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“Larissa: O Outro Lado de Anitta” revela construção de um ícone através de um olhar íntimo

A amiga e roteirista Maria Ribeiro conversou com a Revista Bravo! sobre essa conexão com um ícone pop que mudou sua vida

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 4 abr 2025, 19h01 - Publicado em 4 abr 2025, 15h42
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Anitta em "Larissa: O Outro Lado de Anitta" (2025) (IMDB/reprodução)
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Desde que surgiu no cenário musical, Anitta construiu sua carreira com um misto de estratégia, talento e uma personalidade que desafia rótulos. No documentário Larissa: O Outro Lado de Anitta, lançado pela Netflix, a artista se despe da persona pop para revisitar sua trajetória através de uma lente mais pessoal, revelando os bastidores de sua vida e carreira.

Roteirizado por Maria Ribeiro, o filme busca ir além da imagem pública da cantora, explorando as camadas da jovem Larissa de Macedo Machado antes de se tornar o fenômeno Anitta. Com depoimentos de amigos, familiares e da própria artista, o documentário alterna momentos de vulnerabilidade e força, mostrando a complexidade de alguém que sempre soube onde queria chegar — e como chegar lá.

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Anitta em “Larissa: O Outro Lado de Anitta” (2025) (IMDB/reprodução)

A Revista Bravo! conversou com Maria, uma das grandes amigas da cantora, que explica o processo de construção desse retrato íntimo e os desafios de transformar a vida de uma estrela em narrativa documental, as escolhas que guiaram o filme e o que podemos aprender com essa versão mais crua e verdadeira de Anitta, ou melhor, Larissa.

BRAVO! Como foi roteirizar um filme que já estava sendo rodado quando você passou a fazer parte?

MARIA RIBEIRO: A Anitta sabia muito o que ela queria, como sempre, né? Ela é de uma inteligência assustadora, impressionante. Então, quando ela me procurou, o filme já tinha passado por alguns diretores, mas ela não estava completamente satisfeita. Eu acho que ela queria um olhar feminino, porque é uma busca da Anitta pela Larissa. Quem ela era, quem ela se tornou. Como é que a gente pode resgatar alguma coisa que ficou lá atrás, mas que a partir de quem a gente é hoje. São mudanças finas que todo mundo passa.

Eu não sou mais quem eu era, há 10 anos atrás, há 20 anos atrás, há 30 anos atrás. Só que, no caso dela, isso é muito evidente. Ela literalmente mudou de nome! Quando a gente faz a unha, bota um vermelho e fala assim, eu vou aqui, vou botar esse vermelho aqui pra acreditar nesse vermelho, a partir do vermelho eu vou botar uma roupa, a partir dessa roupa eu vou agir assim, vou ter autoestima. Acho que na série a Anitta [da qual Larissa adotou o nome artístico], a personagem da Mel [Lisboa], era muito forte. Ela brincava com os homens, ela seduzia, tinha uma coisa de “hoje eu vou ser de um jeito, amanhã eu vou ser de outro jeito”.

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BRAVO! Faltava isso no filme?

MARIA RIBEIRO: Então, Anitta me procurou e falou “olha, tô fazendo esse filme, é um filme muito importante pra mim, porque é a busca por quem eu fui, mas também por quem eu sou hoje”. Como eu tinha feito um perfil dela pra Bazaar alguns meses antes, onde ela se sentiu vista – a gente teve um match muito forte e inusitado – ela falou “eu preciso de um olhar do passado”, que no caso era o Pedro [Cantelmo], um dos primeiros namorados dela, que dirigiu o filme com o João Wainer, mas era isso, eram dois homens. Ela achou que eu teria a sensibilidade de dar nome para coisas que ela mesma sentia, mas talvez ela não conseguisse nomear ou talvez não nomeasse com poesia. 

BRAVO! E funcionou?

MARIA RIBEIRO: O que eu acho que eu fiz foi conseguir realmente ouvi-la. Traduzir o que eu imaginei que ela estava sentindo, o que ela queria dizer E aí eu acho que o fato realmente de ser mulher fez muita diferença. [PAUSA] Mas também grudei nela! [risos] Fui escrevendo o roteiro conforme a gente ficou um mês grudada.

BRAVO! Como tem sido a reação ao documentário deste o lançamento?

