O que esperar de “O Diabo Veste Prada 2”? Tudo sobre a volta deste fenômeno fashion
A icônica Miranda Priestly retorna em um mundo de influencers, algoritmos e dilemas contemporâneos — e promete mostrar, mais uma vez, quem dita as regras

Quase duas décadas depois de transformar uma comédia sobre o inferno da moda em fenômeno pop e clássico instantâneo, O Diabo Veste Prada está de volta. E, se depender das redes sociais, das ruas de Nova York e da comoção gerada a cada clique dos bastidores, o filme já é um sucesso antes mesmo de chegar aos cinemas. As filmagens da continuação transformaram Manhattan em uma passarela pública, com Meryl Streep, Anne Hathaway, Emily Blunt e Stanley Tucci desfilando personagens icônicos diante de uma multidão de celulares em punho.
Sabe o que isso me faz lembrar? Os bons tempos de Sex and the City e toda a comoção que cercou o retorno com And Just Like That. A comparação é inevitável, mas há diferenças marcantes. Enquanto Carrie Bradshaw e suas amigas retornaram em um revival mais melancólico, O Diabo Veste Prada 2 parece determinado a capturar não apenas o glamour e o sarcasmo do original, mas também a energia de uma indústria (e de uma cidade) que mudaram radicalmente desde 2006. A moda é outra. O jornalismo é outro. Mas Miranda Priestly continua no topo — mesmo que, agora, por um fio.
Nas últimas semanas, as redes sociais foram inundadas com fotos e vídeos das gravações. Em um dia, Meryl Streep surge deslumbrante em um vestido vermelho escarlate nas escadarias do Museu de História Natural, ao lado de Stanley Tucci. No outro, Anne Hathaway aparece usando bucket hat, vestido Gabriela Hearst e óculos escuros, entrando em um ônibus para os Hamptons. Emily Blunt, agora com cabelo ruivo vibrante, vestindo Dior e Gaultier, rouba olhares mesmo fora das lentes oficiais. Cada figurino é dissecado por fashionistas. Cada locação é imediatamente identificada por fãs atentos.
Tanto acesso, porém, gerou ruído: há quem reclame que os spoilers estão “arruinando” a experiência, especialmente em um filme cuja força sempre esteve também nas surpresas visuais. “Já vi o filme inteiro”, reclamou um seguidor. Outro implorou: “Parem de mostrar os looks!”
Mas, sejamos honestos: nenhum clique pode substituir a experiência completa de ver Miranda entrando em cena com sua frieza cortante e estilo implacável. O desafio do novo filme será não apenas recriar o fascínio do primeiro, mas surpreender — o que fica ainda mais complexo nos dias de hoje. A vantagem é que, nos bastidores, o time envolvido é quem conhece bem o conteúdo, com o mesmo diretor e a mesma roteirista, com quase todo elenco original de volta. Há novos rostos, claro, como Kenneth Branagh, Simone Ashley, Lucy Liu, Justin Theroux, BJ Novak, Pauline Chalamet e Rachel Bloom, entre outros.
Vale lembrar que a febre começou em 2003, com a publicação do romance original de Lauren Weisberger, inspirado em sua experiência como assistente de Anna Wintour na Vogue — mas foi no cinema que essa história virou um verdadeiro fenômeno global. O livro virou best-seller, mas foi a adaptação para o cinema, em 2006, que o transformou em ícone. Indicado a dois Oscars (Melhor Atriz para Meryl Streep e Melhor Figurino para Patricia Field), o longa arrecadou mais de 326 milhões de dólares e influenciou toda uma geração na forma de vestir, trabalhar — e até de responder e-mails. Sem esquecer a ponta de Gisele Bündchen como amiga de Emily. Mais do que uma comédia fashion, o filme tratou de temas como identidade profissional, escolhas de vida e os sacrifícios que mulheres enfrentam para conquistar seu espaço. E tudo isso embrulhado em Chanel, Valentino, Prada e um dos roteiros mais afiados do cinema comercial moderno.
