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CineSesc celebra cineastas do Leste Europeu

A programação contará com a presença de Hanna Polak, indicada ao Oscar com a obra "As Crianças de Leningradski"

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 25 jun 2025, 14h13 - Publicado em 25 jun 2025, 09h00
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Algo diferente (Vera Chytilová) (Cine Sesc/divulgação)
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A produção audiovisual feminina do Leste Europeu será celebrada na mostra Mulheres do Cinema do Leste Europeu, realizada no CineSesc, em São Paulo, entre os dias 25 de junho e 2 de julho. A programação reúne 23 filmes, entre clássicos e obras contemporâneas, assinados por 16 cineastas de 10 países da região, oferecendo um panorama amplo da diversidade estética e temática presente nas cinematografias do Leste europeu. As obras trazem diferentes aspectos da trajetória histórica do Leste Europeu, moldada por embates armados e tensões políticas ao longo do século XX.

Entre os destaques da mostra está a presença da diretora polonesa Hanna Polak, indicada ao Oscar de Melhor Documentário em Curta-Metragem por As Crianças de Leningradski, de 2005. O filme retrata com delicadeza e urgência a realidade de crianças em situação de rua que vivem e dormem na estação Leningradski, em Moscou. A cineasta também apresenta Algo Melhor por Vir, documentário de 2014 que acompanha, ao longo de 14 anos, o cotidiano de famílias que sobrevivem em um lixão situado nos arredores do Kremlin. Hanna Polak participará do debate “As interseções entre o cinema de ficção e o documentário na produção cinematográfica feminina do Leste Europeu”, compartilhando suas experiências no campo do documentário social.

A curadoria da mostra é assinada por Maria Vragova e Luiz Gustavo Carvalho. Entre as cineastas homenageadas estão figuras fundamentais da história do cinema da região, como Věra Chytilová, Márta Mészáros, Larisa Shepitko e Jasmila Žbanić, cada uma com trajetórias marcadas por um olhar crítico sobre as estruturas sociais e políticas de seus países de origem.

Věra Chytilová foi uma das principais representantes da Nova Onda Tcheca, movimento que renovou o cinema da então Tchecoslováquia nos anos 1960. Seu filme As Margaridas, de 1966, tornou-se um marco do cinema feminista e vanguardista, reconhecido internacionalmente por sua linguagem experimental e por questionar normas de comportamento e de gênero. Márta Mészáros, cineasta húngara, foi a primeira mulher a vencer o Urso de Ouro no Festival de Berlim, com o filme Adoção, de 1975. Ao longo de sua carreira, desenvolveu uma obra sólida e coerente, dedicada a retratar com profundidade as contradições da condição feminina em sociedades moldadas pelo socialismo real. Larisa Shepitko, da antiga União Soviética, é lembrada como uma das cineastas mais sensíveis e rigorosas de seu tempo. Seu filme A Ascensão, lançado em 1977, conquistou o Urso de Ouro e é até hoje uma referência na representação cinematográfica da guerra, do sacrifício e da fé.

Além das obras clássicas, a mostra apresenta duas produções recentes inéditas no Brasil. Lançado no Festival de Berlim, Quando o Relâmpago Brilha sobre o Mar, dirigido pela cineasta ucraniana Eva Neymann, transforma cenas do cotidiano da cidade portuária de Odessa em um retrato poético e sensível da resistência diante da guerra. Em Um Pequeno Segredo Noturno, de 2023, a diretora russa Natália Meshanínova mergulha nas tensões da adolescência e nas camadas de silêncio e desconforto que podem habitar mesmo as famílias aparentemente estáveis. Ambos os filmes propõem reflexões sobre os impactos das transformações políticas e sociais nas experiências íntimas e coletivas, renovando as possibilidades do cinema autoral do Leste Europeu.

Conheça os filmes da programação:Sinopses dos filmes

Sapatos rasgados (Rvanie bachmaki)

Dia 30 de junho, segunda-feira, às 18h30  

Direção: Margarita Barskaia | Drama | URSS | 1933 | 85 min | Versão original em russo com legendas em português
Classificação: livre

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Bubby, filho de um desempregado, alimenta toda a família com os centavos miseráveis que ganha vendendo o que encontra no lixo. Cada manhã, vai ao “trabalho” calçando os enormes sapatos rasgados de seu irmão mais velho, um estudante, até o dia em que se depara com as manifestações e tensões entre trabalhadores e patrões na cidade onde mora. Passado no início dos anos 1930, Sapatos rasgados narra a vida dos filhos de trabalhadores alemães nos anos que antecederam ao fascismo.

