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“O agente secreto”: crítica internacional elogia novo filme de Kleber Mendonça Filho

O longa, exibido em Cannes no último domingo, disputa a Palma de Ouro e marca o retorno do cineasta seis anos após o prêmio do Júri por “Bacurau”

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 20 Maio 2025, 15h24 - Publicado em 19 Maio 2025, 08h00
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Elenco de "O agente secreto" no Festival de Cannes (Soraya Ursine/divulgação)
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Da última vez que o diretor Kleber Mendonça Filho esteve no Festival de Cannes, saiu premiado com um dos troféus mais importantes do evento: o Prix du Jury, o prêmio do Júri pelo longa-metragem Bacurau (2019). Seis anos depois, não seria de estranhar toda a expectativa em torno de sua nova obra, O agente secreto, exibido no último domingo (18), com o diretor e todo o elenco reunido, nomes como Alice Carvalho, Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone e o protagonista Wagner Moura. O filme está na disputa pela Palma de Ouro.

A comitiva brasileira nesses eventos internacionais tem aproveitado para levar um pouco da cultura nacional para o tapete vermelho. Um dos momentos mais emocionantes aconteceu antes da entrada no Grande Teatro Lumière, quando os artistas caminharam sob o som de uma orquestra de frevo. Na festa, estavam presentes até mesmo a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e a secretária do Audiovisual, Joelma Gonzaga.

O agente secreto é o sexto longa de Mendonça Filho e marca sua terceira participação na disputa pela Palma de Ouro. Ele já esteve na mostra principal com Aquarius (2016) e Bacurau (2019). Ambientado no Brasil de 1977, o filme acompanha Marcelo, interpretado por Wagner Moura, um especialista em tecnologia com um passado misterioso que decide se refugiar no Recife em busca de paz — uma decisão que se revela muito mais complexa do que ele imagina.

Muito se falou sobre a ovação de 13 minutos ao final da exibição, mas essa régua não é muito confiável, já que aplausos longos em festivais costumam ser mais uma demonstração de respeito ao cineasta e aos artistas presentes do que uma avaliação exata do filme. A divulgação sobre a duração dos aplausos em festivais é vista mais como uma estratégia publicitária adotada pelas produções do que uma medida objetiva da qualidade da obra.

Felizmente, no caso de “O agente secreto”, as reações vêm sendo bastante positivas. Peter Debruge, da Variety, trouxe uma avaliação elogiosa, destacando o filme como fluido e imprevisível. “Mendonça demonstra uma capacidade notável não apenas de recriar, mas de nos transportar de volta àquela época”, afirma o crítico.

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David Rooney, do The Hollywood Reporter, exalta a linguagem absurda da produção como elemento que a torna mais interessante e original: “É o tipo de desvio bizarro que você não esperaria encontrar em um thriller político de época centrado em um pai viúvo cuja vida está em perigo. Mas momentos de humor anárquico em meio a um suspense genuíno são exatamente o tipo de coisa que torna o quarto longa narrativo de Kleber Mendonça Filho um original tão emocionante.” Rooney também destaca a atuação de Wagner Moura: “Ele sempre foi um bom ator, mas Mendonça Filho faz dele uma estrela de cinema.”

O crítico ainda traça um paralelo com o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional: “Apesar de seus floreios humorísticos e personagens cômicos, O agente secreto é um filme profundamente sério sobre uma época dolorosa do passado brasileiro, quando inúmeras pessoas desapareciam, assassinos de aluguel negociavam preços, e até mesmo cidades remotas, onde a ditadura era praticamente invisível, sentiam seu longo alcance. É ao mesmo tempo semelhante e completamente diferente do vencedor do Oscar do ano passado, Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, cuja ação principal se passa no Rio de Janeiro no início dos anos 70.”

Pete Hammond, do Deadline, também apresenta uma crítica animada, compreendendo a obra como coerente na carreira de Kleber, mas faz a ressalva de que o filme é longo e, por vezes, se perde em subtramas que dificultam o acompanhamento. “Filho, no entanto, conseguiu infundir [o filme] com estilo e emoção em tela grande”, resume o jornalista.

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David Ehrlich, do IndieWire, destaca que Kleber comprova que os filmes de ficção são, às vezes, os melhores documentários. O site, um dos poucos a atribuir notas, avaliou o longa com um “B+”. Ehrlich ressalta que, apesar do título e de elementos que remetem à espionagem, o filme não é um thriller de ação convencional, mas sim um drama que caminha em um ritmo mais lento e contemplativo, valorizando a memória e as relações humanas. “O agente secreto está consistentemente menos interessado na ação do que nas consequências, e menos interessado na cena do que no cenário. Dá para sentir o êxtase do cineasta ao realizar o sonho de recriar a era de ouro dos cinemas de Recife”, avalia.

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