No primeiro filme, seguimos Andy Sachs, recém-formada em jornalismo, que consegue o que “um milhão de garotas matariam para ter”: o cargo de segunda assistente da poderosa e temida editora Miranda Priestly na revista de moda Runway. Sem saber nada sobre moda, Andy mergulha num ambiente cruel, competitivo e sedutor — onde terá que escolher entre ser quem é ou se tornar o que o cargo exige.
Segundo fontes próximas à produção, a sequência irá abordar a decadência da revista impressa Runway. Miranda Priestly estaria lutando para manter sua relevância num mundo dominado por influenciadores, algoritmos e conteúdo descartável. Andy, agora bem-sucedida em outra área, e Emily, com novos interesses e mais autonomia, cruzam novamente os caminhos com a antiga chefe — mas em posições muito diferentes. Há rumores de que o novo filme pode adaptar elementos do segundo livro, mas com uma estrutura própria e atualizada, refletindo os dilemas de hoje: cancelamento, disrupção digital, jornalismo de qualidade vs. conteúdo viral, e o que significa poder feminino em 2025.

Durante muitos anos, uma continuação parecia improvável. Meryl Streep declarou mais de uma vez que não estava interessada. Anne Hathaway também não via motivo para um retorno, a não ser que fosse algo “totalmente diferente”. Lauren Weisberger lançou em 2013 o livro Revenge Wears Prada: The Devil Returns, uma espécie de continuação literária que acompanha Andy e Emily dez anos depois, agora sócias de uma revista de casamentos e tentando manter Miranda Priestly à distância. A obra foi sucesso de vendas, mas dividiu opiniões. Muitos leitores sentiram falta do tom cômico e da força fashion do primeiro livro, já que Miranda quase não aparece nas primeiras partes da narrativa.
Tudo mudou em julho de 2024, quando foi revelado que a Walt Disney Studios, atual empresa-mãe da 20th Century Studios, começou a desenvolver oficialmente a continuação que hoje está viralizando nas redes sociais.
Se o original é o guilty pleasure de duas gerações, reassistido compulsivamente até hoje, citado em memes e palestras sobre liderança tóxica, a verdade é que O Diabo Veste Prada nunca deixou a cultura pop. Seu impacto na moda é palpável: o look de Andy se tornando fashionista virou um blueprint. A fala de Miranda sobre o suéter azul cerüleo se tornou análise acadêmica. E a ideia de que “um milhão de garotas matariam por esse emprego” continua relevante em tempos de hustle culture e burnout. Posso falar? Quando era Gerente de Produção e Programação do Canal Glitz, que cobria moda, cultura pop e artigos de luxo na TV por assinatura, na época das semanas de moda, sempre pedia que as matérias explicassem para os leigos os detalhes das tendências como se fôssemos a Andy precisando entender “o suéter azul cerüleo”, menos a passivo-agressividade de Miranda. E funcionava, tá? (Como chefe, nunca vesti nenhum Prada nem metafórico!)
Mas o que não podemos negar é que, assim como And Just Like That, a nova fase de O Diabo Veste Prada surfa na onda da nostalgia com intenção. Não é apenas trazer personagens de volta, mas colocá-los em novos dilemas, mais complexos, mais maduros. O mundo mudou, e essas personagens também mudaram. O que não mudou foi o fascínio do público.
As gravações estão rolando em Nova York, e o lançamento está previsto para 1º de maio de 2026, e já nasce sob expectativas altíssimas. Resta saber se conseguirá capturar o mesmo equilíbrio entre acidez, humanidade e estilo que fez do original um clássico. Mas, se há alguém capaz de provar que relevância é uma questão de atitude (e de escolha de sapato), esse alguém atende por Miranda Priestly.
E sim — florais na primavera ainda não são revolucionários. Mas talvez, dessa vez, o que seja realmente revolucionário… seja o reencontro. O Diabo está de volta. E continua usando Prada. No fim das contas, não se trata apenas de moda — embora seja impossível não suspirar com os figurinos. Trata-se de ambição, identidade, relações de poder e, sobretudo, de como as mulheres negociam sua presença e sua autonomia em ambientes hostis. O Diabo Veste Prada permanece como espelho, sátira e manifesto. E agora, quase 20 anos depois, ainda estamos dispostos a ouvi-lo dizer, com todo o sarcasmo elegante do mundo: That’s all.