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Crítica: O que esperar do novo filme “Nosferatu”

Bravo! assistiu ao novo filme de Robert Eggers que está em cartaz nos cinemas brasileiros

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 10 jan 2025, 12h12 - Publicado em 10 jan 2025, 09h00
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Lily-Rose Depp (© 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução)
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Para os fãs de filmes de terror, o novo Nosferatu, dirigido por Robert Eggers, é certamente um dos lançamentos mais aguardados de 2024. No Brasil, o filme chegou aos cinemas em 2 de janeiro, uma estreia tardia, mas que já é considerada uma das melhores produções do ano, mesmo em meio a grandes blockbusters como Wicked e Gladiador 2.

A expectativa é justificada. Eggers, conhecido por sua habilidade em criar atmosferas aterrorizantes em filmes como A bruxa (2015) e O Farol (2019), mantém sua marca registrada com uma estética inconfundível. Embora seja um filme de terror, Nosferatu é também um dos filmes mais visualmente deslumbrantes do ano. Cada cena é minuciosamente planejada, desde o enquadramento e a iluminação até a trilha sonora. Tudo serve a um único propósito: intensificar o clima de pavor que permeia a história.

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Lily-Rose Depp (© 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução)

A trama acompanha Thomas Hutter (Nicholas Hoult), um agente imobiliário que viaja até a remota Transilvânia para concluir a venda de uma propriedade ao misterioso Conde Orlok (papel de Bill Skarsgård). Ao chegar ao castelo, Hutter descobre que Orlok é, na verdade, um vampiro, uma criatura sombria que se alimenta de sangue humano. O vampiro se interessa por Ellen (Lily-Rose Depp), esposa de Hutter, e exige a presença do agente imobiliário no castelo. Orlok consegue enganar Hutter, fazendo com que ele assine um contrato no qual renuncia a sua esposa. Hutter se vê então prisioneiro no castelo, enquanto Orlok segue para Wisborg, cidade natal de Ellen, e leva com ele uma praga que ameaça todos os habitantes. O objetivo de Nosferatu é capturar Ellen. Então ele faz uma proposta: se ela não aceitar sua oferta em três dias, ele matará todos os que ela ama, incluindo seu marido.

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(© 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução)

A trama lembra bastante a história de Drácula, romance de Bram Stoker, publicado em 1897. O mais curioso é que o primeiro filme de Nosferatu, lançado em 1922 pelo cineasta alemão F.W. Murnau, foi inteiramente adaptado após o diretor não conseguir os direitos autorais de Drácula. Embora haja muitas semelhanças narrativas, os dois vampiros têm construções bem distintas. Nosferatu, nos primeiros filmes, é uma figura horrenda, que se assemelha mais a um rato, com presas que lembram as de um roedor.

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Essa versão é ainda mais sombria que as adaptações anteriores de Nosferatu, lançadas em 1922, e em 1979, por Werner Herzog. A nova abordagem aprofunda a construção de uma figura demoníaca, muito mais assustadora do que suas versões passadas. Nesta montagem, Nosferatu é descrito como um feiticeiro tão maligno que até o próprio demônio roubou sua alma para mantê-lo em vida. A caracterização do personagem de Bill Skarsgård, até agora mantida em segredo, gerou grande curiosidade. Algumas imagens geradas por inteligência artificial tentaram antecipar seu visual, mas nenhuma delas chegou perto da versão final.

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(© 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução)

O vampiro tem um rosto mais humano, com traços que lembram um aristocrata russo. Seu tamanho é descomunal e sua voz, extremamente grave, provoca temor com apenas sua presença.

Outro destaque do filme é o tom erótico atribuído à personagem Ellen Hutter. Desde o início, ela é apresentada como uma figura delicada, pura e sensível, mas que tem uma conexão profunda com o sobrenatural, expressa através de sonhos e visões. Desde cedo, Ellen sente que algo sombrio está prestes a acontecer. Ela é profundamente apaixonada e emocionalmente dependente de seu marido, sendo somente quando está perto dele que consegue acalmar suas visões.

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Lily-Rose Depp (© 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução)

Nos seus sonhos, uma faceta mais sensual de Ellen emerge. É nesse estado onírico que ela encontra Nosferatu, uma figura que mistura monstruosidade e desejo. É ela que o evoca. Embora o filme não explore as cenas de sexo de forma tão gráfica, vemos a personagem transitar entre delírios de prazer enquanto dorme. 

Uma das qualidades mais marcantes da produção é a atuação de Lily-Rose Depp, que, nas versões anteriores, teve sua personagem retratada de maneira mais reservada e em segundo plano. Em Nosferatu, Ellen enfrenta uma série de desafios que colocam sua vida em risco. Sua sensibilidade extrema a torna mais vulnerável a possessões demoníacas, e, com a chegada da noite, ela perde o controle sobre seu corpo, como se não estivesse mais no comando de si mesma. As cenas de possessão são impressionantes, exigindo da atriz um grande domínio físico e expressivo.

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Lily-Rose Depp (Aidan Monaghan / © 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução)
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A história se passa nos anos 1830, período em que a ciência começava a ganhar força em relação ao misticismo e à religião. Quando a doença de Ellen é diagnosticada como de natureza espiritual, surge o ceticismo daqueles ao seu redor. É nesse contexto que entra o cientista místico Prof. Albin Eberhart Von Franz (referência indireta à psicoterapeuta e acadêmica Marie-Louise von Franz, colaboradora de Carl Jung), interpretado de forma magistral por Willem Dafoe. Ele recorre a estudos de necronomancia, magia negra e alquimia para conseguir enfrentar o vampiro.

No entanto, apesar das várias qualidades, há aspectos que merecem reflexão no novo filme. Um deles é o subaproveitamento de Bill Skarsgård, que vem se consolidando como uma das grandes promessas do terror moderno. Sua caracterização como Nosferatu limita a visibilidade de seus traços faciais, e sua voz, provavelmente modificada por efeitos sonoros, acaba obscurecendo sua atuação. Além disso, as cenas em que Nosferatu aparece são tão escuras que, frequentemente, é difícil discernir seu rosto. O que começa como uma figura envolta em mistério vai se dissipando e enfraquecendo ao longo da história.

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(© 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução)

Por ser um filme de horror gótico, ele peca na hiperssexualização das personagens femininas, remetendo vagamente aos filmes de terror das décadas de 1970 e 1980, incluindo os do brasileiro Zé do Caixão. Esse elemento acaba tornando a obra retrógrada.

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Outro aspecto a ser considerado é o ritmo do filme. Embora o início provoque uma grande tensão até o encontro com Nosferatu, essa tensão diminui depois que o vampiro aparece, tornando o que antes era aterrorizante em algo quase cômico.

Apesar desses pontos, Nosferatu merece o reconhecimento que vem recebendo. Eggers provavelmente ampliará ainda mais sua projeção, consolidando-se como um dos maiores diretores de terror da atualidade, que consegue imprimir primor artístico e estético em seu novo filme. Além disso, ele consegue devolver alguma dignidade aos filmes de vampiros. 

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