Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br

Crítica: And Just Like That… e o fim de uma era que nunca começou de fato

Entre o revival e o requiem, a série da HBO MAX tentou renascer das cinzas — mas terminou como uma elegia estilizada ao que já foi

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 1 ago 2025, 18h58 - Publicado em 1 ago 2025, 17h18
and-just-like-that-sex-and-the-city-carrie-bradshaw-sarah-jessika-parker
 (HBO Max/divulgação)
Continua após publicidade

A notícia divulgada nas redes sociais nesta sexta (1) por Michael Patrick King, que chegou a hora de dar adeus definitivamente para Carrie Bradshaw e companhia, pegou fãs e críticos em um misto de surpresa e alívio. Isso porque o episódio 10 da terceira temporada de And Just Like That, que teria sido o final, terminou em aberto com imagens de mais um e deixou todos um tanto confusos: ainda tem mais pela frente?

Pois é, vejam a energia. Em vez de querermos mais, ficamos angustiadas com a possibilidade. Ainda mais porque no episódio “Melhor Que Sexo”, Carrie foi elogiada por ter repetido frases três vezes no capítulo final de seu livro, o que me fez lembrar de Beetlejuice – Os Fantasmas se Divertem, onde dizer o nome do personagem três vezes é uma das regras mais famosas do clássico de Tim Burton e parte de um ritual mágico que invoca (ou despacha) o bioexorcista do submundo, grotesco, cômico e perigosamente imprevisível, interpretado por Michael Keaton. Essa repetição cria uma tensão entre humor e horror, entre o desejo de controle e a perda dele. Ao mesmo tempo em que dá poder, também o retira.

Em Beetlejuice essa brincadeira com palavras é, no fundo, uma metáfora sobre o desejo humano de controlar o incontrolável — e sobre o preço que se paga ao tentar. Dizer o nome três vezes representa uma escolha. Parece inofensivo, até que não é. No caso de And Just Like That, o nome foi dito. O espírito foi invocado. E veio o adeus.

and-just-like-that-cancelado-carrie-bradshaw-sarah-jessica-parker
(HBO Max/divulgação)



Desde sua estreia, And Just Like That parecia carregar o peso não apenas da nostalgia, mas da necessidade de provar sua própria relevância. O revival de Sex and the City chegou com a promessa de amadurecimento, representatividade e realismo. O que entregou, porém, foi um desfile de inconsistências, desconstruções mal resolvidas e roteiros que, ao invés de evoluírem os personagens que marcaram gerações, os diluíram até o ponto da caricatura. Três temporadas depois, fica difícil defender o projeto como algo além de um exercício de vaidade — estético, visual, mas dramaticamente vazio.

A primeira temporada começou sob o signo do luto: a morte de Mr. Big no primeiro episódio foi não só um choque narrativo, mas o marco de uma guinada melancólica. Carrie, antes espirituosa, provocadora e verbalmente afiada, agora tropeçava em silêncios. Miranda, uma das personagens mais complexas da série original, foi desmontada em cenas constrangedoras, envolvida num arco com Che Diaz que parecia mais um experimento de roteiro do que uma história orgânica. Charlotte, por sua vez, parecia presa a uma bolha emocionalmente infantilizada, sendo reduzida a uma mãe perfeccionista que não conseguia lidar com o mundo moderno.

Continua após a publicidade
and-just-like-that-cancelado-carrie-bradshaw-sarah-jessica-parker-kristin-davis
(HBO Max/divulgação)

Mesmo as tentativas de atualizar o universo da série soaram forçadas. A inclusão de personagens mais diversos — mulheres negras, personagens queer, não-binários — não foi o problema. O problema foi a superficialidade com que esses novos rostos foram tratados. Em vez de se integrarem ao tecido da série, pareciam sempre pairar à parte, como adendos didáticos inseridos para sinalizar progresso. E os diálogos? Cheios de pausas desconfortáveis, piadas fora de tom e situações que mais pareciam esquetes de constrangimento do que momentos dramáticos.

Visualmente, a série manteve o padrão — figurinos glamourosos, locações sofisticadas, Manhattan como personagem coadjuvante. Mas mesmo isso parecia mais um simulacro do passado do que uma nova proposta estética. A impressão era de que a série apostava tudo no brilho externo para compensar a ausência de substância.

and-just-like-that-cancelado-carrie-bradshaw-cynthia-nixon-sarah-jessica-parker
(HBO Max/divulgação)
Continua após a publicidade

A segunda temporada melhorou. Sim, melhorou. Mas ainda estava longe de justificar sua própria existência. “Melhor que a primeira, mas ainda ruim.Miranda continuava perdida, sem função clara. O arco com Che virou piada, e o término previsível não ofereceu nenhuma catarse. Carrie, por sua vez, foi lançada novamente no ciclo de Aidan — uma história que já sabíamos como terminaria, e que, mesmo assim, se esticou por episódios inteiros como se tivesse algo novo a dizer. Não tinha.