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(Cine Sesc/divulgação)

A última etapa (Ostatni etapa)

Dia 2 de julho, quarta-feira, às 14h30  

Direção: Wanda Jakubowska | Drama | Polônia | 1948 | 90 min | Versão original em polonês com legendas em português
Classificação: 12 anos

A última etapa retrata as experiências da renomada diretora polonesa e sobrevivente do Holocausto no campo de concentração de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial. O filme foi um dos primeiros esforços cinematográficos realizados na tentativa de descrever o Holocausto e é considerado um dos principais registros audiovisuais sobre este sombrio capítulo da história do século XX.

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(Cine Sesc/divulgação)
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Algo diferente (O něčem jiném)

Dia 26 de junho, quinta-feira, às 15h 

Direção:  Věra Chytilová | Drama | Tchecoslováquia |  1963 | 85 min | Versão original em tcheco com legendas em português
Classificação: 12 anos

Věra Chytilová escreveu e dirigiu esta história em duas partes: a primeira narra o treinamento rigoroso da campeã olímpica Eva Bosakova. A ginasta sonha com a aposentadoria, enquanto participa de um treinamento extenuante, desenvolvido apenas para atletas de primeira classe. A segunda parte retrata a história de uma dona de casa, ignorada e desprezada pelo marido. Combinando os gêneros do documentário e da ficção, o primeiro longa-metragem de Věra Chytilová foi vencedor do Grande Prêmio no Festival de Cinema de Mannheim.

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(Cine Sesc/divulgação)

Asas (Krilya)

Dia 1 de julho, terça-feira, às 14h30 

Direção: Larisa Shepitko | Drama | URSS |  1966 |  86 min | Versão original em russo com legendas em português
Classificação: 12 anos

A guerra terminou há muito tempo, porém, para Nadejda Petrukhina, uma ex-aviadora, apenas esses momentos possuíram um verdadeiro significado. Incapaz de reconstruir qualquer relação com a realidade ou com a própria filha, ela não consegue se adaptar à vida pacífica e comum. Seu desejo de voar não se apaga…

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(Cine Sesc/divulgação)

A despedida (Proschanie)

Dia 27 de junho, sexta-feira, às 15h  

Direção: Larisa Shepitko | Drama | URSS | 1981 | 128 min Versão original em russo com legendas em português
Classificação: 12 anos

Para construir uma nova estação hidrelétrica, a ilha de Matera deve ser inundada. Alguns habitantes, forçados a evacuar o vilarejo da ilha, preparam-se para deixar seus lares. Uma mãe liga para os filhos. Cada um, à sua maneira, se despede de seus lugares de origem… Baseado no romance Adeus a Matera, do escritor russo Valentin Rasputin, o filme ficou inacabado devido à morte abrupta da diretora, tendo sido finalizado por seu marido, o cineasta Elem Klimov.

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(Cine Sesc/divulgação)

Nove meses (Kilenc hónap)

Dia 27 de junho, sexta-feira, às 17h30  

Direção: Márta Mészáros | Drama | Hungria | 1976 | 97 min | Versão original em húngaro com legendas em português
Classificação: 12 anos 

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No mesmo dia em que Juli se muda para a cidade grande, em busca de um emprego em uma fábrica, János a pede em casamento. A comunicação entre o casal, entretanto, mostra-se difícil desde o início. János não consegue aceitar em seu coração o desejo de Juli por independência. Através de imagens cruas, o filme retrata a determinação de Juli com todas as suas consequências: sozinha, ela decide ter o bebê. Nove meses foi vencedor do Prêmio Fipresci do Festival de Cannes, em 1977.

→ Sessão seguida de conversa sobre o cinema feito por mulheres no Leste Europeu e sobre os aspectos documentais e ficcionais na obra das cineastas apresentadas na mostra. Com a presença de Carla Maia, Maria Shellard, Hanna Polak e Maria Vragova. Mediação: Luiz Gustavo Carvalho.

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(Cine Sesc/divulgação)

Duas mulheres (Ők ketten)

Dia 27 de junho, sexta-feira, às 20h30 

Direção: Márta Mészáros | Drama | Hungria | 1977 | 94 min | Versão original em húngaro com legendas em português
Classificação: 14 anos 

Em busca de um lugar seguro para morar após ser perseguida pelo marido, um homem depressivo e violento, Juli se hospeda em um abrigo para mulheres administrado por Mari. Com sua sensibilidade característica, Márta Mészáros traça o vínculo protetor e complexo que se cria entre as duas mulheres, as quais, embora em fases diferentes da vida, lidam com as mesmas questões de liberdade e autonomia enquanto reconstroem seus caminhos pedregosos em direção à independência. Um olhar multifacetado sobre a solidariedade feminina.

