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Documentário celebra as Helenas de Manoel Carlos 

“As Helenas de Manoel Carlos”, produzido por Júlia Almeida, filha do autor, revisita a trajetória da personagem e sua influência na cultura brasileira

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 13 nov 2025, 17h11 - Publicado em 13 nov 2025, 17h06
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Regina Duarte interpretou três Helenas, em novelas de Manoel Carlos: História de Amor (1995), Por Amor (1997) e Páginas da Vida (2006). (Memória Globo/reprodução)
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Se há um nome que se destaca na teledramaturgia brasileira, mesmo entre aqueles que não são frequentadores assíduos de novelas, é, provavelmente, Helena. Ícone e heroína das histórias de Manoel Carlos, responsável por clássicos como Malu Mulher (1979), Laços de Família (2000) e Mulheres Apaixonadas (2003), Helena se tornou uma figura emblemática que atravessa gerações e públicos.

Para celebrar o legado do dramaturgo, Júlia Almeida, CEO da Boa Palavra, produziu o documentário As Helenas de Manoel Carlos, disponível no YouTube. Esta obra corresponde ao segundo capítulo de uma trilogia iniciada em 2024 com O Leblon de Manoel Carlos, e retoma de forma aprofundada a trajetória da personagem e sua presença na cultura brasileira.

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Júlia Almeida, filha de Manoel Carlos, e realizadora do documentário “As Helenas de Manoel Carlos” (Bruno Ryfer/divulgação)

No documentário, Júlia investiga a dimensão cultural e afetiva de Helena, acompanhando as transformações do universo das histórias e personagens de Manoel Carlos, a conexão com o público e a relação das atrizes que deram vida à personagem ao longo dos anos. A produção também explora como Helena funcionou como um espelho das mudanças sociais e comportamentais ao longo do tempo, ainda que muitas das suas encarnações estivessem ligadas à alta sociedade.

O filme reúne entrevistas e depoimentos de artistas como Regina Duarte, Vera Fischer, Taís Araújo, Maitê Proença, Júlia Lemmertz e Christiane Torloni. Ao todo, houve nove personagens com esse nome, sendo Lilian Lemmertz a primeira, em Baila Comigo (1981), e Júlia Lemmertz a última, no Em Família (2014). A primeira telenovela de Manoel Carlos, aliás, se chamava Helena, exibida na TV Paulista, revelando desde cedo a predileção do autor pelo nome, inspirado em figuras mitológicas como Helena de Tróia, e não em uma pessoa real.

“Talvez porque sempre gostei de mitologia. A Helena mitológica é fantástica. E toda a história da Helena de Tróia — raptada, casada com o raptor, depois separada, retornando ao marido — me ofereceu uma magia e uma complexidade muito interessantes, que me cativaram profundamente”, declarou durante o programa Tributo a Manoel Carlos, do Globoplay.

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A Bravo! conversou com Júlia Almeida sobre a produção do documentário e suas lembranças do pai, criador e contador de histórias.

Como foi para você revisitar a trajetória de seu pai por meio das Helenas? E como surgiu a ideia de dedicar um documentário especificamente às Helenas de Manoel Carlos, dentro da trilogia iniciada com “O Leblon de Manoel Carlos”?

Revisitar a trajetória dele pelas Helenas foi assumir a responsabilidade de preservar e fortalecer o universo criativo de Manoel Carlos. Escolhi contar as Helenas porque elas são centrais à conexão entre criador, intérprete e público. A trilogia nasceu de um plano editorial objetivo: primeiro mapear o espaço que ele construiu, tendo o Leblon como personagem central; depois focar na peça-chave desse universo, as Helenas; e, por fim, demonstrar o alcance cultural. A decisão foi deliberada e estratégica: mostrar o processo autoral e a construção do personagem pela visão das atrizes, de forma acessível para todos. Íntima e sem cerimônias. Por isso, escolhemos o YouTube como plataforma — alcance e acesso imediato.

Como você enxerga o papel de Helena como ícone da mulher brasileira, e de que forma isso foi refletido na direção do documentário?

Helena não é um ícone congelado; é um espelho social que revela camadas das mulheres ao longo das décadas. Na direção, isso significou priorizar depoimentos que exponham contradições, manter o foco nas vozes e emoções das atrizes e adotar um tom de conversa íntima, sem formalismos desnecessários. A personagem criada por Manoel Carlos é uma mulher à frente do seu tempo: desafiadora, corajosa e verdadeira — não um estereótipo.

