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OLÁ,

Por que o filme Emília Pérez tem sido tão criticado?

Com estreia marcada no Brasil para 6 de fevereiro, o diretor Jacques Audiard e a atriz Karla Sofía Gascón virão ao país para promover o filme

Por Redação Bravo!
15 jan 2025, 08h00
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Karla Sofia Gascón em cena do filme Emilia Perez (2024) (IMDB/reprodução)
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O principal concorrente de Ainda Estou Aqui nas premiações de cinema, a produção francesa Emília Pérez, tem gerado polêmicas. Dirigido pelo cineasta Jacques Audiard, o longa ainda não estreou no Brasil, mas já enfrenta críticas, inclusive de brasileiros. A principal controvérsia recai sobre uma suposta representação estereotipada de pessoas mexicanas e a abordagem superficial de temas sensíveis no México, como violência, desaparecimentos forçados e tráfico de drogas, dentro de um formato musical. Além disso, embora a narrativa se passe no México, as filmagens ocorreram integralmente na França.

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Zoe Saldanha e Karla Sofia Gascón em cena do filme Emilia Perez (2024) (IMDB/reprodução)

O filme conta a história de Rita (Zoe Saldãna), uma advogada talentosa, mas desmotivada e subestimada em seu trabalho em um grande escritório, que tem pouco interesse em buscar justiça. Sua vida muda completamente ao receber uma proposta inesperada: Manitas (Karla Sofía Gascón), líder de um poderoso cartel, contrata Rita para ajudá-lo a abandonar o crime e realizar um sonho que manteve em segredo por anos — tornar-se a mulher que sempre desejou ser. Para isso, Manitas muda de país, passa por várias cirurgias de transição, abandona sua esposa, Jessi (Selena Gomez), e seus filhos, adotando o nome Emília Pérez. O roteiro é uma adaptação livre do romance Ecoute, de Boris Razon.

Com estreia marcada no Brasil para 6 de fevereiro, Audiard e Karla Sofía Gascón virão ao país entre 20 e 22 de janeiro para promover o filme em eventos especiais.

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O diretor Jacques Audiard no Festival de Cannes (LP / Fred Dugit/divulgação)
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Entre as principais críticas, destaca-se a ausência de atores mexicanos no elenco e o tratamento superficial de questões sociais e culturais do México. Em uma entrevista recente, Audiard afirmou que não foi necessário fazer muita pesquisa, pois já possuía as informações necessárias. Durante um painel da SAG-AFTRA (Screen Actors Guild – American Federation of Television and Radio Artists), a diretora de elenco Carla Hool defendeu a escolha do elenco, explicando que não encontrou atores mexicanos que representassem os personagens como desejado. “Queríamos manter tudo muito autêntico, mas, no fim das contas, os melhores atores para dar vida a esses personagens são os que estão aqui”, declarou, referindo-se às atrizes Gascón, Gomez e Saldãna. “Tivemos que encontrar uma maneira de equilibrar autenticidade… com os sotaques, considerando que elas não são necessariamente mexicanas nativas.”

No elenco principal, Karla Sofía Gascón, que interpreta Emília, é espanhola, enquanto Saldãna e Gomez são estadunidenses. A única atriz mexicana no filme é Adriana Paz, que interpreta Epifanía, interesse amoroso de Emília.

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Karla Sofia Gascón e Adriana Paz em cena do filme Emilia Perez (2024) (IMDB/reprodução)
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Outro ponto controverso é a representação da personagem trans. Em entrevista à GLAAD (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation), a jornalista trans Amelia Hansford apontou problemas na abordagem da narrativa. “Emília Pérez é, em essência, um filme sobre renascimento, que tenta usar a ideia de transição para transmitir que, através dela, Emília busca se redimir pelos pecados cometidos como chefe de cartel. O problema é que a transição não é uma decisão moral, e o ato de transicionar, por si só, não absolve alguém de seu passado. Transição não é morte, nem renascimento. Durante o filme, Emília continua a usar contatos do cartel, manipula sua família para confiar nela e passar tempo com ela, torna-se fisicamente agressiva perto do final, quando a reconexão não sai como esperado, e até ameaça sua esposa, interpretada por Selena Gomez, com chantagem financeira. Nada disso é apresentado de forma coerente, resultando na construção de Emília como mais um exemplo de personagem trans psicopática.”

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Cartaz (Netflix/divulgação)

As críticas não se limitaram ao campo das ideias e chegaram ao nível de ameaças pessoais. Karla Sofía Gascón revelou que tem recebido mensagens de ódio em suas redes sociais. “Me disseram que eu seria encontrada desmembrada em um saco”, declarou a atriz ao The Hollywood Reporter.

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Apesar das controvérsias, o filme tem acumulado reconhecimento nos festivais de cinema. No Globo de Ouro, venceu quatro prêmios, incluindo o de Melhor Filme de Comédia ou Musical, superando produções como Wicked. Além disso, conquistou o prêmio do júri no Festival de Cannes em 2024, consolidando-se como uma das obras mais comentadas do ano.

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