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O Brasil no Festival de Cannes

Destrinchamos os detalhes dos seis filmes que representam o nosso país no evento francês

Por Beatriz Magalhães
Atualizado em 24 Maio 2024, 13h37 - Publicado em 23 Maio 2024, 10h00

A 77ª edição do Festival de Cannes, que se desenrola entre 14 e 25 de maio de 2024, marca o grandioso retorno do cinema brasileiro ao evento, após o hiato de um ano. As seis produções brasileiras, selecionadas para diferentes mostras competitivas e paralelas, demonstram a pluralidade da nossa cinematografia, em um momento crucial para a retomada do setor audiovisual no país.

O festival reúne uma seleção oficial de 50 filmes de diversos países. 21 deles competem pelo prêmio mais cobiçado: a Palma de Ouro. O Brasil, que soma 40 indicações à categoria, já conquistou o prêmio cerca de 60 anos atrás, com o filme “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte.

Mais recentemente, em 2019, o longa “Bacurau“, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, levou o Prêmio do Júri. Confira abaixo os seis títulos que estão representando o cinema nacional na edição deste ano.

Motel Destino

Pelo segundo ano consecutivo, o diretor cearense Karim Aïnouz representa o país na competição pela Palma de Ouro, desta vez com o filme “Motel Destino”. Em 2023, Karim disputou o prêmio com o longa “Firebrand”, drama histórico estrelado por Alicia Vikander e Jude Law, que acompanha os conflitos no casamento de Catarina Parr, a sexta e última esposa do rei Henrique VIII, da Inglaterra.

Inspirado na pornochanchada dos anos 70, Motel Destino, o local que dá nome ao filme, localizado à beira de uma estrada no litoral do Ceará, é palco de jogos de desejo, poder e violência. A história passa a tomar um rumo completamente diferente com a chegada do jovem Heraldo, que causa uma transformação no cotidiano do motel, ao cruzar seu caminho com uma mulher que vive um relacionamento abusivo. Iago Xavier, Nataly Rocha e Fabio Assunção estrelam a produção, que deve chegar às salas de cinema no final de 2024.

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O filme concorre com produções de outros cineastas renomados, como “Megalopolis”, de Francis Ford Coppola, e “Kinds of Kindness”, de Yorgos Lanthimos.

Baby

Entre os longas-metragens brasileiros, também temos em destaque “Baby“, do diretor Marcelo Caetano, prometendo um drama queer intenso, concorrendo pela 63ª Semana da Crítica que acontece paralelamente ao festival francês.

Em seu segundo filme, o cineasta mineiro traz um drama que mergulha na vida e nos romances de Wellington, vivido por João Pedro Mariano, um jovem marginalizado que se vê perdido nas ruas de São Paulo, apelidado de Baby. Recém-libertado de uma instituição correcional para menores, o protagonista visita um cinema adulto no centro da cidade e conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um garoto de programa com quem estabelece uma amizade e o apresenta novas estratégias de sobrevivência.

A trama se desenrola com foco na relação dos dois, que é marcada por uma paixão que enfrenta inúmeros conflitos, mostrando as diversas nuances de exploração, proteção, ciúmes e cumplicidade enfrentadas pelos personagens. O filme foi escolhido pelo Sindicato Francês de Críticos de Cinema, que selecionou o título junto a outras seis obras, dentre mais de mil inscritas.

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A Queda do Céu

Na Quinzaine des Cinéastes, conhecida como Quinzena dos Realizadores, “A Queda do Céu“, dirigido por Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha, entra em cena com um olhar sobre a realidade do povo Yanomami. A sessão acontece de forma independente ao Festival, assim como a Semana da Crítica, e já está em sua 56ª edição. Nas últimas décadas, a mostra contribuiu com a revelação de novos talentos da indústria que se tornaram cineastas conhecidos, como o britânico Ken Loach (“O Pub The Old Oak” e “Ventos da Liberdade”), Spike Lee (“Faça a Coisa Certa” e “Infiltrado na Klan”) e os irmãos Dardenne (“Rosetta” e “A Criança”).

