Filme de Gabriel Mascaro concorre ao Urso de Ouro no Festival de Berlim
O Último Azul, que traz Denise Weinberg e Rodrigo Santoro no elenco, apresenta um Brasil distópico que resolver exilar seus idosos

O Festival de Berlim, que acontece até 23 de fevereiro de 2025, é um dos eventos mais relevantes do calendário cinematográfico, sendo um termômetro para grandes lançamentos e os filmes que marcarão o ano. Nesta edição, o Brasil teve uma participação especial, com destaque para o filme O Último Azul, de Gabriel Mascaro, que foi exibido em sessão no último domingo (16), com boa avaliação da imprensa internacional. O longa conta com as atuações de Denise Weinberg e Rodrigo Santoro e concorre ao Urso de Ouro, o principal prêmio do Festival.
“Minha avó aprendeu a pintar aos 80 anos, então foi muito especial vê-la descobrir uma nova vida. Isso me fez refletir muito sobre o envelhecimento e foi quando comecei a escrever o filme, finalmente encontrando alguém que pudesse ser o coração e a alma do projeto: a Denise Weinberg”, declarou o diretor durante a exibição do filme em Berlim.

A escolha da Amazônia como cenário foi motivada pela vontade de explorar suas complexidades e questionar a visão idealizada frequentemente atribuída à região. Mascaro buscou criar um espaço que mesclasse elementos de magia e industrialização, refletindo um sistema político fictício de fascismo populista tropical. Ao transformar a Amazônia em um personagem vivo, carregado de suas próprias contradições, ele queria destacá-la não apenas como “os pulmões do mundo”, mas como o epicentro das tensões e conflitos globais. A obra ainda não tem data de estreia no Brasil.
A Bravo! conversou brevemente com o cineasta sobre suas motivações e a experiência em Berlim.
Como surgiu a ideia de “O Último Azul” e quais foram as inspirações para desenvolver a história?
Eu morei numa casa onde morava muita gente e convivi toda minha infância e juventude com meus avós. Minha avó aprendeu a pintar aos 80 anos, após o falecimento do meu avô, e isso mudou minha perspectiva sobre o envelhecimento, mostrando-me como os idosos podem se tornar protagonistas de sua autodescoberta e de grandes mudanças.

O filme apresenta um Brasil quase distópico, mas com questões que ressoam fortemente na sociedade atual. Como você enxerga esse diálogo entre a ficção e a realidade contemporânea?
Eu tenho carinho especial pelo cinema que faz especulações de realidade a partir de noções fantásticas, mas que ainda assim, poderiam ser reais. Não precisa ter um carro voador na tela para construirmos um deslocamento espaço-temporal. Mudanças de comportamento cultural podem sinalizar uma distopia até mais radical do que um gadget tecnológico. Então o desafio deste filme, menos do que pensar num futuro próximo, foi pensar num suposto num tempo único e singular ao mundo do filme, nem passado, nem presente e nem futuro.

Como foi a recepção do filme no Festival de Berlim? O que você espera que o público, especialmente o brasileiro, tire do longa?
Foi um presente enorme poder lançar o filme cercado pela equipe. De mães dadas é mais fácil colocar um filme no mundo. Eu acho que com esse filme o Brasil transmite uma mensagem de esperança para o mundo. O filme fala sobre o direito de sonhar, acompanhando uma septuagenária que se recusa a aceitar o destino que o Estado desenvolvimentista e populista impôs aos idosos, relegando-os à margem em nome da produtividade. Foi emocionante ver essa história ganhar vida na imensa tela de Berlim e perceber a força do nosso cinema brilhando ali. Muito feliz em testemunhar como essa fantasia está começando a ressoar mundo afora, conectando pessoas de diferentes culturas de forma genuína e universal. Foi feito com muito carinho e muita sinceridade.
