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OLÁ,

Por que “Orgulho e Preconceito”, clássico de Jane Austen, faz tanto sucesso?

Entenda como estas versões para o cinema e Tv transformaram uma história de amor do século 19 em um fenômeno cultural atemporal

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 14 abr 2025, 15h19 - Publicado em 11 abr 2025, 07h00
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Keira Knightley e Matthew Macfadyen em Orgulho & Preconceito (2005) (IMDB/reprodução)
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Vou falar muito de Jane Austen ao longo de 2025, afinal, em dezembro, será seu aniversário de 250 anos. E não poderia deixar de começar com Orgulho e Preconceito, que foi publicado pela primeira vez em 1813 e é um dos romances mais celebrados dela, para muitos, sua obra-prima. Explorando temas como amor, classe e expectativas sociais, a obra ressoa com os leitores por mais de dois séculos e é como uma pedra angular da literatura inglesa, readaptada e “copiada” em diferentes formatos.

Podemos argumentar com muita segurança que foi Jane Austen que inventou a fórmula do “romcom” (comédia romântica), o gênero que Hollywood explora com gosto desde que o cinema foi inventado. Os encontros e desencontros de duas pessoas que inicialmente se detestam (não é à toa que o título original seria Primeiras Impressões), mas que, aos poucos, vão se descobrindo apaixonadas. Sim, William Shakespeare já tinha usado essa premissa em Muito Barulho Por Nada e obviamente há mais exemplos para citar, mas foi com a popularidade de Orgulho e Preconceito que percebemos como Jane foi precisa em nos deixar antecipando o final feliz até a última página, sem nos desapontar ao longo da jornada. 

Das várias versões filmadas dessa história em particular, três se destacam: o filme de 1940, com Greer Garson e Laurence Olivier; a minissérie da BBC de 1995, estrelada por Colin Firth e Jenniffer Ehle, e o filme com Keira Knightley e Matthew McFadyen, de 2005. Essa última, até por ser a mais recente, tem sido a mais popular de todas e em abril será relançada nos cinemas para celebrar seus 20 anos. Vamos falar de cada uma. Sim, eu sei que há mais filmes e séries “inspirados” no livro, mas esses são os que eternizaram exatamente o que Jane Austen imaginou.

Por que a história tão local de Orgulho e Preconceito se tornou universal (e atemporal)?

Há uma natureza duradoura no relacionamento tortuoso de Elizabeth Bennet e Sr. Darcy que contribui significativamente para o apelo da obra. A inteligência, sagacidade e forte senso de si de Elizabeth ressoam com muitos leitores, enquanto o complexo arco de personagem de Darcy — de orgulhoso e indiferente a compreensivo e amoroso — oferece uma rica exploração de crescimento pessoal e transformação.

Mas é a exploração de temas universais – amor e casamento ou as pressões sociais para se conformar às expectativas e a luta pela individualidade em meio às restrições de classe social – que contribuem para a popularidade de Orgulho e Preconceito até hoje. Acima de tudo, é a precisão e inteligência das observações aguçadas de Jane Austen que são o diferencial.

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Para estudiosos, através da visão de Jane, temos claramente como eram complexa as distinções de classe, papéis de gênero e a instituição do casamento na época e algumas dessas normas ainda provocam discussão hoje. Mas para roteiristas, como já mencionei, são as situações de desencontros, mal entendidos e evolução pessoal de cada personagem durante a história que até hoje sedimentam a fórmula de “comédia romântica”. Nem os mais cínicos resistem à Jane Austen.

A versão de 1940

A primeira adaptação cinematográfica de Orgulho e Preconceito é a de 1940, dirigida por Robert Z. Leonard, e conta com Greer Garson como Elizabeth Bennet e Laurence Olivier como Sr. Darcy. É uma releitura um tanto solta, mas envolvente, da história clássica de Austen.

Embora o romance se passa no início de 1800, por volta da época de sua escrita (Austen concluiu o livro em 1796, e ele foi publicado em 1813), os figurinos e a estética geral refletem as interpretações glamorosas de Hollywood daquele período, algo que as doutras adaptações foram mais fieis ao cotidiano da Inglaterra do início do século 19.

Se adaptando à sua época, o ritmo de Orgulho e Preconceito de 1940 difere do romance, condensando o enredo e desenvolvimento de personagens devido a restrições de tempo. Há “liberdades criativas” e talvez por isso não tenha sido unanimidade nem mesmo na época.

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Laurence Olivier e Greer Garson em Orgulho & Preconceito (1940) (IMDB/reprodução)

A performance de Greer Garson foi geralmente elogiada por capturar o espírito de Elizabeth, mas a interpretação Olivier como Darcy foi considerada muito taciturna e enfatizou seu sofrimento emocional mais do que a complexidade do personagem.

Discordo: Garson está perfeita sim, uma das melhores Lizzie sem discussão, mas o Darcy de Olivier reúne o pedantismo destacado por Firth e a timidez de McFadyen. O único porém é como ele o interpretou afetadamente, mas Olivier naqueles anos ainda não dominava o cinema como fazia nos palcos, sempre parecia mais exagerado. Para compensar, há química inegável entre os atores, que são ótimos Darcy e Lizzie, mesmo que quase esquecidos hoje em dia.

A série da BBC de 1995: Darcy vira ícone pop

Há 40 anos, a adaptação da BBC dirigida por Simon Langton, é uma das mais aclamadas de Orgulho e Preconceito. Ela não só é a mais fiel ao material de origem, também influenciou significativamente a percepção pública das obras de Jane Austen.

