irá retratar os bastidores do futebol, percorrendo temas como corrupção e assédio sexual. Para criar a obra, ele se dedicou a investigar a fundo esse universo.
“Já tem tanto tempo que nem penso no que sinto falta, mas às vezes é gostoso estar fora do Brasil. Eu acho que o lugar de estar solteiro seria mais tranquilo para mim, da paquera”
Cauã Reymond
Desembarcamos. As cenas finais da novela são na cidade cênica, a céu aberto. Caio encontra o produtor rural Ademir (Charles Fricks). Para gravá-las, é necessário mais tempo de concentração e leitura. São três páginas de texto para memorizar. No Rio de Janeiro, o frio é algo questionável, mas no Projac, numa encosta de Mata Atlântica, ele é para valer. No cair da noite, o ar gelado pega todos de jeito. Os dois atores, contudo, precisam fingir que estão sob o clima do interior do Mato Grosso do Sul.
Essa é a hora de nos despedirmos.
Falta mais um pouco para ele poder ir embora. Ao fim do dia, foram, ao menos, 15 páginas gravadas. No dia seguinte, tudo se repete. Mas Cauã parece amar.