MARIA RIBEIRO: Eu brinco que algumas pessoas fizeram uma crítica de que “ah, mas como assim essa mulher tão poderosa está se colocando através do olhar de um homem?” E eu falo, não, não é através. Primeiro que eu acho isso uma bobagem, porque é uma obra que tem um recorte, é sempre um recorte, não é a vida, não é um reality: é um documentário. E gente queria que realmente fosse uma história de amor, que de fato é. O Pedro sou eu, de alguma forma. Tem o encantamento do Pedro por ela e também tem o meu encantamento por ela.

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BRAVO! Foi intenso?

MARIA RIBEIRO: Viajei com ela, a gente dividiu o quarto, fiz um mergulho fundo. Meus filhos não aguentavam, ninguém mais aguentava, só falava dela, até hoje. [Risos] Muita gente dizia “tá obcecada, só fala da Anitta”, mas pra mim, foi um encontro muito forte mesmo.

BRAVO! Esse detalhe de ter a sua voz na voz do Pedro, é perceptível no documentário, mesmo ele falando na primeira pessoa, mas você falou um ponto importante que é que as pessoas esquecem, ou confundem, que documentário não é um reality. O formato é diferente, embora seja muito real.

MARIA RIBEIRO: É, mas toda vez que a gente edita, que a a câmera está ligada, você já tá de alguma forma atuando. Estou aqui conversando com você e mesmo que não estivesse com a câmera ligada, já não sou quem eu sou se estivesse sozinha na sala da minha casa. Estou aqui dando uma entrevista. Com a câmera ligada, eu sou de outro jeito, um terceiro jeito. Então, existe sempre um recorte e os bons documentários devem parecer ficção, no sentido de nos embalar. E a boa ficção deve parecer um documentário.

Isso foi muito bonito no filme Larissa: O Outro Lado de Anitta: você tem uma história romântica, um amor de infância e nesse conflito, que no final das contas deixa de existir porque Anitta meio que chega num entendimento entre quem ela foi e quem ela é, tem também a história de amor dela com ela, que acho que também é muito forte. Eles não terminam juntos [Pedro e Anitta rompem durante as gravações do documentário], mas Anitta termina com ela mesma, o que eu acho um happy ending.

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Anitta em “Larissa: O Outro Lado de Anitta” (2025) (IMDB/reprodução)

BRAVO! Sim, a cena final dela na praia vendo o sol nascer é muito bacana.

MARIA RIBEIRO: Perfeita. E é muito legal porque as últimas imagens foram feitas pela Ju Amaral e isso foi uma ideia muito legal do João, do diretor, da Anitta ser captada não por uma equipe, não por um diretor que não é próximo dela, e sim por uma amiga, por uma mulher, por alguém com quem ela realmente dividiu ali uma madrugada na praia. Então eu acho que esse olhar feminino vem também da minha parte e vem da Ju.

BRAVO! Hoje falamos tanto de autenticidade e há muita coragem de Anitta de estar sempre com uma câmera ligada e abrir a intimidade, onde vemos quem ela é fora dos palcos

MARIA RIBEIRO: Muito corajosa, né, Ana? Se tem uma pessoa que é sinônimo da palavra coragem é ela. Ela é realmente desbravadora. Estamos falando no dia da morte da Luísa Borges de Holanda e botei esse batom vermelho em homenagem à Helô. Porque é isso, existem mulheres que mudam as estruturas. E como a Helô mudou e como a Anitta mudou. A Anitta certamente é alguém que é antes e depois dela.

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BRAVO! E não tenho como evitar, você até desabafou nas redes sociais quando estranharam essa amizade sua com a Anitta. Como surgiu essa ligação? Você falou que ele deu esse match.

MARIA RIBEIRO: Eu fui chamada pra fazer um perfil dela e sempre a admirei muito, mas a gente não se conhecia. Trabalho pra caramba, mas sou muito caseira. Fui chamada para escrever o perfil da Anitta e estava no meio de um filme, que era só eu e o Caco Ciocler, a gente filmava o dia todo, mas peguei o dia da folga, que era tipo uma vez por semana, porque sabia que não poderia abrir mão de retratar, de perfilar a mulher mais importante da atualidade, mesmo sem conhecer muito a obra dela.

