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“Coringa: Delírio a Dois” não é ruim, mas decepciona

A Bravo! assistiu à o longa de Todd Phillips, confira as impressões da reportagem sobre o longa

Por Humberto Maruchel
3 out 2024, 08h00
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 (Warner Bros/divulgação)
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Veja bem, as expectativas eram altas. Não só as minhas, mas da maioria que assistiu ao primeiro filme de Todd Phillips e foi capturada por uma nova perspectiva de um personagem tão emblemático e fundamental da saga de Batman. Ao sair da sala de cinema, geralmente temos muitas impressões: “foi incrível”, “detestei”, “teve bons momentos”, ou o clássico “poderia ter sido melhor”. Desta vez, levei quase duas horas para formar uma opinião mais consistente. A primeira sensação foi “é bom, mas…”. Depois, cheguei à conclusão de que esse não é um lançamento ruim, mas decepcionante.

O surpreendente é que muitos fatores jogam a favor: elenco de renome, bom roteiro, direção coesa, fotografia que mantém a identidade do primeiro e uma trilha sonora bastante interessante, que dá um verdadeiro contraste com o que se passa em cena. O que falha é a condução, ou melhor, o desfecho dos personagens principais, especialmente de Arthur Fleck.

A trama se desenrola em torno de uma questão crucial: “Qual Coringa estamos vendo e quando ele se tornará o vilão dos quadrinhos?”. A partir dessa pergunta, a narrativa se desenvolve. Arthur, ou o Coringa, está internado no Asilo Arkham, prestes a enfrentar julgamentos por múltiplos homicídios. A defesa argumenta que sua saúde mental, marcada por uma personalidade dissociativa, é a chave para sua absolvição. Isso porque ele foi vítima de abusos em sua infância, tanto físicos quanto emocionais e sexuais, com o conhecimento de sua mãe.

Se o júri aceitar essa tese, Arthur poderia escapar da condenação defendida pela promotoria (na figura do chatíssimo Harvey Dent): a pena de morte. Afinal, ele é visto como doente, e não inteiramente responsável. Mas Arthur também está em busca de respostas sobre si mesmo. Quem ele é, afinal? Arthur Fleck ou o Coringa?

O filme, ambientado nos anos 80, tal como o primeiro, faz severas críticas à decadência do sistema social, inclusive do carcerário, além de apontar o papel da imprensa sensacionalista, que contribui para que o vilão seja visto por parte da população como uma figura heroica. Ele tem seguidores nas ruas que enxergam o Coringa, mas não Arthur Fleck. E instiga outros psicopatas de Gotham City a aparecerem.

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No início, acompanhamos um personagem esgotado, apático, fisicamente debilitado, sem forças até para fazer piadas, mesmo diante das provocações policiais. É então que ele conhece Harley Quinn, uma interna de outra ala do Arkham, que participa de um coral. Eles logo se conectam. Arthur, por bom comportamento, é convidado a participar do grupo, e aqui já percebemos a importância da música para a compreensão de seu personagem. Suas emoções são frequentemente traduzidas por canções, em vez de respostas diretas.

A relação entre ele e Harley se aprofunda, mas logo descobrimos que ela está obcecada não por Arthur, mas pelo Coringa. Para ela, é a maquiagem que revela o seu verdadeiro eu, algo que nem o próprio Arthur parece ter certeza. Como uma figura virada do avesso. O filme poderia caminhar bem, mas o primeiro erro surge com o excesso de números musicais (e até de sapateado) – o que torna a narrativa arrastada e enfraquece a personagem de Lady Gaga. Em certos momentos, sua performance musical toma o lugar de Harley Quinn, prejudicando a imersão.

No entanto, é preciso destacar as atuações da dupla. Joaquin consegue fazer algo muito difícil para atores que participam de sequências: não cair na repetição. E aqui ele consegue mostrar um Arthur Fleck que está em outro momento de sua vida, perturbado por novas dúvidas. É cedo para fazer apostas, mas não seria surpresa mais uma indicação ao Oscar de Melhor Ator por seu papel. Gaga, embora talentosa, ainda parece presa a papéis que fazem alusão à sua persona pública, à superestrela. Sua personagem, contudo, é muito diferente daquela que foi construída no desenho e da vivida por Margot Robbie; ela é muito mais manipuladora e sombria.

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O grande desapontamento está na evolução do personagem e seu desfecho. Sem dar spoilers, o final lembra a decepção que muitos sentiram com Daenerys Targaryen em Game of Thrones. Embora surpreendente, o fim pode não ser satisfatório.

O filme propõe que o Coringa se tornou uma ideia maior do que qualquer pessoa, tornando irrelevante quem ele realmente é. Ainda assim, espero que essa seja a conclusão da saga, antes que a história se desgaste ao ponto de perder sua essência. E, nesta altura, é difícil conceber outro Coringa que não seja interpretado por Joaquin Phoenix, e o próprio ator não parece interessado em repetir o papel.

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(Warner Bros/divulgação)
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