O documentário, que leva o mesmo nome do livro escrito pelo xamã Yanomami Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert, é centrado na realização do ritual funerário chamado festa Reahu, a cerimônia mais importante dos Yanomami. A trama serve como um registro histórico da cosmologia Yanomami, mostrando detalhes do rito, onde todo traço de um xamã falecido deve ser removido, como por exemplo, armadilhas que deixou na flores, plantações e até mesmo suas pegadas.

Com base nos três eixos fundamentais do livro (Convite, Diagnóstico e Alerta), o documentário registra como é feito o trabalho dos xamãs para segurar o céu, que de acordo com as crenças dos yanomami, já caiu uma vez e cabe aos líderes evitar que isso se repita. O filme se preocupa em mostrar as práticas e rituais de como fazem para curar o mundo das doenças produzidas pelos não-indígenas, sobre a destruição da Amazônia, e toda a questão do garimpo ilegal.

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Amarela

Neste curta-metragem, escrito e dirigido por André Hayato Saito, é o único filme representante da América Latina que concorre à Palma de Ouro na categoria.

A trama acompanha a vida de Erika Oguihara, protagonizada por Melissa Uehara, uma adolescente nipo-brasileira que rejeita as tradições de sua família japonesa. A história é ambientada em São Paulo, no ano de 1998, no dia da final da Copa do Mundo, momento em que o Brasil enfrentava a França, e aborda sobre a constante luta contra o sentimento de não-pertencimento da protagonista, na medida em que ela vivencia um episódio de violência que parece invisível para a maioria.

Com equipe e elenco composto majoritariamente por pessoas amarelas, a produção conta com nomes como: Carolina Hamanaka, Kazue Akisue, Pedro Botine, Joana Amaral, Lorena Castro, Kadu Oliveira, Izah Neiva, Yuki Sugimoto, Bruno Dias, Naoki Takeda, Bernardo Antônio, Adriana Hideshima, Alice Saori e Takao Yabu.

A Menina e o Pote

Mais um curta brasileiro adentra à lista de filmes que serão exibidos na mostra competitiva paralela ao Cannes, a 63ª Semana da Crítica de Cannes.

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Com direção e produção de Valentina Homem, o curta-metragem traz as próprias vivências da cineastas em foco nas telas, apresentando elementos da cosmologia indígena Baniwa e Yanomami para recontar a história de uma garota que encontra novas formas de enxergar o mundo através de um pote.

Para dar vida a essa trama, o curta foi feito usando a técnica de animação de pintura sobre vidro. A história tem como ponto de partida o momento em que a protagonista, Francy Baniwa, acidentalmente quebra o objetivo, e assim desencadeia uma série de eventos que a leva para universos paralelos.

O curta não só explora as fronteiras da realidade, com uma narrativa distópica, mas também ecoa os desafios e questionamentos do mundo contemporâneo, transportando o público para um cenário onde o fim do mundo parece cada vez mais perto e a Amazônia está prestes à beira de um ponto sem retorno.

Bye Bye Brasil

José Wilker no filme Bye Bye Brasil, de 1970
José Wilker no filme Bye Bye Brasil, de 1970 (divulgação/divulgação)

Fechando a lista de filmes nacionais que irão representar o país no Festival de Cannes, “Bye Bye Brasil” chega para a mostra Cannes Classics, desta vez em uma versão restaurada. A seleção, criada no início dos anos 2000, tem como objetivo apresentar raridades do audiovisual, como forma de valorizar o cinema patrimonial e o trabalho de produtoras, cinematecas e arquivos nacionais de todo o mundo.

Na trama de 1970, dirigida por Carlos Diegues que já disputou a Palma de Ouro em 1980, Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha (Príncipe Nabor) são três artistas ambulantes que atravessam o país com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos em áreas mais humildes das cidades onde os moradores ainda não tinham acesso à televisão. Junto ao trio, o sanfoneiro Ciço (Fábio Jr.) e sua esposa, Dasdô (Zaira Zambelli), cruzam o mapa, traçando um destino que vai da Amazônia até Brasília.

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