O legado de Zita Carvalhosa para o cinema brasileiro de curtas
Fundadora do Festival Kinoforum, ela foi responsável por programas que democratizaram a produção audiovisual

Artistas e profissionais do cinema manifestaram pesar no início desta semana com a morte da produtora Zita Carvalhosa, de 65 anos, fundadora do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, o Kinoforum. A notícia foi divulgada pelo cineasta Francisco Cesar Filho, que também estava à frente da organização do festival. Zita enfrentava um câncer nos últimos anos. O velório ocorrerá nesta quarta-feira (23), das 10h às 16h, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
Zita foi uma figura relevante no panorama do cinema nacional, sobretudo pela atuação na promoção e fortalecimento dos curtas-metragens. Produtora e gestora cultural, dedicou grande parte de sua trajetória à criação de espaços para novos cineastas e à valorização do cinema experimental, acreditando no potencial desse formato para a renovação e amadurecimento da produção audiovisual.

O Kinoforum, idealizado e dirigido por Zita desde sua origem, é hoje um dos principais festivais de curtas do país e referência internacional para o formato. Surgido durante seu período como curadora de cinema no Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS-SP), o festival cresceu e se estruturou com a criação da Associação Cultural Kinoforum, responsável pela continuidade do projeto e pela promoção de ações educativas e culturais, como as Oficinas Kinoforum. Desde 2001, essas oficinas já percorreram 36 bairros em 13 cidades, formando cerca de 2 mil participantes, que produziram mais de 350 filmes, como parte de um esforço constante para democratizar o acesso e estimular a produção audiovisual em diferentes realidades.
Formada em cinema pela Universidade Paris III, em Paris, Zita dirigiu a produtora Superfilmes desde 1983, apoiando a realização de longas e curtas-metragens brasileiros. Entre os títulos que tiveram sua participação estão Carvão (2022), de Carolina Markowicz, Um homem de moral (2009), A casa de Alice (2007), À margem do concreto (2005), Como fazer um filme de amor (2004) e Tônica dominante (2001), entre outros.
Além disso, seu vínculo com a Cinemateca Brasileira foi estreito, por meio de parcerias na realização do Kinoforum e da sessão mensal Kinoteca, consolidando sua presença no circuito cultural e audiovisual do país.
Zita Carvalhosa via nos curtas-metragens um espaço fundamental para o desenvolvimento dos cineastas em início de carreira e para a experimentação artística. Para ela, o formato possibilitava a inovação nas linguagens do cinema, e também fomentava a diversidade de vozes e narrativas no audiovisual brasileiro.