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O que é afro-surrealismo? Entenda o movimento e seus exemplos no cinema

A abordagem combina imaginação, crítica social e cotidiano para revelar camadas profundas da experiência negra no mundo contemporâneo

Por Redação Bravo!
17 nov 2025, 10h38
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 (IMDB/reprodução)
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Para dar conta das complexidades da realidade, muitas vezes é preciso expandir as formas de representação. Isso significa incluir dimensões que nem sempre cabem no vocabulário cotidiano: sonhos, afetos, memórias e percepções que escapam da lógica imediata. O surrealismo nasce justamente dessa necessidade de expressar aquilo que não se explica com facilidade. Há, porém, uma vertente desse movimento que ganhou força e sentido renovado nos últimos anos: o afro-surrealismo.

Ele dialoga diretamente com a história, as vivências e as expressões da população negra, especialmente diante das tensões impostas pela cultura ocidental. Essa abordagem combina imaginação, crítica social e cotidiano para revelar camadas profundas da experiência negra no mundo contemporâneo. Autores e artistas associados ao movimento — entre eles a britânico-nigeriana Irenosen Okojie, reconhecida por suas narrativas experimentais — usam o insólito como ferramenta para investigar identidades, encarar traumas históricos e criar outros modos de imaginar pertencimento.

A expressão Afro-surreal Expressionism foi apresentada por Amiri Baraka nos anos 1970, quando analisava a obra de Henry Dumas, escritor ligado ao Movimento das Artes Negras. Baraka observava que Dumas entrelaçava mitos ancestrais e urgências do presente, construindo uma escrita em que passado e agora se friccionam continuamente.

No cinema, essa linguagem tem se mostrado especialmente potente — muitas vezes de forma sutil. Em vez do fantástico explícito ou do realismo direto, filmes afro-surreais operam por deslocamentos mínimos, situações inexplicáveis ou atmosferas quase oníricas que funcionam como metáforas vivas de tensões raciais, violências estruturais e memórias que insistem em retornar.

Obras como “Corra” (2017), de Jordan Peele, e “Pecadores” (2025), de Ryan Coogler, ilustram bem como essa identidade estética se manifesta na tela.

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Em Corra, cenas comuns — o jantar com os sogros, a visita à propriedade da família branca, o comportamento estranho dos empregados — ganham um aspecto perturbador à medida que pequenos gestos, silêncios e olhares evidenciam um racismo sofisticado e sufocante. Peele usa a hipnose, o “Sunken Place” e a deformação das regras sociais para revelar o terror escondido no cotidiano.

Já em Pecadores, Coogler acompanha o retorno de dois irmãos à cidade natal e transforma esse reencontro com a origem em um território de irrupções sobrenaturais. Lendas locais tomam forma, o passado assume feições físicas e presenças ancestrais interferem no presente. Os elementos fantásticos não são desvios da realidade, mas modos de materializar um pouco daquilo que a comunidade carrega: medos, sonhos, violência herdada e espiritualidade.

Outros filmes também reforçam esse repertório: Atlantique (Mati Diop transforma o mar em força espiritual que retorna à terra), e Random Acts of Flyness (Terence Nance trabalha com humor, sonho e fragmentação para questionar identidade e corpo negro).

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Em todos esses casos, o extraordinário nasce dentro de cenários reconhecíveis — casas, ruas, famílias, rituais cotidianos — para iluminar tensões históricas, medos profundos e estruturas de poder que organizam a experiência negra. 

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