A proposta parecia ser a de recuperar um pouco do brilho das conversas femininas e das interações urbanas. Algumas cenas até tentaram. Charlotte teve bons momentos — como mãe, como mulher lidando com o envelhecimento, e como figura de comédia. Lisa Todd Wexley viveu um drama real e tocante com a perda do bebê, mas o impacto foi diluído pelo ritmo errático da série, que abandona subtramas como quem muda de roupa. Ah! E seu pai foi morto nada menos do que duas vezes, uma gafe inesquecível. Seema, Nya, Anthony e Steve sobreviveram sem arcos reais. Estavam ali como decoração de um espaço que já não comportava mais os sentimentos do passado.

and-just-like-that-cancelado-carrie-bradshaw-mario-cantone-sarah-jessica-parker-willie-garson_0
(HBO Max/divulgação)

Visualmente, mais uma vez, a série seguiu sedutora. Mas o figurino virou uma caricatura. Carrie usando alta-costura para regar plantas em casa, Charlotte parecendo uma boneca de cera, Miranda com roupas sem identidade. A estética virou conteúdo — e esse é sempre um problema.

Continua após a publicidade

A terceira temporada trouxe algum alívio. Pela primeira vez, And Just Like That entregou episódios que pareciam ter um fio narrativo minimamente coeso. Carrie, ao encerrar definitivamente o ciclo com Aidan, mostrou maturidade. Estava ali a personagem que, por tanto tempo, buscávamos reencontrar. Charlotte e Harry também tiveram arcos mais interessantes, especialmente ao enfrentarem os desafios modernos da paternidade e os dilemas de identidade.

and-just-like-that-cancelado-carrie-bradshaw-sarah-jessica-parker
(HBO Max/divulgação)

Ainda assim, o ritmo era arrastado. Episódios inteiros em que “nada acontece”. O contraste entre o que poderia ser um comentário sofisticado sobre a meia-idade, envelhecimento e transformações sociais se perdia na falta de coragem dramática. A série evitava o conflito real. Queria agradar a todos e, no fim, não dizia nada.

O maior mérito da terceira temporada foi, talvez, o tom de despedida. A sensação de que a série finalmente sabia que seu tempo tinha acabado. E, com isso, algumas das cenas finais ganharam um peso emocional que antes era inexistente. Carrie, agora sóbria, madura e consciente, representava o fechamento não apenas de um ciclo amoroso, mas de uma era de televisão. Uma era que começou com Sex and the City, mas que nunca conseguiu renascer de verdade em And Just Like That.

Continua após a publicidade
and-just-like-that-cancelado-carrie-bradshaw-sarah-jessica-parker
(HBO Max/divulgação)

Ao longo das três temporadas, o que se viu foi uma série que tentou se reinventar sem saber quem era. Quis agradar novas gerações e reconquistar os fãs antigos, mas falhou em ambos. Sem o frescor da original, sem a ousadia de uma nova proposta, And Just Like That foi uma colagem nostálgica com poucas ideias novas. E, no fim, talvez o que reste mesmo seja a constatação dolorosa de que nem todas as histórias precisam de uma continuação. Algumas deveriam ter parado no auge. Um final triste para uma franquia que foi tão ousada e inovadora.

Miranda, Samantha e Charlotte — nunca haverá amigas melhores, e que sorte a de Carrie conhecer e amar Seema e LTW, conexões novas e divinas. Carrie Bradshaw foi o centro do meu coração profissional por 27 anos. Acho que a amei mais do que todas, escreveu Sarah Jessica Parker no seu Instagram.MPK (Michael Patrick King) e eu reconhecemos juntos, como já fizemos antes, que este capítulo se encerra. AJLT foi só alegria, aventura, o tipo mais gratificante de trabalho árduo. Vai demorar uma vida para esquecer.Espero que vocês amem esses dois últimos episódios tanto quanto todos nós amamos”, completou.

Eu duvido que consiga apagar os tropeços, mas vou vê-los com coração aberto. And Just Like That se despede sem deixar saudade — apenas o silêncio incômodo de um adeus que já tinha acontecido há muito tempo.

and-just-like-that-cancelado-carrie-bradshaw-sarah-jessica-parker
(HBO Max/divulgação)
Continua após a publicidade
Compartilhe essa matéria via:

 

Publicidade