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Por ser série, essa versão não teve que resumir a história para ficar dentro de 2 horas: conta tudo em quase 300 minutos distribuídos em seis episódios, o tempo ideal para não excluir os detalhes mais relevantes. Fez tanto sucesso que a partir dessa série é que Helen Fielding criou o sucesso Bridget Jones.

O elenco dessa versão é nada menos do que sensacional por conta de Jeniffer Ehle e Colin Firth. A Elizabeth Bennet de Jennifer Ehle é sagaz, forte e inteligente. Perfeita, para mim, a melhor de todas. E o que dizer de Colin Firth como Sr. Darcy? Sua atuação no papel é icônica, para muitos, a representação definitiva do personagem, equilibrando orgulho e vulnerabilidade. Infelizmente, por causa de McFadyen, mudei de ideia, mas, até o filme de 2005, certamente compartilhava essa opinião.

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Jennifer Ehle e Lucy Davis em Orgulho e Preconceito (1995) (IMDB/reprodução)

Com diálogos em grande parte fiéis ao texto original, apenas com alguns elementos modernizados para clareza e profundidade emocional, Orgulho e Preconceito de 1995 foi aclamada mundialmente como perfeita e inspirou um ressurgimento do interesse nas obras de Jane Austen, sendo crucial para seu status atual como uma figura literária atemporal. Foi tão importante que muitos (estou entre eles) estranhou quando foi anunciado o filme. Como superar algo tão bom? Que surpresa: foi possível.

A versão de 2005: a definitiva entre as definitivas?

Quando o diretor Joe Wright elegeu o clássico de Jane Austen para seu filme o mundo reagiu passionalmente… contra. Hoje respeitado e uma referência, na época ainda não era conhecido, mas sua abordagem estética e a habilidade em lidar com personagens e emoções ajudaram a criar uma adaptação que se destacou das anteriores. Desde então, Wright se tornou conhecido por sua estética visual distintiva e habilidade em contar histórias complexas, consolidando sua posição como um dos cineastas proeminentes de sua geração.

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O elenco hoje é de tirar o fôlego, mas na época apenas Keira Knightley era conhecida e muitos não a viam como Elizabeth Bennet, por ser mais bonita do que a personagem é descrita e com personalidade forte, mas no final das contas ela foi indicada ao Oscar pelo papel. 

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Keira Knightley e Matthew Macfadyen em Orgulho & Preconceito (2005) (IMDB/reprodução)

Rosamund Pike interpretou Jane, mas era Matthew Macfadyen que tinha a missão mais difícil de superar Colin Firth como Mr. Darcy. Hoje ninguém mais consegue concluir quem é o melhor, mas Macfadyen tem liderado as pesquisas porque trouxe uma interpretação única e emotiva do personagem, diferentemente de algumas versões anteriores.

Orgulho e Preconceito de 2005 é sem dúvida a versão mais elogiada e premiada de todas, assim como comercialmente um grande sucesso: arrecadando mais de 120 milhões de dólares em todo o mundo, o que é considerável para um filme baseado em um romance histórico. É tão adorada que vai ser relançada nos cinemas agora em abril de 2025 justamente para celebrar seus 20 anos. Há algumas concessões em relação aos detalhes da trama do livro, mas conseguiu capturar o espírito e a essência da história. Depois dele, assim como a série da BBC, houve uma nova onda de regravações dos livros de Austen, rejuvenescendo o interesse nas suas histórias.

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Como será a próxima adaptação da Netflix?

O anúncio da plataforma de que vai regravar justamente o mais popular dos livros de Jane Austen tem gerado curiosidade imediata. Afinal, a tentativa anterior da plataforma foi o livro Persuasão, com Dakota Johnson e Cosmo Jarvis (Shogun) nos papéis principais, mas o filme deu uma derrapada ao “ajustar” a personalidade sofrida e tímida da protagonista Anne Elliot em uma mulher forte e até moderna. Isso gera muita suspeita dos mais apaixonados por Jane Austen, eu incluída!

Embora os rumores mais fortes apostassem em Daisy Edgar-Jones para o papel principal feminino, o desafio ficou mesmo com a talentosa Emma Corrin, que foi “descoberta” pela Netflix em The Crown, com uma Princesa Diana jovem que rendeu prêmios para a atriz. Ela já foi também a Lady Chatterley em outra adaptação literária da plataforma (O Amante de Lady Chatterley) e ninguém duvida que trará personalidade à heroína mais adorada do universo de Jane Austen. Outra colega de elenco de The Crown, a oscarizada Olivia Colman será a mãe de Lizzie, a Sra. Bennet. Ironicamente, cai nos ombros de Jack Lowden o maior dos desafios que é trazer para o icônico Dr. Darcy algo diferente das versões anteriores tão adoradas. Sou fã dele, quero acreditar que vai nos surpreender.

Pois é, ao longo dos anos, Orgulho e Preconceito continuou a cativar novas gerações. Seja na versão de 1940, com seu glamour hollywoodiano, na minissérie de 1995, que se tornou uma referência para os fãs de Austen, ou na versão de 2005, que trouxe uma abordagem visualmente marcante e personagens profundamente emocionais, a história de Elizabeth Bennet e Mr. Darcy permanece irresistível. Com o retorno de Orgulho e Preconceito aos cinemas para comemorar seus 20 anos, podemos apenas concluir que o fascínio por essa história é eterno, e talvez nunca haja uma resposta definitiva sobre qual versão é a melhor. Cada uma delas, de sua forma, eterniza a obra-prima de Austen, trazendo o clássico para diferentes públicos e mantendo a chama de seu legado acesa.

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