Cheguei lá pra entrevistá-la e fiquei muito encantada porque embora normalmente ache que essas pessoas do mundo popstar vão ficando meio com preguiça na entrevista com respostas meio prontas e ela estava ali muito presente, sabe? Fiquei muito impressionada. E a gente bateu o santo. Saí daquele encontro, assim, apaixonada, encantada. Não era nada do que eu imaginava. Eu imaginava que seria alguém que colocaria milhões de barreiras e não, ela me viu. Estava realmente ali inteira. Vulnerável. Vulnerável…

BRAVO! Interessante porque quero falar dessa vulnerabilidade, mas vou deixar você terminar a contar… [risos]

MARIA RIBEIRO: A gente se deu mega bem e logo em seguida, teve o aniversário de 60 anos do pai dela e ela me convidou. Quando cheguei, ela estava cantando Djavan, Leci Brandão, eu falei, “gente, ela quer acabar comigo!” Cantando sambas antigos, com uma voz linda, maravilhosa e com um repertório que nunca imaginei. Ali já comecei a conhecer a família dela, todo mundo muito. A gente ficou falando por WhatsApp, ela me chamando pra ir nos blocos do show, eu nunca ia a nada, que eu não vou a nada. E foi aí ela me chamou pra fazer o filme.

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Só que quando chegou a hora H, ela falou, “agora não dá pra você escrever sem ver um show meu, né? Tem que ir agora” [risos]. Foi uma imersão, fiz uma faculdade em Anitta, porque não só convivi muito, como conversei com toda a família dela. Fiquei esperando o momento que ia me desencantar, mas esse momento ainda não aconteceu. A gente realmente é muito amiga.

BRAVO! A impressão, que ficou mais forte ainda vendo, é que Anitta é uma pessoa forte, mas também gente vê alguns momentos vulneráveis, mas é exatamente essa vulnerabilidade que aparece, ela conversa um pouco sobre isso. Isso te surpreendeu?

MARIA RIBEIRO: Realmente, ela é muito forte. Pelo fato de ter começado a trabalhar tanto tão jovem, a Anitta chegou a conciliar o estágio dela junto com os shows, que é como se ela tivesse perdido um pedaço da vida, dos 20 aos 30. Profissionalmente ela que foi pro céu, mas quanto às relações talvez não tenha tanta prática. Ela foi casada uma vez, mas é difícil você conciliar um relacionamento com essa vida, tanto que ela tá querendo desacelerar. Mas se fosse falar de um ponto frágil dela, eu acho que é uma idealização romântica.

A Anitta tem uma coisa do que é certo, do que é errado e não tem muito jogo nisso. Para algumas coisas isso é muito legal, ela é muito correta, nunca vi uma pessoa tão honesta, tão justa, ela para tudo para te atender, para te ajudar, mas ao mesmo tempo ela tem regras muito de quem ainda não entendeu completamente que na vida a gente às vezes tem que achar um caminho do meio.

Ela tem uma dificuldade de relevar às vezes um erro, porque também ela pensa com a cabeça dela e ela é muito rápida. Essa tolerância para o outro, para quem não é tão rápido, talvez seja uma coisa que ela está buscando agora. [faz uma pausa] Talvez não tenha descoberto ainda a vulnerabilidade dela. Eu não sei. Você me pegou. [risos] Ela vai encontrar essa flexibilidade.

Inclusive, tem uma cena que gosto muito, que é uma cena que ela está no carro, onde acaba de voltar de um retiro, em que fala “eu sou doida, eu sou over, eu gosto de dançar, eu sou animada, eu sou alegre e eu sou feliz sendo assim do jeito que eu sou” e adoro essa cena, porque eu me identifico. 

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Anitta em “Larissa: O Outro Lado de Anitta” (2025) (IMDB/reprodução)

BRAVO! Quais foram as suas referências para fazer esse documentário?

MARIA RIBEIRO: Vi algumas vezes o Sete Dias com o Marilyn, porque é uma popstar e essa relação da popstar com o cara comum, como que é você conhecer uma estrela a partir do ponto de vista romântico, de um cara que não é um artista famoso e tal. E uma outra referência que eu usei bastante foi Amelie Poulain para contar uma história e pegar o espectador pela mão e falar, olha “no dia 30 de março, ela nasceu”.

Tem uma coisa de fábula, de sonho e eu acho que foi pra isso que ela me chamou. Aliás, a Anitta até, me sacaneia às vezes e diz “Maria vai beber água e a água é a poesia. Ela vai inventar que a água é o copo” [risos]. Uma vez ela falou pra mim: “parece que você vive num filme, tudo você romantiza”. Sou realmente sonhadora.

BRAVO! E A Anitta participou da edição?

MARIA RIBEIRO: Super! Estou te falando, é uma coisa assustadora. [risos] Às vezes ela falava assim… “Esse texto aqui, eu acho que essa frase tinha que ser mais curta porque se essa frase for mais curta, aqui a gente vai ter uma risada”. Ela participou ativamente. Foi um trabalho de nós duas, realmente. Ela escreve bem também.

