Festival Cinemato homenageia o cineasta Silvino Santos
Considerado um dos pioneiros do cinema documental brasileiro, o cineasta registrou as dinâmicas sociais da floresta amazônica no século XX

O cineasta Silvino Santos será homenageado na 22ª edição do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – CINEMATO, que ocorre até 20 de julho. Considerado um dos pioneiros do cinema documental brasileiro, Silvino nasceu em Portugal, em 1886, e construiu sua trajetória na Amazônia, onde registrou com olhar sensível e técnico as paisagens, os ciclos econômicos e as dinâmicas sociais da floresta nas primeiras décadas do século XX. Apelidado de “cineasta da selva”, é autor de obras fundamentais como No Paiz das Amazonas (1921) e Amazonas, o Maior Rio do Mundo (1918–1920), esta última recentemente restaurada e redescoberta após quase um século.
Com o tema “Decolonizando a Amazônia”, o CINEMATO 2024 propõe um olhar crítico e contemporâneo sobre a representação do território amazônico, valorizando narrativas de grupos historicamente marginalizados e a pluralidade de experiências que habitam a região. A programação reúne 62 filmes de 19 estados brasileiros, com sessões no Teatro da UFMT e em espaços alternativos por meio de iniciativas como o Cinema Itinerante — que leva filmes a bairros periféricos, aldeias indígenas e comunidades quilombolas — e o Cinema Paradiso, que promove exibições em presídios, hospitais e abrigos, reafirmando o compromisso do festival com o acesso democrático à cultura.
A Mostra Competitiva de Longas traz títulos como Mawé, de Jimmy Christian (AM), sobre o embate entre tradição indígena e modernidade urbana; Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta, de Marco Altberg e Tainá de Luccas (RJ), que mergulha na cosmovisão yanomami; e Serra das Almas, de Lírio Ferreira (PE), um drama que revisita o sertão com lirismo e crítica social. Já entre os curtas selecionados estão Maira Porongyta, de Kujãesage Kaiabi (MT), e O Enegrecer de Iemanjá, de Uê Puauet (PR).
Além das mostras competitivas, o festival apresenta sessões Hors Concours com obras premiadas, como Passárgada, dirigido por Dira Paes, e Cobra Canoa, de Enio Staub. A Sessão Queimada Cuiabana destaca filmes produzidos em Mato Grosso, como Passagem Secreta, de Rodrigo Grota.
No encerramento, marcado para o dia 20, a atriz Dira Paes retorna ao festival que impulsionou sua carreira — onde ganhou seu primeiro prêmio de Melhor Atriz em 1996 — para entregar o Prêmio Dira Paes, dedicado a mulheres que se destacam no audiovisual e em causas socioambientais.
Coordenado há mais de três décadas pelo cineasta Luiz Borges, o CINEMATO é um dos festivais mais longevos do país, e hoje é tratado como um evento de resistência para o audiovisual da região Centro-Oeste.