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(Cine Sesc/divulgação)

Diário para os meus filhos (Napló gyermekeimnek)

Dia 26 de junho, quinta-feira, às 20h

Direção: Márta Mészáros | Drama | Hungria | 1982 | 107 min | Versão original em húngaro com legendas em português
Classificação: 12 anos

Diários devem auxiliar na construção de certa ordem na memória. Na Trilogia do diário, flashbacks se misturam a imagens de arquivo como símbolos não apenas de instabilidade, mas também da insegurança e desconfiança universais que ofuscam qualquer interação. Em 1947, a órfã Juli ainda é uma adolescente que busca reconciliar as peças do quebra-cabeça de sua memória com os eventos que se desenrolam ao seu redor. Rebelde e cautelosa, ela não se contenta com simples explicações. Diário para os meus filhos é o primeiro capítulo da trilogia autobiográfica de Márta Mészáros, na qual a diretora confronta seu passado no cenário dos anos pós-guerra para compartilhar uma visão pessoal da história.

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Diário para os meus amores (Napló szerelmeimnek)

Dia 28 de junho, sábado, às 17h

Direção: Márta Mészáros | Drama | Hungria | 1987 | 141 min | Versão original em húngaro com legendas em português
Classificação: 12 anos

“Para mim, o cinema é, ao mesmo tempo, sonho e realidade”, reflete Juli em um momento da segunda parte da Trilogia do diário. A jovem quer fazer documentários, mostrar a vida real das pessoas. Contudo, seu primeiro filme infelizmente não segue a linha do partido comunista húngaro. Diário para os meus amores gira em torno de reflexões sobre o que é realidade, verdade e “vida real”, sobre o que deve e o que pode existir. Filmagens de filmes, associações autobiográficas e ficção são pontos de referência alternativos para o universo criativo de Márta Mészáros, aspectos de uma abordagem que corroboram sua relevância como diretora e cronista de seu tempo. O filme ganhou o Urso de Prata na Berlinale, em 1987.

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Diário para o meu pai e minha mãe (Napló apámnak, anyámnak)

Dia 29 de junho, domingo, às 17h30

Direção: Márta Mészáros | Drama | Hungria | 1990 | 119 min | Versão original em húngaro com legendas em português
Classificação: 12 anos

Em outubro de 1956, uma revolta popular contra a repressão soviética está se formando em Budapeste — a estátua de Stalin é decapitada e, por um breve momento, um novo futuro parece possível. Juli retorna a Moscou, onde soube da reabilitação de seu pai, mas também de sua morte. Tomada pela raiva e pelo sofrimento, ela reencontra seu passado. Fotografias e gravações de filmes sombrios parecem-lhe uma ajuda para compreender a extensão da catástrofe em curso à sua volta. A última da Trilogia do diário transita habilmente entre história, ficção e autobiografia na busca pela verdade, demonstrando a possibilidade de uma abordagem perspectivista no registro da história.

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(Cine Sesc/divulgação)

Síndrome astênica (Astenícheski sindrom)

Dia 29 de junho, domingo, às 20h

Direção: Kira Muratova | Comédia/Drama | URSS | 1989 | 153 min | Versão original em russo com subtítulos em português
Classificação: 14 anos

Após a morte do marido, Natacha agride as pessoas na rua e no hospital em que trabalha, até se consumir na loucura e na raiva. A agonia dura uma hora, mas as luzes do cinema se acendem, e todos percebem que tratava-se apenas de um filme. O diretor tenta iniciar uma discussão com a plateia, mas todos vão embora com a exceção de Nikolai, um deprimido professor de inglês que sofre de narcolepsia. Em Síndrome astênica, último filme soviético e primeiro filme pós-soviético, a diretora usa a síndrome médica que dá título ao filme como uma metáfora para retratar a sociedade soviética em seus últimos anos.

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(Cine Sesc/divulgação)

Sem amor (Bez miłośc)

Dia 28 de junho, sábado, às 20h

Direção: Barbara Sass | Drama | Polônia | 1980 | 99 min | Versão original em polonês com legendas em português

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(Cine Sesc/divulgação)
Mulheres no Cinema do Leste Europeu

De 25 de junho a 2 de julho
CineSesc – Rua Augusta, 2075 – São Paulo
Ingressos: R$ 10 (preço único)

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