BRAVO! O que ela faz mal, né? Ela faz tudo maravilhosamente bem! [risos]

MARIA RIBEIRO: Nossa, não dá raiva? Não é possível, gente! É incrível mesmo, mas também é muito controladora. Ela delega, mas ela quer as coisas do jeito dela e sabe o que quer.

BRAVO! E como é que vocês chegavam a um acordo? Quando você também queria alguma coisa?.

MARIA RIBEIRO: Sabe o que acontece em todas as instâncias de poder? As pessoas, à volta da pessoa poderosa, acabam ficando com medo de desagradar ou de não falar o que se pensa. Não sou assim. E ela queria justamente alguém que não tivesse medo dela, que não ficasse com pudor de falar as coisas pra ela. E ela achou essa pessoa em mim. Tanto que tinha uma cena que ela tinha questões e eu falei “não, essa cena precisa estar. Deixa te dizer por que precisa, por causa disso, disso e disso, vai ser bom”. A gente foi negociando.

BRAVO! Achei curioso o seu paralelo de 7 Dias com Marilyn, porque Marilyn também não se chamava Marilyn, como a Larissa não se chama Anitta, ambas são sex symbol e há um momento que vemos duas mulheres autênticas – Larissa e Anitta – virando uma só. Mas Marilyn, ao contrário da Larissa, ficou muito isolada porque ela não tinha essa unidade familiar que está muito presente ali também no filme.

MARIA RIBEIRO: Exatamente. A gente acompanha publicamente esse mistério, mas a Marilyn se desfez, virou refém da personagem e a Anitta não. De fato, a família dela é incrível. O irmão dela é incrível, a mãe dela é incrível, o pai, as tias. E a Anitta não abriu mão disso, porque também é uma opção dela, né? Muita gente vai para fora e não volta nem para a sua família, nem para o seu país, nem para as suas referências de infância.

Com ela é o contrário, está o tempo inteiro reafirmando o lugar de onde veio. Começou cantando funk, depois fez um trabalho pra não ser vista como funkeira, pra ser absorvida com menos preconceito por uma parte do Brasil, pra depois que alcançou um lugar mais alto falou, “bom, agora que eu estou aqui, que todo mundo já gosta de mim, que todo mundo me aceitou, vou voltar pro funk”. Isso é lindo.

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Anitta em “Larissa: O Outro Lado de Anitta” (2025) (IMDB/reprodução)

BRAVO! Tem essa inquietude dela de estar sempre se desafiando. Pra onde você vê a Anitta indo?

MARIA RIBEIRO: Musicalmente nunca conversei com ela sobre isso, mas o que sinto é que a busca dela nesse momento, se descobrir além da trajetória profissional. Antigamente ela fazia festa para as pessoas se pegarem, agora ela faz retiros. Essa semana foi o aniversário dela [dia 30 de março] e ela fez um dia de foco espiritual, depois ela fez um dia de festa, depois ela fez um dia de família.

Ela tem uma capacidade de festejar a vida e de mudar a vida das pessoas à volta dela. Te digo que ela mudou a minha, porque eu realmente entrei em contato com uma cabeça muito diferente, com uma capacidade de colocar as coisas em prática e achar que pode tudo. Ela decide uma coisa e ela fala, eu vou atrás disso.

BRAVO! Muitas pessoas não pescaram o que houve para o rompimento entre Anitta e o Pedro…

MARIA RIBEIRO: Acho isso bonito também no filme. Eles se desencontram. Tem alguma coisa que acontece ali, que obviamente eu não falarei, porque é íntimo deles, mas às vezes você está numa história que parece que vai dar certo e às vezes não dá. Isso é muito vida real. Não precisa ser dito, o importante é que eles não seguiram juntos. Eles viveram um romance que foi lindo, que foi verdadeiro. Você vê ali no filme momentos muito íntimos e é por isso que dói quando eles se separam. Muita gente reclama comigo, “como assim eles não ficaram juntos?”

Eu falo “Gente, não é um filme de ficção, né?”. Eles não ficaram juntos. Não era programado nem que ficassem juntos, não estava no roteiro, foi realmente a vida. Aconteceu de ficarem juntos e aconteceu de não ficarem juntos.

BRAVO! E vai comemorar o aniversário de Anitta? 

MARIA RIBEIRO: [rindo] Não vou… não vou conseguir ir porque ela faz aniversário junto com o meu filho. Sou apaixonada por ela, mas também não é assim, né? Tem meu filho aqui… [risos]

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