Que tipo de material ou relatos inéditos você conseguiu reunir durante a produção que mostram Maneco sob uma perspectiva diferente da já conhecida pelo público?

Meu pai escolhia as atrizes para as Helenas — não o contrário. Era um trabalho de autor sob medida, como um designer de alta costura. A relação com as atrizes envolvia entrega plena de ambos os lados. Reunimos depoimentos extremamente íntimos e exclusivos que revelam nuances, vulnerabilidades e a força de cada intérprete convocada por ele.

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Existem memórias suas da infância que mostram como seu pai pensava as tramas e seus personagens, especialmente a Helena?

Sim. Cresci no escritório dele, ouvindo a máquina de escrever e vendo ele dialogar com seus personagens. Acompanhei todo o processo desde muito cedo, ainda que mais tarde tenha tomado distância quando morei fora. Mesmo assim, continuávamos trocando e-mails extensos com pedidos de opinião de lado a lado e conversas com pessoas próximas, sempre com minha mãe incluída. A escolha da atriz vinha antes da trama: ele anunciava a intérprete e, a partir daí, a trama central e as paralelas faziam sentido.

Em que medida as entrevistas revelam transformações sociais e culturais do Brasil, refletidas na evolução da personagem Helena?

As entrevistas funcionam como um arquivo vivo das mudanças sociais. Não seguimos uma ordem estritamente cronológica; o importante é confrontar intérpretes de épocas distintas para evidenciar mudanças de perspectivas sobre trabalho, sexualidade, envelhecimento e pautas antes tidas como tabus. O arco das Helenas acompanha essas transformações. Também é relevante mostrar que o processo era exigente e nada glamouroso. Fazer arte e sucesso em uma era pré-internet exigia rigor e método. O autor, na sua completude, configura essa linha do tempo. Dados do lançamento inicial comprovam interesse: em dois dias, só com mídia espontânea, tivemos 16 mil views, 146 comentários relevantes e 1,1 mil likes — engajamento positivo que validou a estratégia de lançamento.

Entre todas as Helenas e suas intérpretes, há alguma com a qual você se identifique mais ou que considere próxima da visão que seu pai tinha da personagem?

Não há uma única Helena com a qual eu me identifique por inteira. Me Identifico com a determinação presente nas Helenas, mas muitas delas se conectavam profundamente com maternidade e casamento — o que não é o meu caso. Sou muito dedicada ao trabalho e aos projetos pessoais; sou divorciada e optei por não ter filhos. Ainda assim, reconheço a entrega total ao outro que as Helenas representam. Gabriela [Duarte] e Regiane [Alves] tocaram em pontos relevantes sobre a Helena contemporânea: ser uma mulher independente numa sociedade de exposição e julgamento. Essa visão de assumir a própria voz e presença no mundo foi com a qual me alinhei.

Qual é a expectativa em relação ao público mais jovem, que talvez não tenha acompanhado todas as novelas de Manoel Carlos?

Espero que o público jovem entre curioso e saia interessado no método. Não buscamos converter por nostalgia; nosso objetivo é demonstrar que há técnica, intenção e debate por trás do que se torna viral — memes e hashtags não surgem do nada. A meta é que a obra passe a ser vista e respeitada como referência de escrita dramatúrgica e que isso provoque diálogo intergeracional

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O que você espera que os espectadores tirem de mais relevante do documentário sobre Helena e a obra de Maneco?

Que reconheçam a dimensão do trabalho autoral: personagens não são rótulos fáceis, mas construções complexas que dialogam com contexto social, intérprete e público. Que se perceba a profundidade do processo criativo e a responsabilidade de preservar autoria e memória artística.

Existe algum episódio ou depoimento que você considera particularmente marcante ou revelador para entender a dimensão cultural de Helena?

Todos os depoimentos contribuem. No caso das Helenas, todas as atrizes dizem que, de alguma forma, aprenderam com a personagem — isso é muito rico! O depoimento de Regina Duarte, no primeiro episódio, em que ela afirma ter aprendido muito sobre maternidade com o personagem, é de extrema importância. Destaco também, pela carga emocional e pela evidência do impacto, o depoimento de Fernanda Honorato e de sua mãe. A abordagem sobre a violência contra idosos em Mulheres Apaixonadas gerou imensa repercussão e provocou mudanças concretas — inclusive legislativas. Teremos ainda um episódio dedicado às ações sociais provocadas pelas novelas, que abriram portas para muitos diálogos públicos.

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